Manaus, 28 de março de 2024

Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas realiza Ciclo de Palestras

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O Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas – IGHA realizou, no período de 28 a 30 de novembro último, o Ciclo de Palestras “O Apagamento da Memória”, sob os auspícios da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM e apoio da Secretaria de Estado da Cultura – SEC e da Fundação Universidade Aberta da Terceira Idade – FUnATI. Participaram do momentoso evento os presidentes e/ou representantes dos institutos históricos do Pará, Pernambuco e Santarém/PA, além de membros de vários órgãos do Estado do Amazonas envolvidos com o tema cultural. Com o objetivo de colaborar para a preservação da memória coletiva, referido simpósio teve o propósito colaborativo focado na formação de uma consciência da necessidade de preservar o patrimônio documental em nosso País e sobretudo da Amazônia. Os trabalhos foram dirigidos pelo presidente do IGHA, José dos Santos Pereira Braga, e contou com o assessoramento direto do vice-presidente Francisco Gomes da Silva e da Comissão Organizadora composta dos intelectuais Marilene Corrêa da Silva Freitas, Edinea Mascarenhas Dias e Rosa Mendonça de Brito. Ao final foi elaborada a Carta de Manaus que, assinada pelos principais agentes do simpósio, será encaminhada a quem de direito – documento que anexamos a esta notícia.

Carta de Manaus

Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas – IGHA realizou, nos dias 28, 29 e 30 de novembro, sob os auspícios da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM, o Ciclo de Palestras sob o tema “O apagamento da Memória”. O evento foi aberto pelo professor doutor José dos Santos Pereira Braga, presidente do IGHA, tendo como conferencistas: o historiador Robério dos Santos Pereira Braga, ex-presidente do IGHA e presidente da Academia Amazonense de Letras; a historiadora Antônia Terezinha dos Santos Amorim, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós – IHGTap; o historiador Sílvio Tavares de Amorim, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco – IHGP; o professor e filósofo Robson Wander Costa Lopes, membro e representante do Instituto Histórico e Geográfico do Pará – IHGPa; os historiadores Júlio Santos da Silva Aguinaldo Nascimento Figueiredo, membros do IGHA; os historiadores Geraldo Xavier dos Anjos e Antônio José Souto Loureiro, membros e ex-presidentes do IGHA; o jurista Paulo Fernando de Brito Feitosa, membro do IGHA; a professora doutora Marilene Corrêa da Silva Freitas, oradora oficial do IGHA, socióloga e pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; a senhora Maza Said Lopes, assessora do Arquivo Público do Estado do Amazonas; a senhora Maria Clara Gama Bentes, gerente do Departamento Técnico da Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa – SEC-Am; o historiador Raimundo Pereira Pontes Filho, pesquisador e professor da UFAM; o historiador Dysson Teles Alves, diretor geral do Museu Amazônico/UFAM; e o médico e pesquisador Euler Esteves Ribeiro, membro do IGHA e reitor da Fundação Universidade Aberta da Terceira Idade – FUnATI. Atuaram como coordenadores de debates: o professor doutor Marcílio de Freitas, o escritor e jurista Pedro Lucas Lindoso, o poeta e ensaísta Elson José Bentes Farias, o geólogo Hailton Luiz Siqueira da Igreja, a professora doutora Rosa Mendonça de Brito e os historiadores Júlio Antônio LopesAbrahim Sena Baze e Francisco Gomes da Silva – membros do IGHA e o último atual vice-presidente da instituição. O simpósio teve a participação especial de Giovanny Conte, violinista da Filarmônica Amazonas, e foi prestigiado por várias autoridades, grupos de intelectuais, professores, estudantes e outros segmentos da sociedade civil.

Ao final dos trabalhos, lavrou-se esta Carta de Manaus, assinada pelos enunciados e lida pela professora Edinea Mascarenhas Dias, membro, ex-presidente e atualmente secretária geral do IGHA. Tal documento, fiel aos ideais preconizados pelo Programa Memória do Mundo (MoW), criado em 1992 pela UNESCO com o objetivo de preservar e dar acesso público à memória coletiva e documentada de todos os povos da humanidade, tem um propósito colaborativo focado na formação de uma consciência da necessidade de preservação do patrimônio documental do nosso País e especialmente da Amazônia.

