Manaus, 19 de março de 2024

José Manoel de Macedo e a Casa Mesquita

Compartilhe nas redes:

Macedo nasceu na Vila de “Ferreiros/Amares-Braga, em Portugal”, no dia 12 de abril de 1890. Emigrou para o Brasil com destino a cidade de Manaus, em 1901, na companhia do dono do “Armazéns Colombo”. 

A verdade é que, para reconhecer-se em toda sua extensão, em todo seu significado e em toda as suas minúcias, o que tem sido as ações dos portugueses que imigraram para a Amazônia e, em especial, para o Estado do Amazonas, é, fundamentalmente, indispensável saber como eles aqui chegaram, como se aclimataram e, de que forma exerceram suas inserções na vida comercial da nossa cidade.

Manaus daquele período, com uma população aproximada de duzentos e cinquenta mil habitantes, tinha seu conglomerado urbano residencial e comercial nas principais ruas do centro da cidade e, que viviam harmonicamente. Cumpre ver como eles, aqui, trabalharam e seus descendentes continuam, aqui, trabalhando para promover nosso desenvolvimento econômico, social e cultural, quer pelo caldeamento operado pela formação de famílias e em outros casos o retorno à terra de origem. Para os que ficaram, criaram as mais remotas e profundas raízes da unidade regional, sempre mantendo as tradições de suas origens.

O reconhecimento dessas circunstâncias constitui o mútuo e legítimo orgulho daqueles que ficaram e aqui mantêm suas histórias com boas lembranças, na verdade de uma cidade que não existe mais. Foram muitos os que atuaram na atividade comercial em armazéns de secos e molhados, bares, mercearias, padarias, pequenas e grandes casas comerciais, exercendo uma salutar atividade econômica que, de certa forma, proporcionou ao Amazonas o seu desenvolvimento. Essas verdades históricas resultam do espírito desbravador daqueles que aqui chegaram primeiro e fincaram raízes, muitos, na sua maioria, entregaram seus ossos a nossa terra. Como destaca o professor Samuel Benchimol:

“… Essas cidades-capitais, assim se chamavam, porque representava a força, o vínculo e as raízes. Não apenas as raízes, mas também, como centros urbanos que serviam à população, comércio, produção e radicados nos arredores e centros mais distantes.”¹

“… A revelação da Amazônia ocorreu, desse modo, nos marcos da Revolução Comercial, vasto movimento de incorporação de novos espaços ao mundo conhecido.”²

Casa Mesquita na avenida sete de setembro. (Foto:AcervoAbrahimBaze)

Braga Uma Importante Cidade ao Norte de Portugal

“… As inúmeras cidades do norte de Portugal, foram do final do século XIX entre tantas outras as que enviaram seus imigrantes para a Amazônia, com destaque para Belém do Pará e Manaus no Amazonas. A história de Braga perde-se na noite dos tempos. Com efeito, esta cidade foi fundada pelos romanos a mais de dois mil anos. Contudo, a região circunvizinha já estava povoada durante as Idades do Bronze e do Ferro e, ao tempo da Fundação da Cidade, era dominada pelos Brácaros – cujo nome haveria de ficar associado para sempre a nova povoação e posteriormente pelos Romanos, que edificaram de raízes a cidade propriamente dita, a partir do ano 16 a.C. Em homenagem ao Imperador Augusto, chamaram-lhe Bracara Augusta. Eis então, a origem de tantos portugueses que escolheram a cidade de Manaus para trabalhar e viver.”3

José Manoel de Macedo nasceu na Vila de “Ferreiros/Amares-Braga, em Portugal”, no dia 12 de abril de 1890. Emigrou para o Brasil com destino a cidade de Manaus, em 1901, na companhia do dono do “Armazéns Colombo”, Casa Comercial que haveria de ficar trabalhando como caixeiro, mais tarde, passou a trabalhar como empregado da “Casa Mesquita,” de propriedade do senhor Joaquim Mesquita. Neste período, a cidade de Manaus ainda respirava uma respeitável economia do período do látex. Anos mais tarde, imigraram, Antônio Fernandes Barbosa para trabalhar na Empresa “E. V. de Oliveira,” Abel Fernandes Barbosa para trabalhar na “Casa Mesquita” e, Eduardo Fernandes Barbosa para trabalhar na Empresa “J. A. Leite Navegação”, era o ano de 1939.

