Manaus, 19 de abril de 2024

Memória do passado no Amazonas: J. A. Leite e Companhia

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Muitos foram os nomes daqueles homens e mulheres que por lá passaram, dentre eles Lourenço da Silva Braga, Joaquim José Azevedo de Macedo e tantos outros que foram capaz de divisar a trilha sinuosa dos rios da Amazônia.

A empresa aviadora dos seringais no Amazonas que, entre tantas outras, marcou época no período áureo da borracha, tinha o seu escritório e armazéns na Rua Guilherme Moreira os fundos para rua Marcilio Dias, onde havia o recebimento e beneficiamento dos produtos trazido do interior do estado, especialmente dos seringais, que eram posteriormente exportados e, cujo, prédio foi vendido na década de 1970.

A casa aviadora J. A. Leite e Companhia foi uma da mais antiga de Manaus, tendo sido fundada em 1884, com Sede na Rua Marechal Deodoro, ano em que o Amazonas aboliu definitivamente a escravidão negra. Foi seu principal fundador, o senhor Rodrigues de Magalhães, natural de Santo Tirso e, que mais tarde, foi vendida ao senhor José Antônio Loureiro, natural de Besteiros-Amares e posteriormente passou a residente no Lugar do Cano em Bouro, Santa Maria.

Posteriormente acrescentou seu sobrenome Leite, como forma de identificação nominal a empresa a qual era sócio majoritário. Coube ao Sr. José Antônio Leite Loureiro a organização da empresa, trazendo para sociedade os senhores José Rodrigues de Magalhães, Abilio da Silva Sá e Antônio José de Almeida Leite Loureiro, dentre outros.

Abílio da Silva Sá – sócio da firma J. A. Leite. (Foto: Acervo Abrahim Baze)

Naquele período e, mesmo após o falecimento do Sr. José Antônio Leite Loureiro, ainda corriam bons ventos, muito embora já em decadência o principal produto exportação, a borracha, também negociavam a castanha, a sorva, a piaçaba, a malva e a juta, assim como outros produtos regionais, incluindo as peles, principalmente de jacaré, fato que motivou seus sócios a continuar no mesmo ramo de negócio. A empresa neste período, navegava os rios da Amazônia: no Juruá até Cruzeiro do Sul e seus afluentes e no Rio Purus até Sena Madureira, com sua frota própria de navios que no período mais abastado contava com 25 embarcações, sendo dois navios, o Industrial e o Ayapuá.

O tempo passa e o coração generoso de seus fundadores aliado aos interesses dos funcionários e auxilares levou a empresa a condução de novos sócios que reforçando o caixa deram continuidade ao empreendimento, eram eles: Ermindo Fernandes Barbosa, Francisco Fernandes Barbosa, Manuel Soares da Cunha, Armando Leopoldo Fernandes, Alberto Gomes da Costa Sanches, Antero Fernandes Barbosa, Paulo Severino de Rezende Machado, Edgard de Vasconcelos Pessoa, Afonso Castelo Branco Galvão, Eduardo Barbosa, Edith Barbosa, Mauricio Barbosa, José Cunha, José Gomes, Paulo Machado, Raul Gomes Filho e Milton César de Araújo Lima e Mucio Barbosa, dentre outros. Com este número expressivo de sócios a empresa tornou-se uma grande e afetuosa família.

Essa empresa marcou uma época, como uma das mais extensas fornecedoras dos seringais da Amazônia, tendo nos anos de 1938 e 1939, exportado 1.297.760 e 1.337. 757 quilos de borracha.

Lourenço da Silva Braga, funcionário da firma J. A. Leite. (Foto:Acervo Abrahim Baze)

Essa empresa que navegava os rios da Amazônia com sua frota própria de navios, marcou um período importante da vida econômica da cidade de Manaus, tendo sido proprietária dos seguintes navios: Republicano, Manauense, Ayapuá e a lancha Minas Gerais, possuindo ainda, outras embarcações que mantinham a navegação permanente nos rios Purus, Acre, Juruá e as cidade menores do Pará e Baixo Amazonas.

