Manaus, 19 de abril de 2024

Lembranças da Academia

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“Sim, porque carregar comigo, por tanto tempo, minuciosamente, algumas decepções e tristezas, pesaria mais do que deixá-las guardadas no livro do passado (…).

Estando na presidência da Academia Amazonense de Letras, agora centenária, tenho estimulado acadêmicos das antigas a escreverem suas memórias, especialmente dedicadas a fatos que tenham sido registrados no seio da instituição. Afinal, a vida das instituições costuma pulsar principalmente pela presença marcante de seus membros.

Atendendo a tal solicitação foi que Newton Sabbá Guimarães enviou, no começo da noite passada, um texto irrepreensível, como tudo que escreve, recuperando as suas memórias acadêmicas, desde antes de seu ingresso, passando pela festa de acolhimento e por sua experiência na secretaria e nas reuniões da entidade.

Confesso aos leitores que fiquei por demais bem impressionado.

Texto limpo, escorreito, recorrente a passagens com outros escritores que também escreveram sobre as instituições a que pertenciam, algumas vezes expondo as suas vísceras, meu velho amigo Newton Sabbá, ilustrado e erudito que é, com elegância, narrou passagens curiosas e primorosas da nossa Academia na qual ele vai completar cinquenta anos de vivência, em breve.

Ao ler tal preciosidade, assim tratada pela linguagem, citações e comparações com outros autores e também por reconstituir passagens únicas que a memória guardou, o autor acendeu em mim uma vontade ímpar de também recompor algumas cenas que presenciei não só no Silogeu, como no Instituto Geográfico e Histórico, no Conselho Estadual de Cultura, nos tempos de estudante, e, mais do que isso, contar e recontar o que fiquei a ouvir em longas conversas com amigos que compunham, a velha guarda dessas instituições.

Reconstituir o que diziam André Araújo, João Corrêa, Matheus da Silva (o sapateiro das letras, culto e bom leitor), padre Nonato Pinheiro, Paulo Nery, Rodolpho Valle e ‘outros, muitos outros.

Reavivar às alegações que algumas personalidades apresentavam para explicar ou justificar algumas atitudes tomadas no campo da política partidária.

Reacender os bastidores de algumas eleições acadêmicas ou não, levadas a ferro e fogo, inflamadas ao termo do fígado por alguns, os quais, algumas vezes, vieram a constatar, ainda que tardiamente, o desacerto da proteção que ofereceram a candidato.

Confesso que senti breve arrependimento de não haver produzido, ao longo dos anos, logo após os acontecimentos, as anotações em diário na forma getuliana, por exemplo, unicamente como forma de não deixar lacunas que a memória livre costuma permitir.

De outro lado, sinto-me livre, leve e solto por não ter registrado o dia a dia de tantos anos de experiência funcional e de fraterna convivência como amigos diletos, conhecidos próximos, figuras exponenciais das letras, das artes, da política, das ciências, da vida social e mundana (no bom sentido).

Sim, porque carregar comigo, por tanto tempo, minuciosamente, algumas decepções e tristezas, pesaria mais do que deixá-las guardadas no livro do passado, e, vez em quando, ao tempo em que aflorem por vontade própria, sejam objeto de textos avulsos pela imprensa, contadas em roda miúda, servindo como exemplos para os coestaduanos.

Há os que ganharam o encantamento antes da posse; os que renegaram a eleição para o sodalício; os que pediram respeitosa licença para nele ingressar; os que pretenderam arrombar-lhe as portas; os que reivindicaram em juízo a recontagem dos votos; os que renunciaram a escolha quando jovens e ao cair do tempo acorreram à Casa; os que se vestiram de anjo ao pedir votos e se transformaram em dragão depois de eleitos, e outros e tantos outros …

Quando for publicado na Revista da Academia Amazonense de Letras o texto singular a que me refiro, lavrado quase aos oitenta anos de vida do monarquista, professor, doutor, poliglota e poeta recolhido, Newton Sabbá Guimarães, vai animar outros acadêmicos a contarem suas lembranças, em prosa que dará o traço humano dos imortais amazonenses.

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