Manaus, 29 de março de 2024

Porto e retroporto internacional

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Nenhum governo ainda demonstrou vontade política para debater e colocar em prática o tema da logística de transporte na Amazônia, especialmente no interior, e nem consegue ter a visão da construção de um porto fluvial moderno e sustentável que pudesse dar conta da grande demanda por transporte de produtos do Polo  Industrial de Manaus que viabilizasse tanto a importação quanto a exportação, baixando o preço do frete e, consequentemente, facilitando a venda dos produtos ao consumidor final, diminuindo o custo Brasil.

Geralmente os governos estaduais sempre estiveram preocupados com o continuísmo político do velho assistencialismo, criando vergonhosamente programas para mascarar e manter a hegemonia de determinada “escola” no poder, que serve para manter o povo na miséria e cabide de emprego para ex-prefeitos que ficaram fora do circo. Foi assim com o Terceiro Ciclo, Zona Franca Verde e o Amazonas Rural para onde vultosas somas foram jogadas sem que nosso caboclo tivesse direito de questionar e propor soluções econômicas, sociais e sustentáveis no interior da região.

Em um Estado em que população é analfabeta em sua grande maioria, os governos sempre triunfaram sobre um povo pobre e sem consciência democrática da alternância administrativa. No entanto tais grupos políticos sempre marcaram passo na inteligência, optando pelo toma lá, dá cá de sempre, apesar de solitários estudos de visionários que já defendiam proposições sobre o tema há tempos infelizmente nunca colocado em pauta para uma discussão, embora os políticos fossem sabedores de tal viabilidade.

Não obstante as três esferas governamentais nunca terem dado a devida importância, uma cidade chama a atenção pela localização estratégica, podendo até vir a ser um polo de logística regional, citada pelos antigos cronistas coloniais como Carvajal e Acuña em suas expedições ao Amazonas. Somente os políticos daltônicos fizeram e fazem questão de não enxergar e reconhecer o fato, pois até os caboclos sabem que, por causa da calagem observada em um determinado regime do rio Amazonas, os navios só podem navegar até Manaus com 50% da capacidade de carga, o que influi, decisivamente, para o encarecimento dos produtos no mercado, por causa dos custos de produção.

Para Fernando Nélson, agente portuário e irmão do saudoso engenheiro Nelson Neto, um porto é um empreendimento natural para ancoragem de navios, que contempla o fluxo de passageiros, embarque e desembarque de mercadorias. No entanto o retroporto já é mais comercial e industrial, com espaços destinados à paletagem, área de estocagem e armazéns, na área portuária. E, claro, deve ser construído pela engenharia naval, mas levando em consideração as peculiaridades regionais, com segurança náutica e alta tecnologia, em vista de um tributário encontrar-se com o Amazonas, logo acima, produzindo com a vazão, muita correnteza a beira-mar, e que também deve ter instalações amplas e modernas, inclusive uma oficina de reparos, assim com o fez o Barão de Mauá, em meados do século XIX, na Colônia Agroindustrial da vila de Serpa, atual Itacoatiara.

Com a sinalização da Hidrovia do Madeira, associada ao movimento do complexo industrial da capital amazonense, eis a alternativa natural para minimizar o custo Brasil, observando que a prática já ocorreu com a retomada da construção, 1903, da Ferrovia Madeira-Mamoré, quando estruturas de ferro como dormentes, etc., trazidas da Europa e dos Estados foram armazenadas no prédio da Companhia Inglesa Agropastoril – monumento histórico em estilo normando edificado na avenida Quintino Bocaiuva, na orla da urbs itacoatiarense (mais tarde hospedaria a família do imigrante português Óscar Ramos e sediaria a casa comercial Ilídio Ramos & Irmão, daí por que hoje é conhecido como Casarão dos Ramos) para posterior embarque em alvarengas com destino ao Território Federal de Guaporé, atual Estado de Rondônia.  Para maior elucidação do assunto, aconselho a leitura do livro Cronografia de Itacoatiara, volume 01, do meu conterrâneo e amigo Francisco Gomes da Silva.

