Manaus, 28 de março de 2024

Lula e 2018

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*Roberto Pompeu de Toledo

A eleição sem ele não ajudará a superar o triplo trauma do atual período presidencial. 

Na pessoa de nosso arquiconhecido Luiz Inácio Lula da Silva, autocognominado “Lulinha Paz e Amor”, quando de bom humor, “Jararaca”, quando ao contrário, e “Metamorfose Ambulante”, quando em ânimo oscilante, repousa a chave da eleição presidencial de 2018. Duas notícias nos últimos dias dramatizaram seu papel no tão esperado evento: (1) a pesquisa Datafolha que apontou seu fortalecimento na liderança das intenções de voto; e (2) a previsão de que ainda no primeiro trimestre sairá a decisão em segunda instância de sua condenação pelo juiz Moro. Confirmada, em tese ele se tornará inelegível, e aí ficaremos na embaraçosa situação de ter o líder das pesquisas impedido de concorrer.

Na eleição de 2018 empenhamos a esperança de superar o trauma do infeliz mandato presidencial de 2015-2019. O trauma se desdobra em três tempos: (1) a reeleição da despreparada Dilma Rousseff, em seguida a uma mentirosa campanha eleitoral; (2) o impeachment, um solavanco institucional difícil de superar, gerador de contestações, mágoas e ressentimentos; e (3) a ascensão à cadeira presidencial do líder de uma turma viciada em fazer da-política um balcão de negócios e das posições de poder um sistema regulador do tráfego de malas de dinheiro. A pergunta é: à eleição de 2018, se realizada com a interdição do principal candidato, cumprirá o propósito de superar o trauma?

A resposta é: dificilmente. Quem quer ver Lula derrotado deve torcer para que o seja nas urnas. Lula impedido será um fantasma a assombrar não apenas a eleição, mas o mandato presidencial que se seguirá. A Justiça tem seu próprio ritmo, e, quanto menos a política interferir em suas decisões, melhor. Não é proibido torcer, no entanto. A boa torcida é para que o processo se prolongue, no próprio Tribunal Regional Federal da 4i Região ou em outras instâncias, e não venha a impedir a candidatura. É feia a gritaria nas redes sociais implorando pela interdição do candidato, de preferência acompanhada de seu encarceramento, em vez de canalizar esforços para vê-lo derrotado no jogo eleitoral.

Lulinha Paz e Amor, Jararaca e Metamorfose Ambulante exibem em comum algumas dúvidas quanto ao futuro próximo. Primeira: Luiz Inácio estaria mesmo com essa bola toda, no panorama pré-eleitoral? Respostas a pesquisas distantes da eleição costumam embaralhar preferência e conhecimento do candidato. No primeiro turno, segundo o Datafolha, ele lidera com 34% a 37%, conforme os possíveis adversários; no segundo, venceria tanto Alckmin (52% a 30%) quanto Marina (48% a 35%) e Bolsonaro (51% a 33%). Mas maior ainda é a vitória quando se pergunta se o eleitor conhece o candidato. Tem 99% de respostas positivas, contra 90% de Marina, 85% de Alckmin e 70% de Bolsonaro.

A segunda dúvida é que presidente seria no período 2019-2023. A Jararaca andou solta no início de suas peregrinações pelo Brasil. Mas na segunda-feira 4, em Vitória, voltou a investir-se no figurino contrário: “Quero voltar a ser o Lulinha paz e amor”, disse. A instigar a Jararaca ele tem na retaguarda a presidente bolivariana do PT, GleisiHoffmann; para insuflar o Paz e Amor, o senso comum de que cresce nas pesquisas quem se abre ao centro do espectro político; para transitar entre um papel e outro sempre há o Metamorfose Ambulante, que prescinde de coerência e de convicções.

A terceira dúvida o dobra em esfinge ao trazer à tona a questão mais pessoal: quererá Luiz Inácio realmente candidatar-se a presidente? Na campanha ele percorrerá um terreno minado por tenebrosas evocações: mensalão, petrolão, apartamento na praia, sítio, o aceno de Gleisi de fazer do Brasil uma Venezuela, a indicação do poste Dilma, o desastre econômico que daí resultou. Terá muito a perder, e perderá de forma acachapante se o caldo desandar no percurso e a derrota for humilhante. O colunistajá disse uma vez e repete agora que fez uma prospecção telepática na mente de Luiz Inácio e descobriu que ele não se candidatará a presidente. Sairá para deputado, opção que lhe acena com quatro vantagens: (1) vitória certa; (2) acréscimo, na esteira de uma gloriosa votação, de um reforço à bancada do PT; (3) conquista de foro privilegiado; (4) volta à estaca zero dos processos a que responde. Os prêmios são bons demais, garantidos demais para “Macunaíma” (o herói sem nenhum caráter), apelido pespegado por seus críticos, refugar. 

*Jornalista. Artigo na Revista Veja nº. 2560, de 13/12/2017.

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