Debruço num fundo poço
e vejo minha sombra imprecisa.
Do fundo gritam vozes e aflita ouço
palavras denunciando
a minha inutilidade.
Crianças morrem, não salvo,
mulheres se prostituem, não choro,
homens trabalham com fome, não clamo
e ainda ouso dizer generosa à humanidade:
eu amo.
No silêncio vibro e tramo
criar um mundo onde possa
dar às coisas solução.
Mas são ásperos os caminhos
cheios de muros, pedras, espinhos,
que me perco na solidão.
Volto a debruçar no fundo poço
procurando angustiada
a sombra de meu rosto
que aos poucos afunda e some.
Turvam-se as águas, reclamo,
as vozes gritam meu nome
o eco responde ao longe: desgosto.
Não tenho mais a coragem de dizer à humanidade:
eu amo!
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