Anísio Mello*
À margem de um grande rio
repousa uma lembrança:
Velha Serpa encantada,
cidade onde nasci,
mirante do passado,
e velhas tradições
Eu fui o canoeiro que passou distante
sem poder aportar.
A correnteza da vida carregou-me
e eu fui levado ao léu,
rio abaixo,
na correnteza inclemente,
sem poder esquecer a Velha Serpa
das lendas e das tradições.
Da Velha Serpa que foste no passado,
cidade encantada do Rio-Mar,
ficaram tradições imorredouras
para a moderna Itacoatiara que hoje és.
Do teu cais, do teu rio,
os barrancos molhados,
trago comigo na festa da lembrança
a recordação perenal porque tu és
a cidade-mãe que me acolheu no berço.
Velha Serpa querida, Itacoatiara,
mostraste-me a luz primeira e o céu azul
e em teu solo recebi o beijo maternal
a vez primeira,
e o carinho das canções maternas,
entoadas com doçura.
Itacoatiara – Velha Serpa!
mirante do passado
e velhas tradições!
*Anísio Thaumaturgo Soriano de Mello (1927-2010). Poeta e artista plástico itacoatiarense, membro da Academia Amazonense de Letras. Poema escrito em São Paulo a 28.03.1961, consta do livro Convite à Poesia, in memorian, Manaus, 2011. Orgulhava-se muito de sua terra, daí que proclamava: “Sou um marupiara porque nasci em Itacoatiara.”