Manaus, 28 de março de 2024

ZFM, o caminho das águas

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Para Joseph Schumpeter (1883-1950), um dos maiores teóricos da Ciência Econômica de todos os tempos, o sistema capitalista alimenta-se de transformações econômicas que se processam em ciclos. O impulso fundamental que põe e mantém em funcionamento a máquina capitalista procede dos novos bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados e das novas formas de organização industrial criadas pela empresa capitalista. Trata-se de um processo de mutação industrial que revoluciona incessantemente a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo o antigo e criando elementos novos. Schumpeter afirmava que esse processo de “destruição criadora” é que impulsiona e transforma a economia em movimentos incessantes.

O mundo evolui sofrendo choques, retro-alimentando-se de seus erros, fracassos e acertos. Mesmo que as mudanças gerem cenários de incertezas, e as adversidades cheguem a tamanhos jamais imaginados. Não importa. Necessário se torna deixar fluir as mudanças e delas extrair novos paradigmas que irão tanger os ciclos subsequentes. Em relação à Zona Franca de Manaus, torna-se ainda mais importante abrir as mentes das lideranças e reconhecer a baixa capacidade do governo no que tange a investimentos em políticas de longo prazo capazes de conciliar ações estratégicas pragmáticas. O atual clichê de que o PIM vem crescendo e os incentivos sendo prorrogados não mais atendem aos anseios do modelo numa economia altamente competitiva com a qual necessariamente tem de interagir.

Tenho observado de forma insistente neste espaço que a prorrogação do prazo de vigência da ZFM não representa mais do que uma etapa na perspectiva de longo prazo de um complexo processo de evolução e ajuste aos padrões tecnológicos em curso no século XXI. Há espaço para crescer, para avançar e superar os estágios conquistados até este momento. Daqui para frente as expectativas são outras, sobretudo porque ditadas no seio de um mundo altamente competitivo e que se sustenta de acordo com a capacidade das empresas e do governo de se ajustarem aos novos tempos.

Há necessidade de diversificar o modelo industrial vigente em que os produtos de nossa biodiversidade assumam papel de protagonistas. O que virá diretamente beneficiar as populações do interior dado o potencial de gerar alternativas de emprego e renda. A Amazônia é o maior celeiro de bens que podem ser processados com matérias primas regionais aqui abundantes, mantendo-se a integridade de nosso ecossistema. Para o alcance do objetivo, contudo, precisa-se ter em mente a forte demanda de investimentos em ciência, tecnologia e inovação; no aprimoramento de nossa universidade, na formação de engenheiros e mão de obra técnica especializada em quantidade e qualidade de tal ordem a sustentar o processo de modernização e reciclagem da atividade econômica regional.

O senador Bernardo Cabral, em sua coluna de A Crítica, domingo passado, levanta premissa que entendo fundamental em relação à água, como ele a classifica, “o ouro do século XXI”. Escreveu Cabral: “o Brasil é o país que tem a maior disponibilidade superficial de água doce do planeta. Mais de 80% dessa disponibilidade se encontra na Amazônia”. Logo, conclui, “um modelo de gerenciamento de recursos hídricos deve levar em consideração a forte interação entre água e o Bioma Amazônico”.  Deve também “aprofundar a concretização de modelo de gestão adaptado às características e às dimensões da região”. Esta alternativa impõe-se ao governo, universidade, centros de pesquisa e classes empresariais no que tange à construção de um futuro seguro para nossa região. Diante do agudo quadro de escassez que o recurso vem sofrendo no Brasil e em muitas partes do  mundo, sua exploração racional e sustentada configura novo e sólido caminho que se abre como fonte geradora de riqueza na região. Ou o Brasil investe nesse campo, ou alguma potência o fará.

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