Manaus, 29 de março de 2024

O encantamento do amor

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“Nem a tribuna do Júri que o empolgava, que exercia quase sempre sem remuneração (…), ocupou no seu coração maior importância do que o magistério”

Viver e atravessar a longa vida pregando e praticando o amor, a fé e a caridade sem medida, com humildade e paciência, fazendo de sua trajetória uma entrega dadivosa ao bem, à verdade e à justiça é o sentimento que conforta a todos, familiares, amigos, ex-alunos, condiscípulos, colegas de magistério, do jornalismo e da advocacia, quando da separação física que nos impõe a elevação espiritual de João dos Santos Pereira Braga, símbolo de generosidade entre nós.

Nenhum dos encargos públicos – e foram muitos os que desempenhou em profícuos 82 anos de vida – desde líder estudantil, vereador e líder do prefeito de Manaus, anel simbólico da Faculdade de Direito em 1960, presidente da OAB-AM, Procurador Jurídico da Câmara de Manaus, Diretor da Faculdade de Direito da Ufam, Delegado Geral de Polícia, Secretário de Estado das pastas de Segurança, de Justiça e de Administração, Procurador Geral do Município de Manaus, Procurador Geral de Justiça e chefe do Ministério Público do Estado, Procurador e Procurador-chefe de Contas, Conselheiro e Presidente do TCE em duas oportunidades, Prefeito de Manaus, advogado, jornalista e radialista – nenhum desses importantes cargos e funções encantava mais o seu espírito quanto estar em sala de aula, seja como professor de Matemática no Colégio Sólon de Lucena, Instituto de Educação e Colégio Ajuricaba ou em diversas universidades formando bacharéis, lecionando Direito Constitucional, Teoria Geral do Estado, Direito Eleitoral, Direito Agrário, Processo Civil e Direito Civil, sempre com maestria e simplicidade.

Nem a tribuna do Júri que o empolgava, que exercia quase sempre sem remuneração e na qual foi mestre e fez escola, ocupou no seu coração e no seu espírito maior importância do que o magistério. Ser professor era a sua paixão.

Andar compassado, quase em silêncio, em trajes modestos e leve sorriso simpático, chegava mansamente para ministrar as aulas como se fosse adorável pai de todos os alunos, distribuindo conhecimento e experiência, e, sempre solícito, firme e justo nas notas, conduziu muitas gerações para a construção do próprio futuro, orientando e vibrando com a vitória de cada um.

Em família era é! candura exprimindo a paciência. A firmeza sem imposição. A serenidade. O porto seguro de todos nós, capaz de exprimir, sempre sem qualquer ostentação, a opinião mais acertada, sem excessos e apropriada, depois de ouvir a tudo e a todos, com seu jeito manso, dócil e carinhoso. Pensativo, muitas das vezes, diante de questão mais delicada sempre recomendava cautela para que as palavras fossem contidas e medidas e não se transformassem em agressão de qualquer natureza. Bom homem. Exemplo de filho, irmão, esposo, pai, avô, bisavô, sogro, genro, cunhado, padrinho e amigo. Amigo fraterno.

  • Espiritualista desde cedo, afinal, nascido e criado em lar feito sob a luz da Caridade e da Fé, deu-se com abnegação também a esta missão e nada conseguiu afastá-lo da perfeita compreensão de que vivemos uma passagem em busca do aperfeiçoamento do espírito eterno, em árdua e incompleta transição.

No dia de seu encantamento espiritual, lágrimas de cristal celeste desceram sobre a cidade do seu berço e de seu repouso derradeiro. A natureza estava triste como os que o conheceram. Depois, abriu-se um fim de tarde que transmitia paz. E foi sob esse céu que também representava acolhimento interior, que dele nos despedimos depositando sua matéria inerte no aconchego de nossa avó, pais, irmãos, tios e de sua Dinda, os quais o elevaram em espírito sob cânticos de crianças em procissão de luz para a “nova, eterna e verdadeira paz.

Entre nós, mais do que a saudade que será para sempre, deixou o encantamento do seu amor, tantas vezes dividido com quem dele se aproximasse.

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