Manaus, 28 de março de 2024

Malditos costumes

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Quem diz que Manaus não consegue manter rotineiramente alguns costumes e tradições comete uma tremenda injustiça. 

O diabo é que quase empre a escolha é por certos costumes que já deveriam ter sido superados ou abolidos há muitos anos. Como, por exemplo, o costume já tradicional da Amazonas Energia deixar o centro de Manaus sem energia elétrica todos os domingos. Quem insiste em morar no centro como eu sabe do que estou falando. O diabo é que este não é o único inconveniente de morar no centro histórico. Há esta falta de energia dominical que nos empurra como uma máquina do tempo enlouquecida para os séculos anteriores à eletricidade. Parece acontecer como ums espécie de contribuição da malfadada Amazonas Energia para alimentar a angústia e mal estar dos viventes desta decadente parte antiga da cidade sorriso, hoje mais banguela que os ganhadores de loterias. O plano de enlouquecimento dos moradores é tão pensado, que nunca se sabe o momento em que as luzes se apagarão. Pode ser antes de sair para o almoço dominical e nos fazer descer a escadaria no mais profundo breu. Ou justamente no retorno, com a pança cheia e precisando apascentar a modorra da macarronada e enfrentar o Gólgota proporcionado pela dita cuja.

Mas o plano diabólico é muito criativo, nesse ponto a Amazonas Energia é muito pródiga. Imagem vocês tá inspirado escrevendo linhas como estas que perpetro nesse instante e a luz apagar abruptamente na centésima página que ainda não havíamos gravado, indo-se na escuridão soturna mais uma obra prima a morrer prematura. Mas esta inglória semana que passou a Amazonas Energia conseguiu chegar ao seu cúmulo. Além do apagão dominical, que até foi rápido, durou apenas 20 minutos. Posso garantir, pois fiquei de olhos secos acompanhando o ponteiro dos minutos, a amaldiçoada conseguiu a façanha de, na quarta-feira, apagar todo o centro, justamente naquela quarta-feira que choveu como escreveria o saudoso Genesino Braga aos cântaros. Eram duas da tarde quando tudo se apagou, esperei impaciente combatendo os mais assassinos pensamentos, lutando bravamente para que estes continuassem em potência e não se realizassem em atos, conforme a filosofia de São Tomás de Aquino, santo que invoco nessas horas de angústia.

Ao completar as 16:30 horas, troquei de roupa e tomei um táxi para ir a um dos shoppings centers, lugares infernais perfeitos para purgar o negrume que me envolvia, pois pelo menos são feericamente iluminados. Ao enfrentar os quatro andares com meu pensamento em Dante e Virgílio, já que na descida na escuridão lembrei-e desses poetas que não conheceram a eletricidade, mas estavam livres de conhecer a Amazonas Energia, encontrei uma vizinha que também fazia a mesma viagem em busca de LUZ. A vizinha, que é uma senhora distinta, mãe de família, viúva e assídua nas missas e novenas da Igreja de São Sebastião, soltou um tremendo palavrão, por sinal bem adequado para classificar as genitoras dos diretores daquela estatal.

Procurei me solidarizar com a enfurecida dama, explicando que os blackouts como aqueles tinham o seu lado bom, pois nos obrigavam a descarregar as frustrações saindo da rotina da cordura que nossa formação educacional nos impunha. Além do mais, procurei ponderar que na verdade a Amazonas Energia não existia realmente para gerar energia, isto era colateral. A estatal era feudo do PMDB e assim sendo seu objetivo principal era dar uma boa vida aos correligionários dessa nobre agremiação política, cuja índole governista nunca negou fogo. Sendo assim, conforme São Tomás de Aquino, o silogismo era simples e direto: a Amazonas Energia é do PMDB, seu objetivo é dar emprego aos apaniguados e não eletricidade. Ainda há quem nega que eletricidade é cultura.

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