Manaus, 29 de março de 2024

ZFM, biotecnologia e bioengenharia, o futuro

suframa
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 “Nunca me esquecerei desse acontecimento. Na vida de minhas retinas tão fatigadas. No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra. No meio do caminho tinha uma pedra”. Carlos Drummond de Andrade.

Transcorridos 48 anos desde 1967, quando foi instituída, o cenário contemporâneo da Zona Franca de Manaus faz vislumbrar a fatigadas retinas vigilantes que profundas mudanças conjunturais processam-se mundial e internamente. Confrontos inevitáveis, transcendentes a um simples tropeço numa pedra colocada “no meio do caminho”, vêm se materializando  aqui e ali. E desta forma avisam que novos desafios estão por vir, exigindo de quem de direito enorme esforço de adaptação e ajuste a uma realidade até então estranha aos padrões político-econômicos vigentes.

São muitas e diversificadas as “pedras” que se acumulam no caminho da ZFM no momento em que o “modelo de desenvolvimento” desponta na reta de chegada rumo a 2017, quando serão celebrados seus 50 anos. E quais são essas “pedras”,  precisamente?  Uma das mais importantes, a fadiga de materiais a que chegou o modelo, que se esgotou, estando a demandar reestruturação conceitual e planejamento de longo prazo.

Pesquisando artigos escritos por colegas economistas publicados por A Crítica em cadernos comemorativos dos aniversários de 10, 15, 20, 30, 40 anos da ZFM verifiquei que as análises críticas centram-se, ao longo das décadas, exatamente no mesmo ponto: déficits acumulados nos investimentos em modernização industrial, em ciência, tecnologia e inovação como meios de promover a competitividade internacional do PIM; paupérrima infraestrutura de transporte, portos e logística; débeis políticas econômicas visando à modernização da  agropecuária, setor com forte capacidade de geração de emprego e renda, e, portanto,  de fazer face ao êxodo rural responsável pelo inchaço atual da capital e sedes municipais.

Superar os pontos de estrangulamento que acorrentam a Amazônia e a ZFM, impedindo de evoluir ao encontro das vocações naturais proporcionadas pela biodiversidade da região, depende apenas da implantação de um sistema de governança da infraestrutura de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) aqui instalada. Esse passo não é fácil, nem barato. Além de demandar fortes investimentos, exige mudanças de visão, de paradigmas que ultrapassam interesses políticos cartoriais de curto prazo.

Em entrevista concedida à coluna Follow Up, mantida pelo Centro das Indústrias do Amazonas, em seu Site, o cientista Niro Higuchi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) analisa alternativas de matriz econômica que se oferece à Zona Franca de Manaus. Defende claramente a necessidade de definir um novo modelo, com regras claras sobre “a destinação dos recursos aqui produzidos para consolidar um modelo alternativo”.

Para o cientista Niro Higuchi, esse novo modelo, “além da madeiras, dos genomas e dos minérios, encerra a do conhecimento do processo evolutivo de milhões de anos na biodiversidade. Entender esse processo, acompanhar e partilhar as operações ocorridas no bioma amazônico, é extrair a chave de milhares de enigmas no cotidiano da humanidade”. Prosseguindo sua análise, Higuchi avalia: “O projeto Genoma, do qual cientistas do Brasil participaram, é um exemplo singular do que estou falando. Assim como no Vale do Silício, a premissa é colocar gente talentosa, e inteligente para produzir soluções, exportar conhecimento, a partir dos talentos e da bagagem de mais de 20 mil anos de relacionamento entre o homem e a floresta. O vale da Biotecnologia, da bioengenharia genética, para equacionar os enigmas que atormentam a espécie humana é nossa maior vocação de negócios”. Eis a chave, o caminho e os meios que sustentarão o futuro da ZFM.  Afinal, segundo Tomasi di Lampedusa, em O Leopardo, se queremos que tudo fique como está, é preciso que mude tudo.

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