Manaus, 29 de março de 2024

O Advento e a Adventania

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Existe um período pré-natalino. Um tempo de preparação. Na liturgia católica, se chama Advento e corresponde a quatro domingos antes do Natal, dando origem à tradicional e verdejante Coroa do Advento com quatro velas vermelhas. Na casa dos Palhares, o Advento vira adventania, por ser mais longo e atribulado. Começa nos primeiros dias de novembro, acompanhando o calendário dos shoppings, e a maior preocupação não é a Coroa e sim a Árvore, que, de início, não pode ser a mesma do ano passado.

Como assim outra árvore? Árvore-de-natal não é tudo igual? Tipo de pergunta que Seu Felismino deixou de fazer há anos, desde quando lhe explicaram que Árvore-de-natal não é tudo igual, não, senhor.  Tem que ser nova, diferente, outra, porque tem que espelhar novos tempos, expressar o momento em que vive a família, por isso nem pensar em aproveitar aquela do Natal passado.

Parece que é isso mesmo, Seu Felismino. Aqueles votos de próspero ano novo também servem para já ir encomendando a árvore do próximo ano.

A árvore nova é da família, embora cada um dos oito filhos e filhas possa ter em casa sua arvorezinha particular. É a árvore principal, de todos. Por isso, com o correr dos anos, a montagem da árvore familiar se tornou um processo intrincado, cronometrado, controlado, por envolver todo mundo.

Os filhos e filhas, genros e noras, incluindo aqueles três que mudaram de cidade, todos são intimados a colaborar conforme seu alcance – não alcance de altura como, por exemplo, para colocar as estrelas de ouro, as bolas de prata, os pisca-piscas chineses. O alcance é conforme a prosperidade prognosticada no último Natal, para a compra da nova árvore e dos acessórios indispensáveis. Contribuição que poderá ser convertida em disponibilidade de tempo para levantar custos, bater perna no comércio, pesquisar nas casas do ramo. Tudo isso leva despesa. Tempo não é dinheiro? Ainda mais nos tempos atuais.

Seguindo o cronograma traçado, chega o dia da reunião para visualização e análise das fotografias das árvores selecionadas, devidamente catalogadas, numeradas, precificadas. Vista que poderá ser on line, Facebook, WhatsApp, messanger. Todos têm direito de opinar, de onde estiverem, avaliando a qualidade, as cores, os enfeites e… o preço.  Estabelecido um acordo quanto à árvore escolhida… digo, escolhida a árvore por voto da maioria simples, passa-se ao cálculo do rateio, e desse não escapam os irmãos ou irmãs ausentes, distantes ou omissos.

Montada e iluminada para o teste, a árvore ainda precisa de um toque para estar completa: presentes embaixo da árvore como se fossem as raízes sustentando a árvore. Árvore de Natal sem o adorno de presentes não tem graça. E, como na adventania ainda não há presentes, o costume é pegar caixas de sapatos e outras caixas pequenas, embrulhá-las com papel de presente. Até o Natal, as caixas de aparência vão sendo substituídas por caixas de presentes verdadeiras.

Chega Armandinho, o neto de seis anos, olha a árvore de alto a baixo, principalmente, a parte de baixo, e exclama:

– Mãe, olha, já tem presente na árvore do vovô.

– Não é presente não, menino… é caixa de sapato…

– Puxa, legal… todo mundo vai ganhar sapato do Papai Noel…

– Não, menino. É caixa de sapato, vazia, embrulhada de papel de presente, fazendo de conta que é presente… entendeu? Os presentes ainda vão chegar.

Desconfiado, o menino não diz nada, fica pensativo, o que pode ser traduzido da seguinte forma: essa mamãe tem cada uma… eu sei que um desses presentes é pra mim… Papai Noel deve ter vindo mais cedo este ano… Pois bem, deixa ela pensar que me engana…caixa de sapato, é? Pois, sim.

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