Isabel Barbosa de Macedo. (Foto:AcervoAbrahimBaze)

É nesse período de riqueza e prosperidade econômica que Manaus passa pela reurbanização, o que se pode dizer que, trata-se da dialética da modernidade e da economia a qual possibilitou a materialização dessas conquistas modernistas e identificadas como “Belle-Époque”. A modernidade entendida como expansão da riqueza, ampliando as possibilidades da imigração de mais estrangeiros, principalmente portugueses, com a cidade de Manaus participando da expansão do mercado internacional, especialmente, com a exportação de produtos regionais, com isso, tivemos urbanização e crescimento da cidade, transformando bares e cafés em lugares onde pessoas circulavam e exibiam seu poder de riqueza.

Essa vitalidade urbana, manifestava-se, também, através do vestir, do comer, a construção de prédios Arte Nouveau, luz elétrica, bondes serpenteando a cidade até os arrabaldes periféricos, carros importados, tudo isso, traduzia-se, de certa forma, na expressão do poder de uma nova classe a qual se instalava em Manaus.

Trabalhando duro em Manaus, José Manoel de Macedo, amealhou algumas economias e, com isso, tornou-se proprietário da “Casa Mesquita”, que, neste período, já gozava de excelente conceito na cidade de Manaus. Formatava e montava altares para casamentos, produzia decorações, caixões, molduras e importava santos, de origem portuguesa, também, era colchoaria, produzia colchões de palha de crina. Tendo seu primeiro espaço de funcionamento um prédio alugado na Avenida Sete de Setembro, exatamente, onde se encontra, hoje, o Banco Bradesco. Comprometido com o trabalho e após algumas economias, compra o prédio do outro lado, na mesma avenida, onde por longos anos permaneceu a sede da empresa.

Homem de fina educação e excelentes relacionamentos, José Manoel Macedo, entendeu que deveria aspergir seu relacionamento social, o que ocorreu de forma florescente e progressiva, sem jamais imaginar que sua história vivida de forma simples no comércio local, tornar-se-ia interessante e, por tantas vezes, honrosa, principalmente, pela preocupação de honrar seus compromissos e preservar suas amizades. Sempre havia motivo para grande regozijo. Desta forma, acompanhado com outros nomes não menos ilustres fundou e presidiu, entre 1913 e 1914, na rua da Instalação nº 17, a Associação dos Empregados no Comércio do Amazonas, foram tantos os que lhe acompanharam nesta jornada, tais como: Raymundo Alves Tribuzy; Salvador Braulio de A. Montenegro; José Ignacio de Medeiros; Paulino Brasil; Francisco Salles Vieira; Júlio Marques Ferreira; Manuel Esteves Coutinho; Francisco Amorim; Manuel Antônio Gomes; Eduardo E. de Araújo; Armindo Soares de Medeiros; Anacleto Pereira de Albuquerque; Gentil da Costa Ferreira; Raymundo Cantuaria; Luiz S. da Silva; Abílio Silva e Sá; Francisco E. de Araújo; Agnello L. da Silva; Abdon de Medeiros; Carlos S. Cabral; Carlos N. da Costa Machado; Izidoro Chã; Virgílio Xavier; Antônio Lamarão; este, tronou-se, em 1912, fundador do Luso Sporting Club, na sua maioria portugueses.

José Manoel de Macedo casou-se com senhora Isabel Barbosa de Macedo, tendo retornado a Portugal, exatamente, para a Vila de Ferreiros/Amares-Braga, em 1957. Ficou na administração da “Casa Mesquita” o senhor Abel Fernandes Barbosa, o tempo passou e, o senhor José Manoel de Macedo veio a falecer em Portugal, no dia 8 de setembro de 1963. Passaram-se alguns anos e sua esposa Isabel Barbosa de Macedo resolveu, de comum acordo, descontinuar a empresa “Casa Mesquita”, desta forma, a empresa, já com novo nome de “Funerária São Bento” passou para administração do senhor Abel Fernandes Barbosa e Abel Fernandes Barbosa Júnior. Em determinado momento, a proprietária do imóvel, a senhora Isabel Barbosa de Macedo resolve vender o prédio e, consequentemente, a “Funerária São Bento” transferiu-se para a Avenida Constantino Nery. Tendo mais, transferido-se para a Rua João Valério.

