(1º. Lugar no IV Concurso de Poesia “CIDADE DE BELÉM”- versão 2016-2017, promovido pela Academia Paraense de Letras -, em homenagem aos 400 anos de Belém, em 31-01-2017).
Este meu versejar
quer ser o pagamento de uma dívida –
uma dívida grande, nestes tempos de crise,
dívida de gratidão, zelo e paixão
por ti, minha cidade, –
– dívida que foi crescendo,
e que aspirei resgatar em instante propício.
Eis que chega o momento,
a ocasião ideal:
é o Jubileu de festa, um grande festival
dos quatrocentos anos de Belém, o meu berço natal.
É portanto com amor, com imenso afeto
que eu venho ofertar
este poema a ti, ó cidade querida,
CIDADE DE BELÉM
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Eu te oferto, Belém, o teu “descobrimento”
há quatrocentos anos, no Forte do Castelo.
Eu te oferto teu nome de Batismo:
Santa Maria de Belém do Grão Pará.
Ao relembrar teu berço, tua infância,
fico olhando essas águas que te banham, singradas por canoas – caravelas –
Água que vai, que vem, pois és a porta de entrada da Amazônia.
E volto meu olhar para a cidade:
Parece-me escutar : Belém, Belém-
Cidade mergulhada em mar de dor, de sofrimento,
mas também de alegria desmedida:
Um mar de vida.
Eu te oferto, Belém, a Evangelização
que, há quatro séculos, nesta Amazônia se lançou
e um fértil terreno encontrou
pois as Sementes do Verbo já estavam plantadas
dentro em seu coração.
A tua vocação estava bem patente no nome que ganhaste-
tão belo e sugestivo
e sempre redivivo :
Santa Maria de Belém – BELÉM : síntese do Natal, Cruz e Ressurreição.
Missionários partiram
entre dores, fadigas, a força de vontade, as orações.
Surgiam aglomerados – povoados, quais fermentos.
Desobrigas… Os homens e as mulheres catequistas… cantos e procissões –
Que povo está nascendo ? –muitos se perguntavam. São rebentos…
E em breve rasgavam a mata as capelinhas, a cruz e um campanário
Vilas – sons que emergiam da floresta
Malária – febres – festa …
Nasciam comunidades,
embriões de cidades…
E assim ocorreu:
Uma planta viçosa aqui nasceu, se firmou e cresceu :
Belém, Belém !
Este teu nome hebraico – BEITH-LECHEM –
É O NOME de BELÉM – CASA DO PÃO –
e explicita, reforça a tua trajetória, teu caminho e história !
E então eu te oferto, Belém,este teu povo:
Os índios que acolheram os portugueses – o invasor-
na terra que era deles, lhes vieram mostrar
suas – as nossas riquezas: a manga, o açaí, remédios naturais,
a floresta e a rede, canoa, peixe farto saltitando nas águas,
e os banhos de rio, e o linguajar…
Os donos primitivos destas terras serão hoje acolhidos, bem amados ?
Eu te oferto, Belém,
Os negros transportados da Mãe África
entre horrores e dores,
para serem vendidos no mercado de escravos
que existia em Belém, e em outros lugares,
cujos restos nos bradam ainda hoje.
Negros amalgamados, valendo ouro, separados dos seus…
Quanto sangue correu…
os negros que te amaram contigo se integraram
nos cantos e nas danças, nos costumes,
criando um novo povo,
que me inspira a formar este neologismo
em que os três elementos, numa cosmovisão, formam um termo apenas :
Povo negrilusíndio !
Eu te oferto, Belém,
o branco, o português que se encantou contigo,
que ensinou e aprendeu.
Trouxe o Catolicismo!
E te oferto também nossos “brancos” de hoje,
que te procuram para aqui viver
pois és cosmopolita,
não sabes dizer “Não” a quem te busca – nem o deves dizer…
És um caleidoscópio, um mosaico gigante,
Azulejo fantástico de raças, de sabores.
Traços fortes de imagens, de valores, de aromas e de cores.
E te oferto este povo de Belém do Pará:
De coração e ouvido generoso e atento, de olho observador
de não muito falar
mas que aprendeu a gritar e a protestar
a se fazer ouvir,
a se fazer sentir.
É um povo que resiste, que insiste e que esbraveja,
um povo que persiste, com amor,
numa luta incessante, confiante, de trabalho e de insônias, em diuturna peleja
por um dia melhor.
Eu te oferto, Belém, o teu calor, as tuas chuvaradas,
os canais transbordando, as ruas alagadas, mal tratadas,
assaltos, furto e droga, correria,
o Pôr-do-sol nas Docas, Ver-o-Peso, o luar na baía – que magia!
Diárias agonias…
Todo o mal,todo o bem.
Tudo isto é Belém…
Eu te oferto, Belém,
O teu e o nosso CÍRIO!
mais que bissecular!
Vela, chama pequena, que sempre resplendeu de fé e de esperança.
Uma vela a velar – vela de muito amor, que aumentou, se fez Círio
em volta de Jesus, de Maria e do povo.
Círio que cresce sempre ao dividir sua luz
e ilumina o Brasil cada ano, de novo.
Eu te oferto, ó Cidade de Belém,
uma flor destes rios e igarapés que te rodeiam:
É um ícone, um símbolo…
Nela eu vejo a floresta e as águas da Amazônia, precisando de nossa proteção:
fauna e flora, recursos e tesouros.
Vês ? É a vitória-régia, boiando nos teus lagos…
Tudo louva e exalta o Deus da Criação, ameaçada de destruição!
Representa a Amazônia –
esplendor de beleza,
poema da natureza
que temos o dever de amar, de preservar.
Para isso, Belém, és chamada a tornar-te sempre mais,
grande centro de estudos e pesquisas, de comunicação.
E não é utopia, é um belo ideal de sadia ambição
num perseguir constante, com firmeza e união.
Verifico, porém, cidade de Belém-,
que és tu mesma, um poema inacabado:
que deve continuar a se desenvolver,
porque tens em teu nome este carisma:
seres casa do pão e casa da partilha.
Teu nome é um desafio, um compromisso:
Seres a casa dos pães multiplicados, quanto mais repartidos, mais doados.
Deves seguir a tua vocação de unir Amazonas e Pará,
de unir a Amazônia e o mundo.
Compromisso re-afirmado neste megaevento de fé e de alegria
Celebrado este ano, nesta terra, com o Congresso da Eucaristia.
Deves continuar a ser a “Statio Orbis”,
A ESTAÇÃO da Amazônia – que é um MUNDO.
Sendo Casa do Pão, geradora de vida – és mãe e irmã- IRMÃE do mundo-
– um novo neologismo !
Só assim crescerás na excelsa missão
do teu nome de origem !
E neste Jubileu de quatrocentos anos, eu desejo
que os teus sinos repiquem cada dia
sinalizando o povo que te ama
com audácia, energia :
Belém, Belém :
O Jubileu prossegue !
Povo que ambiciona trabalhar com mais vigor por ti, de se empenhar,
a dar por ti a vida, o coração,
como quantos tem feito !
Belém , casa do pão…
para o teu bem maior, ó querida cidade de Belém:
para o teu bem – além, e sempre além –
Belém, Belém !
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