Manaus, 18 de março de 2024

Memória do mundo

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“É verdade que perdemos as coleções do Museu Botânico, a de Ermano Stradelli, a do governador Antônio Bíttencourt, a do senador Sílvérío Nery (…)

A recente realização da Oficina do Programa Memória do Mundo, capitaneada pela UNES-CO, o Arquivo Nacional e a Academia Amazonense de Letras ensejou a que fizesse uma pesquisa, sobre algumas relíquias documentais amazonenses, desde os tempos mais antigos até os dias correntes.

Para não fortalecer a histórica expressão de que “Manaus é a terra do já teve” – frase muito conhecida e às vésperas de ganhar mais ênfase, novamente -, listei não só os acervos perdidos, aniquilados pelos anos, destruídos pela incúria de órgãos públicos ou de colecionadores privados, mas apresentei uma série de coleções que, estão disponíveis, são expressivos e bem podem representar nosso Estado nesse importante registro nacional e internacional de documentos tradicionais e insubstituíveis.

O evento foi um sucesso, seja pela presença de técnicos os mais categorizados de vários órgãos púbicos, civis, militares, eclesiásticos, judiciais e profanos, seja pelas exposições das pesquisadoras enviadas pelo programa nacional, precisamente as professoras Jussara Derenjii e Ana Maria Quaclíno, que deram todas as informações necessárias, fizeram os esclarecimentos e evidenciaram o que vem sendo feito no Brasil e no exterior, visando a inscrição de documentos dessa qualificação.

É verdade que perdemos as coleções do Museu Botânico, a de Ermano Stradelli, a do governador Antônio Bittencourt, a do senador Silvério Nery, e muitas e muitas outras, assim como ainda não conseguimos ordenar os arquivos do Estado, do Poder Judiciário e do Município, nem mesmo da forma mais simples, apesar de muitos esforços neste sentido.

Ao mesmo tempo é verdade que novas coleções públicas e privadas, reunidas ao longo dos tempos, podem muito bem servir a esse empreendimento cultural, como por exemplo as reunidas pelos professores Arthur Reis, Mário Ypiranga Monteiro e Agnello Bittencourt, todos elas em Manaus, devidamente catalogados e bem acondicionadas; os negativos em vidro de Silvino Santos e seus filmes; as plantas de prédios da “belle époque”, que estão na Biblioteca Pública; as plantas originais do projeto do Teatro Amazonas; as belíssimas coleções de Moacir Andrade, em poder da familia, afora as muitas peças que ele andou distribuindo por diversas instituições; as coleções do professor André Araújo; as plantas e estudos de arquitetura de Severiano Porto; o conjunto de pluma ria de Noel Nutels com importantes peças indígenas brasileiras e únicas; as belíssimas coleções de fotos clássicas de ópera, de Mirtyl Levy Júnior; e assim por diante.

Incluir acervo no registro nacional e obter o selo de integrar a “memória do mundo” não vai representar ganho financeiro direto para nenhum detentor da coleção, mas pode servir, muito bem, para estimular patrocinadores em projetos de incentivo fiscal de apoio governamental, e, acima de tudo, oferecer ao conhecimento de qualquer cidadão de qualquer independente de origem ou língua falada, a possibilidade de estudar tais peças, evitando o desperdício de documentes e o desaparecimento dessas coleções.

De mim para comigo que aceitei trazer esse programa para Manaus nos festejos do centenário de fundação da nossa Academia, andei pensando que se trata, de verdade.de momento singular para estimular os bibliotecários, arquivistas e colecionadores e os entes públicos a despertarem para a importância dos seus guardados e verificarem o valor que eles têm não só para expressão da nossa identidade, mas como bem universal.

Vamos ver quem vai obter o primeiro registro amazonense neste panteão.

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