Mas foi o engenheiro amazonense Torquato Tapajós quem defendeu a ideia da construção de uma via ferroviária ligando Itacoatiara a Manaus. Só podia mesmo ser a solução proposta por um poeta, mas ninguém acreditou nesse visionário que já sonhava, naquela época, com a integração amazônica reunindo os inúmeros modais de transporte e, deste modo, propiciando descentralizar o desenvolvimento para o interior. Ele já sabia que a Natureza tinha sido pródiga com a Velha Serpa (observar que somente a partir da localidade Tabocalzinho, a montante da cidade, o leito do rio demonstra-se composto por rochas, obstáculo natural que impede os cargueiros de navegar com carga bruta).

Na década de 80 o estudo sobre os resultados do PDLIS – Plano de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável ainda era de difícil acesso à população. Porém, a Constituição de 1988 assegurou a participação das comunidades nas discussões de políticas públicas, tendo como alvo subsidiar a implantação de projetos, mas com representação paritária. Conforme elucida a doutora em sociologia Adriane Vieira Ferrarini, o objetivo deste é a busca por uma metodologia que supere a pobreza, onde a população exerça a cogestão, tendo como alvo, a melhoria das condições dos indicadores econômicos e sociais.

Porém irreversivelmente com a duplicação da Rodovia Vital de Mendonça, os pequenos e médios negócios já existentes no município serão ampliados e implantados novos, aproveitando-se até a malha das vicinais. Todavia, é necessário o rebaixamento do Linhão de Tucuruí até a sede do município para suprir a demanda por energia na zona dos empreendimentos, aproveitando logo o Plano Diretor para estruturar o design de um anel viário que conecte e desloque o transporte pesado da área urbana; já no outro modal, deve ser utilizada a estrutura portuária como corredor de exportação da silvinita e do potássio, industrializados em Nova Olinda e Autazes. Com a aprovação técnica do IPAAM – Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas que é o órgão responsável pelo Zoneamento Ambiental, e observada a viabilidade quem ganhará é o Médio Amazonas no aspecto social, político e econômico, modelo que, logrando êxito, servirá de case para as outras mesorregiões do Estado.

A Universidade ainda não propôs uma discussão para a tese, mas espera-se que as lideranças universitárias se esforcem para mudar o cenário contemplativo em que vivem e produzam ações que articulem, com outras instituições, ideias de mudanças que possam melhorar a vida da população do município com a instalação do fórum permanente Itacoatiara: Centro do Debate. Essa discussão era muito difícil quando no município não havia Universidade, pois os estudantes eram obrigados a cursar o ensino superior em outros estados. Contudo as comissões protocolaram inúmeros documentos, realizando movimentos que reivindicavam a graduação e até a pós-graduação para o polo. Já está na hora da contrapartida, afinal não é aí que é o berço dos caras pintadas?!

Fazendo-se uma retrospectiva da História de Itacoatiara dá orgulho lembrar a memorável luta de Damaso de Souza Barriga, que exerceu nos idos 1862/1876 o mandato de deputado provincial, representando o município, em que propôs a retomada do titulo de vila à antiga freguesia de Serpa. Quando discursava o plenário ficava em silêncio, naquele período.

Saudades da luta incansável da professora Dadade, (Raimunda Menezes de Vasconcellos Dias) primeira mulher a ser eleita vereadora em nosso país; como presidente da Câmara, constituiu um gabinete feminino em seu governo, numa época em que era altíssimo e fato gritante o preconceito contra a mulher; saudades das lutas desempenhadas pelo saudoso deputado João Valério de Oliveira, que foi perseguido pela ditadura militar iniciada em 1964; ao lado de seus companheiros (anos 1950/1960) José Mendes, Acácio Leite, Alberto Batista, Arnóbio Oliveira e outros, fizeram ‘balançar’ o parlamento estadual. Destaque para a luta de Paulo Pedraça Sampaio e Argos do Amaral Valente: como vereadores enfrentaram inquéritos do regime de força e chegaram a ser trancafiados no quartel do Comando Militar, em Manaus. Infelizmente o município, hoje, não tem representação política, mas já chegamos a dominar a Assembleia Legislativa.

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