Laboraram bem os palestrantes e debatedores que compareceram a esta Casa da Memória Amazonense. Ao tratarem sobre memória e identidade em nosso País foram lúcidos e corajosos. Suas lições/intervenções – permeadas de conteúdo doutrinário, além de informações e exemplos práticos, produtos de uma sólida formação cientifico-cultural e da sua experiência profissional de muitos anos – alentaram as plenárias deste conclave resultando num exemplo perfeito de interação. Sem dúvida, as teses advindas deste simpósio alertam para as graves consequências do apagamento da memória nacional e, em paralelo, pugnam pela necessidade de se realizar um inventário dos lugares onde ela se encontra presente, seja pelo desejo de homens e mulheres ou através do passar dos tempos. Demais disso, tratam de incentivar múltiplos projetos e atividades pró-memória não só a partir de uma perspectiva nacional, mas também regional e local.

A redenção da memória constitui um projeto essencial. Esta é uma missão de todos nós. Não só porque ela tem o poder de reconsiderar e de reescrever a história oficial, mas também porque possui a capacidade de confirmar identidades previamente marginalizadas. Diversamente, o apagamento da memória é um atentado contra a preservação, é uma forma de desconstruir o imaginário nacional e regional. Isso ficou claro, durante os três dias de debate, em que ecoou forte o brado contra o esquecimento. Prevaleceu o desejo de preservar, arquivar e resgatar recordações. À unanimidade, os participantes do conclave demonstraram enfaticamente que as memórias são capazes de sobreviver. Como explica Thomas Butler (1989), “[…] a memória não é apenas o que nós pessoalmente experimentamos, aperfeiçoamos e retemos, mas também o que herdamos de gerações anteriores e passamos para a próxima”.

Combater o apagamento da memória, obviamente, pressupõe defender e tornar vivos e atuantes os chamados “lugares de memória” que vão do objeto material e concreto ao mais abstrato, simbólico e funcional. Segundo o historiador francês Pierre Nora (1989), “[…] Podem tratar-se de um monumento, de uma personagem, de uma estátua ou pintura, de um museu, de arquivos, bem como de um símbolo, de um evento ou de uma instituição. […] Devem possuir uma ‘vontade de memória’, devem ter na sua origem uma intenção memorialística que garante sua identidade. Sem essa vontade, os lugares de memória são lugares de história […]. Memória é a vida, sempre alcançada pelos grupos viventes […] ela está em evolução permanente […] inconsciente das suas deformações sucessivas […] e a história é a reconstrução sempre problemática e incompleta daquilo que não é mais […]. A memória é um absoluto e a história não conhece outra coisa que não o relativo”.

Combater o apagamento da memória significa superar nossos lamentos sobre o pretérito e juntar esforços para manter acesa a chama da produção e a difusão do conhecimento, realizando, pois, aquilo que nos é essencial: o fazer história e perpetuar a memória.

Apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pelas instituições de pesquisa da região amazônica, nossos institutos históricos, arquivos e museus têm sobrevivido, atraindo estudiosos e pesquisadores de várias partes do Brasil e do mundo. Como “lugar de memória” e depositário de relevantes acervos bibliográfico, arqueológico, etnográfico e de jornais datados desde metade do século XIX – considerados preciosidades da instituição ao longo de seus 102 anos de existência – o IGHA tem contribuído para a escrita de muitas histórias tornando inquestionável seu papel na defesa da memória nacional e regional.

Ao encerramento deste Ciclo de Palestras, os que subscrevem a presente Carta de Manaus comprometem-se a: 1)  lutar para manter viva a memória local e regional mediante a realização de encontros, seminários, palestras, exposições e outros eventos capazes de cumprir com esse ideário; 2) estreitar contatos e trocar experiências com institutos, arquivos e museus da região amazônica; e 3) manter-se em interação permanente com instituições congêneres regionais e nacionais.

Manaus (Am) – Salão Dom Pedro II do IGHA -, 30 de novembro de 2019

Acompanham 25 assinaturas referentes às pessoas relacionadas no preâmbulo deste documento.

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