Manaus, 19 de abril de 2024

O caso do palácio Rio Negro

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“Na verdade, tratava-se de um ano atípico em que os recursos oficiais estavam minguando pela queda da borracha, o que, de certa forma, justificava as reações. 

Construído para residência de súditos alemães, o palacete de Waldemar Scholz edificado durante alguns anos na Avenida Municipal, atual Sete de Setembro, acabou sendo hipotecado ao seringalista Luiz da Silva Gomes, portentoso senhor de rios e mais rios de estradas de borracha pelas bandas do Madeira, e, tempos depois, alugado e vendido ao Estado, ao tempo do governo Pedro Bacellar.

Era residência das mais chiques, clássicas, elegantes e moderna para os padrões da época, até que, em razão da sede tradicional do governo ser emprestada – alugada da Prefeitura Municipal de Manaus – na Praça D. Pedro II, Bacellar resolveu pedir autorização da Assembleia Legislativa para aquisição pelo Poder Público. Concedida a ordem legal foi comprado ao preço de duzentos contos de reis, e logo começou o disse-me-disse daqueles que gostam de denuncismo por qualquer coisa.

Parte da imprensa local ficou a favor do governador e sob a alegação de que o Estado não possuía lugar condigno para o Chefe do Estado como sucedia com outros governos, e ainda afirmava, soberanamente, que era “um belo edifício, moderno, esmeradamente construído e por preço cuja modicidade diz eloquentemente da lisura do atual governo.” Na verdade, tratava-se de um ano atípico em que os recursos oficiais estavam

minguando pela queda da borracha, o que, de certa forma, justificava as reações contrárias à compra do palacete, porém, de outro lado, o Município continuava reclamando a posse e uso do Paço Municipal e uma decisão precisava ser tomada naquela ocasião.

As reclamações da oposição que não encontravam tanta guarida na imprensa de Manaus acabaram sendo feitas nos jornais da capital da República, especialmente “A Tribuna” que desancou o pau no governador naquela de ouvi dizer, ou coisa de encomenda tão comum no meio político, especialmente daqueles anos.

O caso só foi esclarecido devidamente quando Evaristo José de Almeida, genro de Luiz da Silva Gomes, resolveu enfrentar as denúncias e esclarecer a negociação feita com Bacellar. E o fez em carta enviada a Benjamin de Souza, diretor do Diário Oficial e membro da Academia Amazonense de Letras, recém-criada e agora centenária instituição cultural.

Para calar a oposição, defender o sogro e salvar o governo estadual do vexame de ficar dando explicações infindáveis, disse que “é falso que o palacete foi hipotecado ao meu sogro pela quantia de 140 contos … é caluniosa a afirmativa de que o edifício fora oferecido ao governo transato. com 150 contos e mais tarde por 100 contos … o que é verdade e afirmo é que o dito palacete foi hipotecado por 400 contos, recebeu obras de 34 contos e vendido por 200 contos,” portanto, nada devendo ser questionado a respeito porque quem ainda perdeu dinheiro foi o próprio seringalista e não o Estado.

Acostumado a encrencas políticas, acusações infundadas e condutas levianas, eis que o governador Pedro Bacellar, baiano que conhecia bem a trupe local desde que fora inspetor de ensino, médico e prefeito do Município de Humaitá não deu ouvidos aos opositores, comprou o palácio, organizou a sede do governo no térreo e a sua residência oficial no andar superior, pagou à vista, passou a escritura, registrou, deu o nome

de “Palácio Rio Negro”, e, por certo, salvou o belo prédio de demolição ou abandono como estavam ficando outros imóveis da cidade diante do seu esvaziamento pela fuga das famílias, comerciantes e exportadores, em razão do aprofundamento da queda da economia da borracha e das consequências da Grande Guerra Mundial.

Tenho convicção que, se ele não tivesse tomado esta providência não poderíamos usufruir desse belo patrimônio do povo, símbolo da “belle époque”, recheado de fatos notáveis e muitas histórias, porque tendo sido sede do governo desde 1918 a 1995 e a partir de 1997 sido transformado em Centro Cultural muito bem movimentado, foi tombado como patrimônio histórico, restaurado e protegido da sanha modernosa que vem se abatendo sobre nossa cidade nos últimos trinta anos.

