Manaus, 29 de março de 2024

Noturno para a menina do interior

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A luz da lâmpada elétrica
quando a mesa está posta
com toalhas limpas
pratos de louça
talheres de aço inoxidável,
a criança come.
É uma criança das poucas
que se salvaram
de morrer de fome.
Com que graça
com que infantil volúpia
ela come.
No momento em que todos se acercam dos pratos
ela os ajuda a se prepararem
para comer.
É doméstica a criança,
veio do sítio para ajudar
nos trabalhos da casa.
É ágil e não para,
porém quando come
ela se concentra.

Uma vaga tristeza
parece feri-la
nos cabelos lisos,
posto ser a sua lembrança
no ato de comer
a presença dos irmãos menores
que só por bondade
da natureza
se salvarão de morrer de fome,
dos seus irmãos menores
que não possuem a mesa modesta
nem mesmo a mesa modesta
de nossa casa-classe-média
onde a comida é servida
nos horários convencionados
no dia
para comer.

A criança come
Alegre e só
nessa carícia de sentimentos
que a tornam triste,
que lhe oferecem a graça
dos seus olhos mongólicos
de sua pele parda
e dessa crua mágoa de fome
que marca a criança e o homem da região.

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