Manaus, 19 de abril de 2024

Magnos conflitos 2

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Na semana passada resgatei um pouco da história da luta pelo fenômeno da vida e hoje prossigo dizendo que a questão tomou vulto em 1972 quando foi publicado um relatório organizado por Donella H. Meadows e colaboradores. No mesmo ano a Unesco divulgou o documento final da Convenção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural que o Brasil promulgou em 1977 pelo Decreto no 80.978 (12/12/1977) sendo importante associar esses registros à influência da Conferência da Terra (Estocolmo/72).

O relatório Meadows propôs como forma de desenvolvimento global o crescimento zero, tanto da população como do capital industrial, um posicionamento inverso ao crescimento infinito proposto pela sociedade do modelo produção-consumo. Essa proposta, evidentemente, era voltada para os sistemas humanos (meio ambiente) embora tivesse reflexos positivos sobre os sistemas naturais (ecossistemas).

 

O AVANÇO NO MUNDO

Em 1973 ocorreu a Convention on International Trade in Dangered Species cujo fundamento maior foi reconhecer que “a fauna e a flora selvagens constituem elementos insubstituíveis dos sistemas naturais da terra que devem ser protegidos pelas presentes e futuras gerações”.

Nesse mesmo ano surgiu a segunda edição do filme “Horizonte Perdido” dirigido por Frank Capra mostrando um lugar fictício e paradisíaco – Shangri-la – localizado no Tibet e criado pela imaginação de James Hilton no livro com o mesmo nome lançado em 1925. Nesse local viviam pessoas de várias nacionalidades com vida longa em um espaço onde reinava a paz, a harmonia, a felicidade e o equilíbrio, ideais esses que se coadunavam com as propostas ecológico-ambientalistas da época. Isso fez do dueto livro-filme um marco literário, poético e artístico da luta pelo meio ambiente e pela natureza.

 

O AVANÇO NO BRASIL

No Brasil o movimento também iniciou misturando ecossistemas e meio ambiente, quando em 1957, o gaúcho Henrique Luís Roessler (1896-1963) começou a escrever para o Suplemento Rural do Correio do Povo do Rio Grande do Sul.

 

O PRIMEIRO TEMA

Os mais de 300 artigos de Roessler abordavam não apenas a questão florestal, mas também o desleixo das autoridades com as áreas naturais (ecossistemas), inserindo também questões ambientais como o artigo que teve como titulo “Árvores desvitalizadas” onde denunciou negociatas entre autoridades e madeireiros que retiravam a casca e as camadas externas do tronco que contêm tecido vascular, impedindo, com isto, a circulação da seiva, e assim desvitalizando as árvores que eram dadas como mortas por fiscais coniventes, permitindo, com isso, a retirada de madeira de terras indígenas. Esses textos adubaram a semente de onde germinou a primeira organização brasileira de defesa do meio ambiente –  Agapan – onde militaram pessoas do porte de José Lutzemberg. Na década de 1950-1960 surgiu o movimento dos hippies e beatniks que lutava contra o modelo produção-consumo sem respeito à natureza e a qualidade de vida do homem e cujo símbolo maior foi o rock’n roll, embora a melhor descrição temática tenha sido feita por John Lenon na música “Imagine”. (“Imagine all the people living life in Peace”).

Evidentemente, essa movimentação de massa não tinha grandes fundamentos teóricos e por isso misturava ecologia e meio ambiente, embora o fator resultante fosse um repúdio pelo modelo de crescimento infinito e a defesa por um planeta mais limpo e mais justo. Em 1973 Maurice Strong usou, a expressão ecodesenvolvimento e o Relatório Brundtland propugnava a expressão desenvolvimento sustentável, com esses modelos alternativos ganhando apoio principalmente dos jovens que portavam bandeiras de luta e gritavam palavras de ordem entre as quais: meio ambiente, ecologicamente equilibrado e futuras gerações.

E foi nesse ambiente de contestação mundial que os constituintes brasileiros inseriram na Carta Magna um capítulo sobre Meio Ambiente com um único artigo (225) onde figuram aquelas palavras de ordem que tiveram uma efusiva recepção ufanística na Rio-92, embora a falta de definição ou mesmo de um conceito adequado desses termos,  seja a origem de conflitos (magnos) no trato das questões envolvendo tanto os sistemas naturais (ecossistemas) como o habitat habitado pelo Homo sapiens (meio ambiente). Vou escrever sobre isso na próxima semana.

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