*Bruno de Menezes
No acalanto africano de tuas cantigas,
Nos suspiros gementes das guitarras,
Veio o doce langor de nossa voz,
A quentura carinhosa do nosso sangue.
És, Mãe Preta, uma velha reminiscência
Das cubatas, das senzalas…
Mãe do Brasil, mãe dos nossos brancos ?
És, mãe preta, um céu noturno sem lua,
Mas todo chicoteado de estrelas.
Teu leite, que desenhou o Cruzeiro, escorreu num jato grosso,
Formando a estrada de São Tiago…
Tu que nas Gerais desforraste o servilhismo,
Tatuando-te com pedras preciosas,
Que deste festas de estrondar.
Tu que criaste os filhos dos senhores,
Embalaste os que eram da Marqueza de Santos-
Os bastardos do primeiro Imperador,
E até futuros Inconfidentes…
Quem mais teu leite amamentou, Mãe Preta ?
Luiz Gama? Patrocinio? Marcílio Dias ?
A tua seiva maravilhosa sempre alimentou o ardor cívico,
O talento vivo e o arrojo máximo !
Dos teus seios, Mãe preta, teria brotado o luar?
Tu, que na Bahia alimentaste o gênio poético de Castro Alves…
No Maranhão, a glória de Gonçalves Dias?
Terias ungido a dor de Cruz e Souza ?
Foste e ainda és tudo no Brasil, Mãe preta !
Gostosa, contando histórias de saci,
Ninando murucututu para os teus bisnetos de hoje !
Continuas a ser a mesma Virgem de Loanda,
Cantando e sapateando no batuque…
Quanto sinhô e sinhá moça chupou teu sangue, Mãe preta !!!
Agora, como ontem és a festeira do Divino,
A Maria Tereza dos quitutes com pimenta e com dendê…
É, finalmente, a procreadora cor da noite,
Que desde o nascimento do Brasil te fizeste Mãe DE LEITE..
Abençoa-nos, pois, àqueles que não se envergonham de ti,
Que sugamos com avidez teus seios fartos, bebendo a vida,
E que nos honramos com teu amor.
TUA BENÇÃO, MÃE PRETA !