E as comadres faladoras ficaram com a cara no chão.

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7 respostas

  1. Boa tarde, Prof Roberio
    Sou Vera Leal, bisneta do Coronel Luiz da Silva Gomes
    Tenho uma publicação original sobre a historia do meu bisavô, escrita na revista Litteraria Luso-Brasileira em Lisboa – tema: Portuguezes no Brasil.
    O documento esta bastante deteriorado.
    gostaria de doar para o Museu no Palácio Rio Branco, como faço, moro no Rio de Janeiro, quero mandar pela correio.
    Poço mandar uma foto do documento para você, mande o seu email.
    Desde já agradecida
    Vera

    1. Cara Vera,

      Sou Frederica Jordão, antropóloga e museóloga portuguesa, e estou a preparar um trabalho de investigação sobre um episódio passado em Portugal que poderá relacionar-se com o seu bisavô Coronel Luiz da Silva Gomes. Posso pedir a gentileza de me contactar para o meu email?: podesaber.patrimonio@gmail.com
      Gostaria de partilhar algumas informações.
      Pode conhecer o meu trabalho em http://www.podesaberpatrimonio.com
      Grata!

    2. Prezada senhora Vera,
      Desculpe invadir seu espaço aqui, mas eu também sou bisneta do Coronel Luiz da Silva Gomes e neta de sua filha, Rosa Lina Gomes Amora. Nasci em Rondônia, mas moro em Brasília e tenho grande interesse em recuperar a história de minha família. Ficaria imensamente agradecida se pudesse ter acesso ao documento citado pela senhora (Portuguezes no Brasil). Viajo com alguma frequência para Lisboa, mas ainda não consegui obter mais informações sobre nosso bisavô naquela cidade. Agradeço se puder me responder por aqui. Grande abraço.

      1. Cara Maria Aparecida eu sou bisneta da Emilia e do Evaristo, portanto trineta do coronel, tenho imensa coisa sobre o trisavô e até tenho uma fotografia dos seus avos, a Rosa era lindíssima. A mim o que me falta sao informações sobre a nossa bisavó. Podíamos encontrar-vos em Lisboa. Eu neste momento moro no Luxemburgo mas vou muito a Lisboa, gostava de saber mais coisas sobre a família do Brasil.

      2. Cara Maria Aparecida eu sou bisneta da Emilia e do Evaristo, portanto trineta do coronel, tenho imensa coisa sobre o trisavô e até tenho uma fotografia dos seus avos, a Rosa era lindíssima. A mim o que me falta são informações sobre a nossa bisavó. Podíamos encontrar-nosem Lisboa. Eu neste momento moro no Luxemburgo mas vou muito a Lisboa, gostava de saber mais coisas sobre a família do Brasil.

    3. Eu sou trineta do coronel, bisneta de Evaristo de Almeida, também tenho uma copia dessa revista alias temos todos na família uma fotocopia dessa revista. Ando sempre à procura de ais informações sobre ele principalmente aí do Brasil, ele morreu em Lisboa em 1932 no predio ao lado dos meus bisavós, a minha bisavó era a filha dele Emilia. Ja encontrei uns primos no Brasil descendentes do filho mais velho Luis, a Vera descende de qual dos filhos?

  2. Querida prima Maria Amália:
    Fico sempre feliz com sua preocupação e carinho pela memória de nossa família.
    É sempre uma alegria saber algo mais de nosso trisavô.
    Fernando mantinha muitas fotos e outros guardados da família.
    Está no apartamento onde atualmente reside nossa irmã Eleonora.
    Em breve vou separar um pouco de tempo para procurar esse material.
    São principalmente fotos da família que nossa avó sempre nos mandava.
    A revista Portugueses no Brasil ele me deu uma cópia.
    Uma pena que ele se foi tão prematuramente, não só porque era um homem bom e justo, mas porque, no caso em foco ele é que sempre me informava sobre as coisas da família.
    A todos os parentes,
    Um fraterno e grande abraço.

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