Manaus, 28 de março de 2024

O movimento filatélico no Amazonas – parte I

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*Adriel França

O PRIMEIRO COLECIONADOR

Sabemos que, o CFA nasce após a I° Exposição Filatélica do estado, sendo um de seus organizadores os senhores, Nelson Porto, Joaquim Marinho e Ubirajara Almeida, mas, o que não observamos é a que antes mesmo da criação do CFA, já havia em Manaus um “público” filatélico, tanto é prova disto, que Ubirajara já possuía a sua Coluna Filatélica no jornal A TARDE’. A pergunta que fazemos é: Quando nasce a filatelia no Amazonas? Essa pergunta não é fácil de ser respondida, pois há pouquíssimas fontes que talvez possam nos ajudar com uma resposta.

Tem-se conhecido de Bernardo Ramos, que o autor deste trabalho o proclama-o como patrono do colecionismo amazonense, possuía uma coleção filatélica, que infelizmente pouco ou nada existe nos arquivos do Museu de Numismática. Creiamos que a coleção filatélica de Bernardo começou a ser reunida em sua juventude, e talvez, por pouca quantidade de variações a coleção era muito menos evoluída do que sua coleção numismática, haja visto que o “dinheiro” em sua época já havia enormes variedades.

Quando da organização da última exposição de natal promovida pelo presidente e vice-presidente do CFA, no Centro Cultural Palacete Provincial, em Manaus, o diretor da seção numismática do local, Dênio Mota, afirmou que ainda há alguns selos de Bernardo no local, porém não estão expostos, mas porque? O renomado colecionador também tinha uma biblioteca especializada em numismática, e será que em filatelia também? Visto que a primeira revista filatélica do Brasil surgiu em 1892 no Rio, a famosa “Brazil Philatelico”.

Bernardo então pode ser configurado como o primeiro colecionador amazonense, ou ao menos o primeiro que ficou conhecido tanto no estado, como nacionalmente.

AS PRIMEIRAS NOTÍCIAS FILATÉLICA

Edição do jornal Commercio do Amazonas de 03.05.1900-Acervo Biblioteca Nacional

A primeira notícia que temos conhecimento até então sobre filatelia ou arte filatélica no Amazonas, está no jornal “Commercio do Amazonas” em sua edição n°186 de 3 de maio de 1900, uma edição especial circulada em comemoração aos 400 anos do Descobrimento do Brasil. Lá é exposto a arte de um selo fiscal, o qual, o governador do estado, Ramalho Júnior (1898-1900) mandou fazer. Reproduzimos abaixo a notícia, seguida da arte filatélica:

“Os sellos Commemorativos” Damos acima a gravura ampliada dos sellos commemorativos do 4o Centenário, que o ilustre governador do Amazonas mandou pôr em circulação durante um mez. Já tivemos occasião de referir-nos a esse bellisimo trabalho artístico, cuja perfeição agora melhor poderão os nossos leitores avaliar, em face da gravura que lhes offerecemos.

O selo está composto de um busto, muitíssimo provável que seja o busto de Pedro Cabral, além de duas indias que ornam o entorno do busto. Em baixo vemos a Cruz de Malta e acima, a inscrição “IV Centenário do Descobrimento do Brasil” – “Estado do Amazonas” – “1500 – 1900″. “RÉIS **** RÉIS”. O possível valor facial deste selo seria 400 réis?

O texto da notícia dá a entender que essa não seria a primeira vez que uma arte filatélica é estampada no jornal. Além do mais, para quê uma notícia deste cunho? É provável que já houvesse em Manaus pessoas interessadas no assunto?

No Arquivo Público do Estado podemos encontrar muitíssimos documentos com selos fiscais. Brevemente uma visita ao local poderá revelar por meio de pesquisas a real imagem deste selo.

Há outras pequenas notícias sobre selos fiscais em outras edições, achamos notícias do lançamento do selo comemorativo aos cem anos da Revolução de Pernambuco em 1917. Essa pequena nota saiu no “Jornal do Commercio” em 8 de janeiro de 1917.

AS COLUNAS FILATÉLICAS

Abertura da Coluna Filatélica redigida por Nelson Porto – Acervo CFA

Ainda por falta de pesquisas não podemos dizer com precisão quando surge a coluna filatélica de Ubirajara Almeida no jornal “A TARDE”. Possivelmente tenha surgido por volta do ano de 1965, sendo que já em 1969 temos notícias da coluna, fazendo o chamamento dos filatelistas do estado para organizar a primeira Exposição Filatélica do Amazonas.

Envelope com o carimbo da primeira EXFILAM-acervo CFA.

Posterior a primeira exposição de selos e da criação do CFA e a eleição da sua primeira diretoria, logo dar-se a criação da Coluna Filatélica redigida por Nelson Porto, a qual manteve no Jornal do Commercio de 1970 até 2005, sendo premiada em exposições nacionais e até mesmo internacionais. Diversas edições se perderam do antigo acervo CFA quando da mudança da agência dos Correios. Observamos que no período de 1976(?) a 1980(?) A coluna deixa de ser escrita por Nelson Porto e passa a ser escrita por Aquila Feris, que passa a noticiar os assuntos do CFA e da filatelia nacional no Jornal do Commercio.