A Manaus dos anos cinquenta, apesar da crise do látex, continuava bucólica e atraente, mantinha seu planejamento urbano, moderno, preservando sua origem de um período importante da nossa economia. Havia uma movimentação de modernidade no ar, com boas lembranças do romantismo de anos atrás. As grandes empresas aviadoras ainda respiravam e tentavam soergue-se economicamente, vivia-se assim, em permanente clima de instabilidade econômica e comercial. Apesar de tudo isso, a procura de portugueses para se estabelecer em Manaus, ainda era expressiva, afinal, outras empresas trabalhando com ramos comerciais diferentes, instalavam-se aqui e faziam o contraponto da nossa economia.

É nesse clima de esperança de dias melhores, que o português Joaquim José Azevedo de Macedo, que nasceu na Vila de Ferreiros/Amares – Braga, no dia 27 de abril de 1933, sobrinho de José Manoel de Macedo, resolveu imigrar para Manaus em março de 1954. Trabalhou na “Casa Mesquita”, por um período e, em 1956, passou a trabalhar na empresa “J. A. Leite Navegação & Cia Ltda, posteriormente, para a empresa S. Monteiro, loja tradicional de eletrodomésticos. Em 1964, abre a sua própria empresa, no ramo de peça e acessórios automotivos.

A família Macedo, atores da vida comercial e do cenário econômico de Manaus, haveria de ter mais um imigrante anos depois. Dessa forma, o jovem português, também membro desta tradicional família, José Paulo Azevedo de Macedo, nascido na Vila de Ferreiros/Amares-Braga, no dia 06 de maio de 1955, sobrinho e criado por José Manoel de Macedo e por sua tia Isabel Barbosa de Macedo, vem para o Brasil, em companhia de sua tia Isabel, transcorria o mês de setembro de 1965.

Em 1973, começa a trabalhar na empresa Oliveira Barbosa & Cia, que nesse período representava a VARIG em Manaus. Em 1976, a VARIG, instala sua própria agência na cidade, foi um período importante na economia, a instalação de agências de empresas aéreas. José Paulo Azevedo de Macedo permanece trabalhando até março de 2006. Em 2007, inicia o curso de Arquitetura e Urbanismo, atividade em que atua nos dias atuais.

Há de se destacar que Joaquim José Azevedo de Macedo e José Paulo Azevedo de Macedo, são testemunhas vivas dessa tradicional família, que Manaus acolheu. Os dois irmãos, apesar de não esquecer suas origens, continuam escrevendo suas lembranças em rascunhos de velhos cadernos e tudo isso confunde-se com a simplicidade da gente da nossa Manaus. Os irmãos são dois elos de fortes ligações com esta importante família portuguesa e marcam de forma indelével e universalmente as suas presenças luminosas entre nós.

Referências

¹BENCHIMOL, Samuel – Manáos-do-Amazonas: Memória Empresarial 1994. Edição do Governo do Estado do Amazonas. Universidade do Amazonas. Associação Comercial do Amazonas. Vol. 1. Pág. 4.

²FERREIRA, Sylvio Mário Pulga. Federalismo, Economia, Exportadora e Representação Política: O Amazonas na República Velha: 1889-1914. Editora da Universidade Federal do Amazonas. 2007. Pág. 22.

3TEIXEIRA DE PASCOAES, in SÉRGIO DA SILVA PINTO, Estudos e Comentários, vol. 1, Câmara Municipal de Braga, 1973, pág. 283.

(Informações e pesquisa com o senhor José Paulo Macedo, membro da família.)

(Annuario de Manáos por Silva Ferraz, 1913-1914.)

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques