Manaus, 16 de abril de 2024

Pela democracia

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Todos nós que acreditávamos ser possível construir um partido político popular capaz de mudar o Brasil, vivemos, neste momento em profunda tristeza …

…. Nos anos 70, ainda em plena ditadura, quando começamos a construir o PT – Partido dos Trabalhadores, imaginávamos que o processo de construção da futura democracia brasileira passava necessariamente pela existência na cena política nacional de um novo componente, de um partido político moderno e sólido, enraizado nas camadas mais pobres da sociedade.

O que o nosso país experimentara até então, sem falar no falso e domesticado bipartidarismo da Ditadura Militar sanguinária que nos submetia, era a do populismo pré-64. A longa e atrasada tradição do getulismo; das ações de manipulação dos interesses das grandes massas, da preservação do latifúndio e a cooptação das lideranças populares autênticas, impedindo a organização autônoma do movimento popular.

Os Políticos e trabalhadores, os intelectuais e militantes de esquerda que se reuniam em São Paulo, sabiam que a manutenção dos vícios populistas, com sua estrutura corrupta, seu projeto de preservar o primitivismo político dos eleitores e a prática de considerar a coisa pública como pasto para seus interesses imediatos, deveria ser o principal alvo do combate a ser travado por um Brasil mais justo e menos desigual.

Para que a cena política brasileira sofresse as transformações necessárias, o Partido dos Trabalhadores aparecia como o epicentro desse furacão político que enterraria de vez o peleguismo populista e as práticas fisiológicas. Para tanto, o novo partido nascia fugindo das tentações autoritárias dos velhos militantes de esquerda, afogados pelo stalinismo e pela ilusão do partido único, e buscava criar um antídoto para a tentação populista, organizando-se em bases de militantes, praticamente ocupando o espaço das comunidades eclesiais de base organizadas pela Igreja Católica durante a ditadura. As bases de militantes do PT, que se organizavam por territórios ou atividades (eram bases de operários, de moradores de determinado logradouro, de professores, de artistas. etc.) criavam uma dinâmica própria além de lançarem desafios diários e permanentes aos dirigentes partidários, impedindo ortodoxias e sectarismo, obrigando o partido a dar respostas inteligentes e criativas frente a cada situação apresentada pela ação de seus militantes. A característica de partido organizado pela base dava ao PT o seu caráter de partido de massas moderno, embora o processo democrático exigisse enorme esforço de organização para pôr em prática as ações partidárias nas suas diversas instâncias. Um partido como era o PT, não podia ter dono, nem cardeais, muito menos manipuladores. A vigilância das bases era um fator de inibição, e mesmo suas principais lideranças, como o próprio Lula, não arriscavam enfrentar o crivo da vontade dos militantes.

Um dos maiores problemas da cena política brasileira tem sido a incapacidade dos políticos (seja no legislativo quanto no executivo) em conciliar os seus objetivos políticos com o interesse maior da “res publica”. Ou seja, ao longo da história republicana o que se tem visto é o completo desprezo pelo princípio maior do republicanismo, privatizando-se o Estado em proveito próprio ou daquele grupo político que no momento detém o poder. O PT dos militantes, partido verdadeiramente de massas, nascia com os componentes necessários para libertar o país dessa tradição nefasta, pois trazia em seus nervos constitutivos a ideia de liberdade democrática inerente ao “demos”, conjugada com o consenso da virtude necessária para a gestão republicana.

Infelizmente tudo isso foi trocado em 1995, e o PT tornou-se um partido sem bases populares, igual a qualquer outro. Deu no que deu!

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