Manaus, 28 de março de 2024

Itacoatiara

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Manoel Cansanção Marinho*

Itacoatiara, minha cidade de menino criança. Faz tempo.

Muito tempo. Não te vejo, mas na lembrança estou aí, aí junto a ti.

Quem sabe se um dia aconchegaremos?! Estou separado de ti há dezenas de anos. Três mil quilômetros. Horizontalmente, onde o belo me cativa das saudades que tenho de ti. Mas um dia, quem sabe? Como menino criança, correndo atrás de papagaio e curica, tentando te alcançar para ti abraçar e matar minhas saudades que ficaram essencialmente em mim. Depois acontecerá o inevitável – meu retorno: abraçar-te-ei em ternuras ao chegar chegando de minha viagem horizontal. E humilde pedir perdão por minha ausência, mas se não me deres e não me abraçares com teu peito junto ao meu, ofegante, Itacoatiara, voltarei perambulando, trôpego e em prantos cantarei meu último verso: adeus, de teu filho que saiu saindo em prantos; mas depois sorriu sorrindo ao reencontrar os braços horizontais do horizonte.

 

*Manoel Cansanção Marinho nasceu em Itacoatiara em 18.04.1935. Em 1957 deixou a terra natal e passou por Manaus, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O texto acima integra o seu livro “Poemas e contos”, editado antes dele falecer em 1999. De São Paulo (novembro/2000), sua irmã  Wanda me remeteu um volume da obra com uma tocante mensagem lembrando a paixão da família por Itacoatiara.

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5 respostas

  1. Manoel Cansanção Marinho! Estudei com o Manoesl, na Fafi-bh, nos anos de 1970 (Letras). Mais tarde, ele fex estágio nas turmas onde eu lecionava, no Colégio Monte Líbano II, co-irmão da Fafi, por pertencerem à Fundação Cultural de Belo Horizonte.

    Nossos encontros nos bares da Lagoinha, em BH, após as aulas, era um verdaeiro Sarau (Manoel, Heitor e eu), quando, entre uma cerveja e outra, ouvíamos: “Era madrugada e fazia frio, ferio e o Cabaré Chinelo não havia cerrado ainda as suas largas portas, e Rosa, que outrora fora bela”…

    Depois, quando frequentávamos um curso de Pós-Graduação, o Manoel dizia: “Quem diria, um negro (eu, no caso) e um índio pós-graduados…”. A presença do Manoel era alegria e descontração. Na época, ele trabalhava em Banco. Fui ao casamento de uma filha dele…

    Segui para Brasília (1988), em transferência militar (Exército), e não mais vi o Manoel. Ficou, porém, na minha lembrança, a figura do amigo e colega de tragos e de boas conversas.

    Suas produções literárias eram sempre agradáveis de ouvir…

    Gostávamos de ouvir e também de recitar uns versos que ele dizia ser de autoria desconhecida:

    “Na eterna embriaguez, no vício da cachaça,

    Eu tenho levado a minha vida ultimamente;

    Com as mãos nervosas e já trementes,

    Aperto a mão da morte em cada taça.

    Bebo, para viver contente – para viver longe da desgraça:

    Viver como um palhaço, mas, pelo menos, viver fazendo graça.

    E, se alguém, junto a mim, ironiza o meu viver assim,

    Bebo mais uma taça, para matar o meu desejo;

    Porque, olhando em torno de mim, vejo:

    Tanta gente a sorrir de mim, somente,

    E eu somente a sorrir de tanta gente”.

    ***************************************************

    Saudades do inesquecível amigo. Que Deus o tenha!

    Getúlio Rosário Caetano, Nerópolis-GO: grcaetano@yahoo.com.br

  2. As produções literárias do Manoel Cansanção Marinho, creio, merecem ser publicadas em Itacoatiara. Seria uma grande homenagem póstuma àquele poeta, para honra de seus familiares e amigos.

    Localizei este blog, ao procurar notícias do amigo Manoel e, ao digitar seu nome no google, cheguei a esta página do emérito Francisco Gomes, o qual, tenho certeza, irá fazer alguma coisa pelas obras do Manoel, filho de Itacoatiara.

    1. Olá, Sr. Francisco!

      Tive a grata satisfação de conseguir por meio deste Blog notícias do meu falecido amigo Manoel Cansanção Marinho, filho desta cidade.

      Depois disto, tentando informações a respeito de outra pessoa que estudou no Colégio Militar quando eu lá trabalhava como Sargento monitor de alunos, fiquei sabendo das relações dessa pessoa com a Cidade de Itacoatiara e com o Estado do Amazonas.

      Trata-se do Dr. Audaliphal Hildebrando da Silva, que têm realizado muito pela sociedade aí na Região Norte do País. Talvez, seja pessoa de suas relações.

      Encontrei-me com o Dr. Hildebrando em Brasília, bem depois. Agora, fiquei muito entusiasmado em saber do que ele tem feito como homem público.

      Este meu depoimento é devido à proximidade de sua atuação profissional com a exercida pelo Dr. Audaliphal.

      Eu que atuei na área de formação de jovens e que hoje estou aposentado, fico, realmente, contente em saber de pessoas como o Sr. e o Hildebrando, que têm dado exemplo de ações em benefício da humanidade.

      Um grande abraço!

      Getúlio Rosário Caetano

  3. Prezado Getúlio. Continue mandando. É um prazer. Estamos em contato com a Academia Itacoatiarense de Letras (por favor acesse o blog do seu presidente Frank Chaves) para sugerir-lhe estudar sua proposta de homenagem ao nosso poeta Cansanção. Quanto ao doutor Audaliphal, não o conheço pessoalmente, porém sei que se trata de um humanista, atualmente desembargador do Tribunal do Trabalho do Amazonas, que tem lutado para extirpar o trabalho escravo em nosso Estado. Abraços

  4. Olá! Sou professora do CPM de Ilhéus. Hoje fazendo uma visita a meu pai Fernando Pedreira, 82 anos, natural de Itabuna, ele recitou: na embriaguez do vício e da cachaça… Daí digitei esse trecho no Google. Ficamos muito felizes em encontrar essa página. Meu pai ouviu quando rapaz esses versos e nunca esqueceu. Só não sabia o autor…

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