Manaus, 16 de abril de 2024

Político sisudo

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“Esse político que, mesmo tendo obtido bons resultados nas urnas eleitorais para vários cargos, e sido governador, jamais abriu um sorriso para convencer eleitores.

É comum dizer-se, de há muito e ainda agora, que todo o político tem o hábito de distribuir sorrisos, abraços, apertos de mão, afagos, cumprimentos de toda a ordem, notadamente no tempo das eleições, quando se põe a precisar do voto do eleitor, seja ele da idade que for, dispute o cargo que disputar. Trata-se, então, de ser simpático o que se transforma em carisma, e tem sido característica dessas pessoas, nem sempre natural, a qual, aqueles que pretendem conquistar votos, acabam procurando aderir.

O que se sabe, entretanto, é que por nossas bandas, não faz muito tempo, um político, em particular, fez carreira e chegou ao topo da pirâmide estadual sem jamais esboçar um sorriso, pelo menos em público, pois a sua característica sempre foi essa: sisudo, circunspecto, pelo menos em público, aliada a outras muito bem recomendáveis como serenidade, lealdade e honestidade com todo o rigor.

Nascido em outras terras, chegou a Manaus na companhia dos pais quando ainda menino bem pequeno, pelos seus quatro anos de idade, e aqui permaneceu até os 65, quando veio a falecer, tendo experimentado duas boas escolas de formação de políticos: o Ginásio Amazonense Pedro Il e a Faculdade de Direito do Amazonas, nos bons tempos das agitações juvenis.

Depois de haver trabalhado nos Correios, foi promotor de justiça pelo interior do Estado, juiz de Direito e consultor jurídico de empresa privada, em Rondônia, delegado e chefe de polícia em Manaus ao tempo da rebordosa revolução de 1930, procurador jurídico do Instituto dos Comerciários, depois disso iniciaria sua carreira em funções de cunho político como secretário geral do Estado e interventor federal, interino, seguindo-se os mandatos de deputado federal, deputado estadual, presidente da Assembleia, vice-governador e governador em exercício, por inúmeras vezes, completando mais que um mandato inteiro em sucessivas substituições em vários governos.

De permeio publicou discursos e estudos no campo das ciências jurídicas, mas este não foi seu ponto forte, apesar da tradição do pai que foi um dos maiores advogados em nossa terra, fixando-se na vida pública na direção de partido político e a receber toda e qualquer pessoa interessada em assuntos públicos de um jeito especial: de pé, no corredor do prédio da Assembleia e, muitas vezes, conversando em voz alta para que não restassem dúvidas a terceiros sobre o teor da conversa. Com ele não havia cochicho, conversa de pé de ouvido, assuntos reservados ou interesses inconfessáveis.

O conheci meio à distância, posição própria da minha idade naqueles anos, embora convivesse com certa proximidade com seu irmão do peito, mas sobre ele ouvi muitas histórias contadas por um seu sobrinho e meu querido amigo, Hamilton Cidade, daqueles que partiu cedo demais, deixando enorme vazio para quantos o conheceram.

Foi com seu nome que, certa feita, atendendo a pedido da então deputado Maria do Socorro Dutra Lindoso, redigi projeto de resolução que criou uma medalha do mérito no Poder Legislativo, e, na justificativa, pude exprimir fundamentos que traduziram a personalidade de Ruy Araújo, esse político que, mesmo tendo obtido bons resultados nas urnas eleitorais para vários cargos, e sido governador, jamais abriu um sorriso para convencer eleitores por meio da simpatia pessoal, e os convencia pela sua seriedade, competência e muito trabalho.

Eram outros tempos, é verdade.

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