Manaus, 28 de março de 2024

Sábado de Aleluia. Houve brigas e tiros

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Sábado de Aleluia. Ligo para meu amigo Chaguinhas. Estava em seu sítio. Todo ano Chaguinhas passa a Semana Santa em sua pequena propriedade na região de Rio Preto da Eva. E obriga-se a uma vigília. Não necessariamente a vigília Pascal. Mas a inusitada vigilância de seu galinheiro, para evitar os tradicionais furtos de galinhas na Semana Santa.

Roubar galinhas, na madrugada da Sexta-Feira Santa para o Sábado de Aleluia é um costume antigo. Uma prática ainda frequente em algumas cidades brasileiras. Aqui em Manaus e em muitas cidades tem sido raro dada a inexistência de criações devido a urbanização. Diferente de outros tempos em que era comum criar animais na área urbana. Mas ainda acontece. No interior o costume é mais presente. Que o diga Chaguinhas.

Segundo o jovem historiador Fábio Augusto de Carvalho Pedrosa, a explicação para esse antigo costume se deve a crença de que Jesus estando morto, ressuscitaria só no Domingo de Páscoa.  Deus não poderia ver os pecados dos ladrões de galinhas. Assim, seus “crimes” podem ser praticados sem medo ou culpa.

Outra tradição, essa mais recorrente, é a malhação de judas, também no Sábado de Aleluia. Enforca-se um boneco em um poste, normalmente do tamanho de um homem. Usa-se serragem, trapos ou jornal na confecção. Depois o boneco é estraçalhado e até mesmo queimado. No Brasil é comum enfeitar o boneco com máscaras ou placas com o nome de políticos, ou qualquer personalidade não tão bem aceita pelo povo. A vítima pode ser também um vizinho malquisto.  Meu pai proibia essa prática, por considera-la ofensiva.

Talvez a brincadeira mais antipática praticada na Semana Santa é o “serra velha” ou velho. A vítima idosa recebe a visita dos brincalhões que se postam diante da casa da velha ou velho. Começam serrando uma tábua ou lata. Os demais acompanham o ronco e o ruído da serra em gritos, lamentos e prantos. “Serra a velha (ou o velho)”, gritam todos. Ninguém gosta da brincadeira. É mau agouro. Reza a lenda que velho serrado não chega à quaresma seguinte.

O fato é que gente que cria galinha como Chaguinhas, político ou celebridade mal quista e velho rabugento sofre com os perrengues durante a Semana Santa. Chaguinhas me relata que com o país polarizado em disputas ideológicas, as brincadeiras provocaram brigas e até tiros país afora. Mesmo plena pandemia!

II

Franceses – Bien Venue

Conversávamos por whatas app. Eu e meus amigos Chaguinhas e Tibério. Chaguinhas é um homem com grandes pendores de liberalismo. Acha que o estado brasileiro é muito gordo e deve emagrecer. É favorável às privatizações. Achou que foi bom o nosso Aeroporto de Manaus Eduardo Gomes ter sido privatizado. Já Tibério que já foi envolvido com sindicatos, mas hoje não quer saber de política, em princípio é contra privatizar.

Lembrou que os franceses já administraram nossa água e saneamento. Deixaram a desejar. Segundo Tibério a multinacional francesa Suez que sucedeu a COSAMA não investiu o que deveria. Manaus é uma das piores cidades em coleta de esgoto. Grande parte da população ainda não é beneficiada  com saneamento básico.

Lembrei-lhes que os franceses são cartesianos. Costumam ser racionais e metódicos. Vi um filme em que um grupo de seis amigos comemoravam o aniversário de um deles. O bolo foi dividido em exatos seis pedaços pela anfitriã. Eles são extremamente competentes em “partagés”, que significa dividir, compartilhar. Tibério me interrompe e concorda que são assim só entre eles.

Já Chaguinhas, que adora a cultura francesa, lembrou dos jardins de Versailles. Os jardins deles têm a formalidade como característica. Círculos, retângulos, quadrados e triângulos apresentam simetria perfeita. Vão transformar o nosso Eduardo Gomes. Vai ficar uma beleza!

Lembrei-lhes, ainda, de um programa de entrevistas na TV francesa. O entrevistado era um rapaz. Ao ser perguntado a idade o jovem respondeu que tinha dezesseis anos e meio. Nenhum garoto brasileiro daria uma resposta dessas.

Todos nós concordamos que os franceses cultuam muito a filosofia pregada por René Des Cartes. Ora o grande matemático francês pregava que nunca se deveria acreditar no falso. As coisas devem ser totalmente fundamentadas na verdade. Des Cartes tinha preocupação com a clareza. Acreditava em coisas práticas e nada de especulativo.

Essa filosofia é totalmente contrária à nossa caboquitude, segundo Tibério. Vai ser como o saneamento. Não vai dar certo.

Já Chaguinhas acha que os franceses são formidáveis e será bom para Manaus a chegada deles para administrar nosso aeroporto. E concluio:

-Franceses. Bien venue!

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