Manaus, 19 de abril de 2024

O exemplo que vem de Belém

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No feriado da quinta passada armaram um verdadeiro restaurante na Eduardo Ribeiro, com direito a mesas e cadeiras distribuídas pelo asfalto, quase na esquina da Saldanha Marinho.

Nenhuma autoridade apareceu para coibir o abuso: Por isso morri de inveja de Belém, onde estive por três dias. Com menos recurso que o Amazonas a prefeitura e o governo estadual realizaram nestes últimos anos uma série de felizes intervenções que valorizaram a bela capital do estado vizinho. A mais recente e de resultados magníficos é o chamado Portal da Amazônia, já implantado em sete quilômetros ao longo da margem do rio Guamá, abrindo a cidade para o rio e promovendo intervenções na imensa favela que leva o mesmo nome do rio. Esses sete quilômetros representam apenas a metade do empreendimento, que permitirá em futuro próximo sair do centro histórico e realizar um passeio turístico de tirar o fôlego. E a obra vai custar menos que a reforma da nossa Ponta Negra, embora dez vezes mais extensa. Um dos espaços que fará parte do trajeto do grande Portal da Amazônia é o belíssimo e bem’ cuidado campus da Universidade Federal do Pará, que no momento é um canteiro de obras para ampliar e acomodar novos cursos. A Universidade do Pará tem um histórico de grandes administrações, com reitores que sabem e respeitam a autonomia universitária. Não é por nada que a pontuação’ é alta. A cidade, no entanto, está sofrendo com a invasão dos automóveis, enfrentando engarrafamentos colossais a qualquer hora do dia. E Belém tem avenidas largas e muitas opções, mas a precariedade do transporte coletivo, um mal do ai padecem todos os centros urbanos do país, empurrou a classe media para o automóvel e o povo para ás motocicletas. Mas os paraenses não sucumbiram à tentação da permissividade urbana. Para inveja dos manauaras, lá não brotam cafés da manhã em cada esquina, e como Belém tem calçadas, estas permanecem livres de camelôs. Quem andou por lá nos anos 70 e 80 do século passado, lembra como o centro histórico, especialmente nos arredores do Ver-O-Peso, a coisa andava entulhada de barraquinhas. Pois bem, isto mudou e Belém entrou no rol das cidades que conseguiram sem violência recuperar aos seus cidadãos o direito de ir e vir nas calçadas. Conversei com o pessoal da prefeitura e constatei que ali souberam fazer a coisa certa, tal quais outras administrações municipais limparam suas cidades e recompuseram seus patrimônios arquitetônicos. Vi a mesma coisa em Teresina, em Natal e Fortaleza. Os poderes estaduais e municipais se uniram e dividiram as tarefas. Usaram os serviços de inteligência disponíveis para identificar as fontes e a teia de interesses envolvidos. Em todas as cidades identificaram basicamente três: crime organizado vendendo produto pirata, falsificado e contrabandeado; comerciantes legais burlando o fisco e aqueles de iniciativa própria, quase sempre artesãos, fabricantes de alimentos, trabalhadores de pequenos consertos, etc. Aos primeiros, o peso da lei e retirada compulsória. Aos segundos, uma conversa franca com as autoridades fazendárias, com resultados rápidos e vitoriosos. Aos terceiros, empreendedores da classe trabalhadora, receberam apoio institucional e foram distribuídos em espaços comerciais populares nos bairros de origem, ou em centros de concentração de turistas. Nenhuma das cidades necessitou gastar fortunas com obras de “shoppings”. No caso de Teresina desapropriaram duas estalagens no centro histórico, fizeram o restauro e distribuíram os que comerciavam roupas, artesanato e comida nos dois belos espaços. Eu sei que nossos vizinhos paraenses adoram nos fazer inveja. Eis o melhor dos campos para estabelecermos uma grande competição: tornar nossas cidades motivo de orgulho, para inveja mutua. O problema é que a hora de fazer isso por aqui está se escoando.

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