Vale a pena destacar que a empresa J. A. Leite e Companhia foi possuidora da primeira carta de navegação do Amazonas e entre os anos de 1967 e 1968, vendeu a titulação da carta de navegação a empresa Nissin Pazuelo. Foi um período importante da nossa história e de grande contribuição econômica para nosso estado.

Joaquim José de Azevedo Macedo, funcionário da empresa J.A.Leite. (Foto:Acervo Abrahim Baze)

O senhor José Loureiro Leite, morava na Praça do Congresso, esquina com a Rua Ramos Ferreira e tinha um sítio na Vila Municipal onde passou a morar posteriormente, chamado Águas Verdes e que, mais tarde, foi vendido a empresa Santa Cláudia. A enorme quantidade de sócios, vem do tempo da compra da empresa, que para evitar indenizações, o senhor José Leite Loureiro, incorporou todos os antigos sócios e vários outros funcionários. E essa cultura pemaneceu na empresa. A empresa abastecia todo interior do estado. Na ida os barcos levavam mantimentos, remédios, vestuário e combustível, além de outros materiais que eram necessários para manutenção e sobrevivência nos seringais. O combustível para os barcos e para venda nos seringais, seguia atracado ao barco principal, à uma alvarenga que também levava a carga explosiva como pólvora.

Num período inteiramente da economia do látex a empresa ocupa uma posição singular. Muitos foram os nome daqueles homens e mulheres que por lá passaram, dentre eles Lourenço da Silva Braga, Joaquim José Azevedo de Macedo e tantos outros que foram capaz de divisar a trilha sinuosa dos rios da Amazônia que permitiria a Amazônia se destacar com a sua economia, foi realmente um período de riqueza para nossa região.

Manaus daquele período. (Foto:Acervo Abrahim Baze)

O Trabalho e a Primeira Viagem de Lourenço da Silva Braga

” … Duas horas antes da saída do navio, em companhia do amigo Paulo que se ofereceu para deixá-lo a bordo, conduzindo a gaiola, meu pai apresentou-se ao mestre Justino a quem lhe pediu permissão para levar o idolatrado pássaro, o mestre não permitiu como também o aconselhou a colocá-lo em seu camarote protegendo-o de um possível acidente provocado por algum volume de carga que o navio ainda estava recebendo.

Pontualmente às vinte horas, o “Timoneiro” deixou o Porto de Manaus conduzindo carga e passageiros para Porto Velho e portos intermediários, além de um intrépido jovem esperançoso de conquistar a sua independência financeira e econômica.

Quem parte leva saudade no coração de quem fica chorando de dor, querendo partir também, sendo, portanto, diferente da alegria de um barco voltando, conduzindo dezenas de pessoas ansiosas pelo reencontro de seus entes queridos, incluindo os tripulantes, vítimas da saudade oriunda da separação familiar em cumprimento dos deveres profissionais, indispensável para viverem condignamente.

Postou-se na polpa do navio para melhor vislumbrar a cidade de Manaus que fica cada vez mais distante, recordando tudo quanto de bom e de ruim, aconteceu depois de haver chegado a Manaus, em companhia de seu saudoso pai. Absorto em seus pensamentos não percebeu que Manaus desaparecera de sua visão, sendo despertado pelo mestre convidando-o a acompanhá-lo até a proa para ser apresentando à tripulação do convés e de máquina, dos quais ia ser o seu taifeiro. Feito isto, sugeriu-lhe procurar o melhor para armar sua rede e a seu lado colocar a gaiola de seu pássaro, no que foi prontamente atendido e agradecido pelo jovem.” Pág. 25-26.

Joaquim José Macedo e seu irmão José Paulo Macedo. (Foto:Acervo Abrahim Baze)

Referências

BRAGA, Altamir. Paizão: A vida de Lourenço da Silva Braga. Depoimento. Altamir Braga. Manaus: Reggo; Nova Métrica, 2015.

“Informações fornecidas pelo antigo funcionário de nacionalidade portuguesa Joaquim José de Azevedo Macedo, que trabalhou no escritório da empresa, no período de 1955 à 1957. Joaquim José de Azevedo Macedo é irmão do também português José Paulo Macedo.”

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