Surgiram ainda mais duas colunas, uma que saiu na década de 90, escrita por em um caderno especial do Diário do Amazonas, e a outra ainda sem confirmação do jornal, possivelmente o “A Crítica”, também nos anos 90. E vamos mais além, um programa de rádio sobre filatelia, que era apresentado por Edilson Aguiar, e ia ao ar na rádio Baré.

EXPOSIÇÕES FILATÉLICAS

Expositores da I° EXFILAM – Acervo CFA

Sabemos que a primeira exposição filatélica ocorreu em 1969, mas, posteriormente tiveram outras que ajudaram ainda mais na divulgação da filatelia no estado do Amazonas. Aconteceram entre 4 ou 5 exposições oficiais, com carimbo e prêmios etc. A primeira, como sabemos, é de 1969, a segunda é de 1973, a terceira é 1975, a quarta ocorre nos anos 80, ainda por falta de pesquisas estamos sem confirmação da data exata, talvez os associados mais antigos se lembrem.

Tivemos exposições juvenis onde muitos jovens apareceram ao CFA para se tornarem sócios. O relativo número de exposições e lançamentos proporcionaram o aumento de adeptos ao colecionismo de selos no Amazonas, claro, juntamente com o grande fluxo de cartas que existia, este colecionismo era impulsionado. Após quase trinta anos sem nenhuma exposição de real relevância, em 2019 ocorreu a Brasil 200, realizada no Colégio Militar unid. V, onde foi a exposição girava em torno do bicentenário da independência do Brasil, tendo também uma sessão para selos estrangeiros.

C.F na edição do Jornal do Commercio do dia 8 de fevereiro de 1976 sobre o CFI – Acervo CFA.

Em fevereiro de 1976 é anunciada a criação do primeiro Clube Filatélico no interior do estado do Amazonas, na cidade de Itacoatiara, o CFI, sendo o seu primeiro presidente o sr. Ernesto Barbosa, jornalista do “Jornal do Commercio”. Logo em 1978 já ocorria a primeira exposição filatélica no interior, com o apoio da prefeitura daquela cidade.

Em algumas colunas de anos anteriores eram anunciadas a criação de pequenos núcleos em escolas da cidade de Manaus, tais como o núcleo filatélico da Escola Técnica , o núcleo Ida Nelson e o do Colégio Militar de Manaus, todos estes atualmente extintos.

LANÇAMENTOS DE SELOS

Jovens do CFA em matéria ao Jornal do Commercio – Acervo CFA.

Desde a criação do CFA, a entidade sempre foi chamada para o lançamento de selos comemorativos, carimbos e palestras sobre filatelia. Um dos primeiros lançamentos a qual o CFA participou foi o lançamento de um selo comemorativo em homenagem ao Rotary Club.

O lançamento mais recente foi promovido entre os próprios sócios do CFA, sendo lançado o selo dos 120 anos do Museu de Numismática Bernardo Ramos, em 2020.

Alguns dos lançamentos históricos os quais o CFA participou foi o selo em homenagem aos abolicionistas precursores em 1984, sendo um dos mediadores do lançamento o Dr. Antonio Loureiro, o selo foi obliterado na sede do IGHA. Outro lançamento foi em homenagem aos 30 anos do fim da Segunda Guerra, uma homenagem aos pracinhas do estado, Hilário Pimentel, presidente da antiga associação dos ex-combatentes do Amazonas obliterou o selo, isso em 1975, e mais recentemente, em 2019, o lançamento do selo sobre a fauna brasileira realizada na sede do INPA, Jorge Bargas obliterou o selo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Jovens do CFA em matéria ao Jornal do Commercio – Acervo CFA.

Poderia se estender por mais páginas este trabalho, abordando ainda outros temas, como os sócios ilustres, a contribuição do CFA para com a sociedade manauara. A manutenção do comércio filatélico no norte, e outro mais, mas, vamos deixar para a próxima. A filatelia é cultura, todos os tópicos aqui apresentados possuem um teor cultural, rememorando uma data importante, ou mesmo, marcando uma data. O CFA possui a sua parcela de contribuição para com a filatelia brasileira, e até mesmo mundial, como será apresentado em uma outra oportunidade.

O legado dos amigos que já se foram não será esquecido, brevemente quem sabe, não possamos constituir o nosso espaço da Memória Postal de Manaus e consequentemente do CFA, deixando para as outras gerações o que um dia foi um selo, postal, carta etc.

*Amazonense, pesquisador e acadêmico de jornalismo. Ensaísta do Jornal do Commercio desde 2020. Secretário do Clube Filatélico do Amazonas além de membro do movimento Abrace um Museu e colaborador da Biblioteca Virtual do Amazonas. Autor do projeto “Guerreiros do Amazonas” visando o resgate da memória dos soldados amazonenses que combateram na Segunda Guerra Mundial. Planeja criar o Museu Postal do Amazonas para resguardar a memória postal do estado, através de cartas, selos, cartões postais.

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