Manaus, 29 de março de 2024

Rico-riqueza e Pobre-pobreza

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Nas notas da segunda edição do “Miniaurelio século XXI”, os editores da Nova Fronteira escreveram: “Informação, educação e cultura são os alicerces de uma sociedade justa e desenvolvida tanto no aspecto econômico, cientifico e tecnológico quanto no social e humanístico”.

Já no “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, publicado pela Editora Objetiva em 2009, os editores incluíram entre as epígrafes, uma frase de Manuel de Barros que diz: “Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao fóssil ao ouro que trazem da boca do chão”.

Nesses que são os mais importantes dicionários de nossa língua, existem definições similares dos vocábulos “rico”, “pobre”, “riqueza”, e “pobreza”, que transcrevo para formatar a conjuntura deste texto.

 

DEFINICÕES

Para os dicionaristas, “rico” é aquele que possui muitos bens, muito dinheiro ou muitas coisas de valor; “pobre” é aquele que é desprovido ou mal provido do necessário; “riqueza” significa o conjunto dos bens econômicos que tenha utilidade como tal, que atenda às necessidades humanas ou que seja passível de domínio e “pobreza” é falta daquilo que é necessário à subsistência.

 

DESENVOLVIMENTO E LIBERDADE

O economista indiano Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia (1998) em seu livro “Desenvolvimento como liberdade” (Companhia das Letras, 2000), define pobreza como “privação de capacidades básicas em vez de meramente como baixo nível de renda, que é o critério tradicional de identificação da pobreza”. O autor – um dos mais importantes pensadores sobre desenvolvimento – acrescenta que a “pobreza pode ser identificada em termos de privação de capacidades e essas privações são intrinsecamente importantes em contraste com a renda baixa que é importante apenas instrumentalmente”. Essa reflexão leva ao conceito de “pobreza real” que vai além do baixo nível de renda, já que ela não é o único instrumento de geração de capacidades. Em resumo, o autor relaciona pobreza não apenas com poder econômico, mas principalmente com ausência de liberdades substantivas. E isto resgata os conceitos adicionais incluídos nas notas e epígrafes dos dicionários brasileiros citados acima.

 

REFLETINDO SOBRE ISSO

Como as palavras têm espessuras várias, viajo pelas conjunturas onde são empregadas e associo as  definições semânticas dos dicionaristas ao conceito desenvolvimentista formulado por Amartya Sen, refletindo sobre a riqueza potencial da Amazônia e a pobreza real de sua gente.

A evolução do Planeta nos presenteou com uma megabiodiversidade que, do ponto de vista legal pertence ao povo brasileiro, mas que não pode gerar riqueza e promover a conquista das liberdades substantivas, por conta de interpretações retrógradas, de ufanismos insanos e de um patriotismo inculto.

Abandono o campo teórico e viajo para a Manaus antiga, supostamente rica, quando a exploração de recursos naturais engordava o bolso de uma casta privilegiada, em contraposição à quase totalidade da população que, com baixa ou nenhuma renda, ficava impossibilitada de usufruir daquilo que Amartya Sen definiu como liberdades substantivas e que, no passado podia ser entendida como direito à saúde, educação, lazer, alimentação, qualidade de vida, conquistas individuais, etc.

Dessa Manaus antiga trago um exemplo emblemático: quando ainda não havia geladeiras, um homem humilde, usando sua carroça, vendia pedras de gelo pelas ruas da cidade. Todo mundo o conhecia como Felipe Geleiro, solitário e pobre, que vivia em um barraco, mas que, ao morrer, deixou a descoberto uma pequena fortuna em dinheiro que guardava em malas ou no colchão sobre o qual dormia. Ele era um pobre homem rico ou um rico homem pobre, assim como a população do Amazonas que possui uma imensa riqueza biológica e não pode usa-la por conta de inaceitáveis e retrógradas interpretações políticas (no mau sentido) que impedem a conquista das liberdades substantivas, que são substituídas pelo modelo “bolsa esmola” que não dá riqueza, nem dignidade, nem liberdade substantiva a quem recebe, embora seja propulsora de votos para esse grupo político que governa o Brasil sem rumo ético e sem bases teóricas.

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