Manaus, 18 de abril de 2024

Romance do banho

Compartilhe nas redes:

Era morena tostada,

forte, esbelta como um cão,
os cabelos eram claros

de saboroso castanho;
longas tiras escorriam

na costa vincada em curvas
– eram cobras encravadas
no dorso de uma raiz;

o calcanhar era firme,

seu andar arroliçado,

as ilhargas mal roçavam
nas pregas da saia fina.

Fendeu-se o cerrado verde
de patativas e anus,

filhos de caba, sol quente,
ventos gerais, água e mel;
ela vinha – balde, cuia,
dentes expostos, carnudos
os lábios, flor de papoula
a cantar e a se despir.

Ela vinha, mas menino
balador de passarinhos,
não sabia descobri-Ia;
pressentia apenas vagos
sons das patas elegantes

dos poldros do meu instinto,
rachando cones de pedra

no meu raciocínio mole.

Ela esfalfou-se nas águas,
misturou-se com os peixes,
camarões a beliscaram,
escamas, pés, gumes virgens;
o relampejo das palmas
como línguas de uma faca;

a sombra escura no fundo,
as coxas alvas e turvas;
peixes, menina de banho,
anáguas brancas ao sol.

Visits: 27

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques