Manaus, 29 de março de 2024

Inspiração para nossa arte

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Durante todo o processo de formação da identidade nacional e a criação da cultura brasileira, a Arte do Amazonas teve participação de primeira grandeza.

O estado legou ao Brasil alguns de seus mais notáveis artistas e criadores, seja no campo das letras, da música, das artes visuais, do cinema e da dança. Não temos nenhum problema em nos ombrear com qualquer outra unidade da federação em termos de influência e contribuição, muito menos em cultivar sentimentos de inferioridade. O Amazonas tem sido um espaço de inspiração aberto ao mundo, pelo exemplo criador de seu povo, pela rica cultura milenar dos povos ‘indígenas e por sua perfeita integração à corrente principal da Civilização Ocidental. A literatura e o teatro são as formas de arte de maior tradição no Amazonas. No século XVIII surge o nosso primeiro autor nativo.

Chamava-se Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha e nasceu em Barcelos, no dia 4 de setembro de 1769, filho de Raimundo de Figueiredo Tenreiro e de Tereza Joaquina Aranha. Ao perder os pais, ainda na primeira infância, ficou sob a tutela de um amigo da família, homem duro, insensível, que obrigou o pequeno órfão ao trabalho na roça. Aos doze anos, entrando na adolescência, como é comum nos trópicos, Bento Aranha procuraria o amparo de seu padrinho, o vigário geral Dom José Monteiro de Noronha, que o mandou estudar no convento de Santo Antônio, onde completaria os estudos preparatórios, passando mais tarde para as aulas dos padres Mercedários. Quando se preparava para viajar para Coimbra, aos dezenove anos, vê-se impossibilitado de recursos devido a um ato de sequestro da Fazenda Real sobre os seus bens herdados.

Vendo cortadas as perspectivas de formação universitária, deixa-se ficar no Pará, onde conhecera a jovem Roselena Espinoza, com quem iria se casar. O amazonense, educado entre padres, ávido leitor de obras clássicas, homem pacato, burocrata colonial, se não pode ser considerado hoje um poeta de primeira grandeza, pelo menos é destes talentos bem formados, de inspiração tranquila e parte daquela estatura de poetas menores que pela qualidade fazem em conjunto qualquer literatura. O seu talento de dramaturgo é maior e mais significativo, um dos mais importantes que o Brasil teve no século XVIII, abandona em sua obra, ao mesmo tempo, a velada epopeia dos versos da colonização e a objetividade conquistadora dos clássicos portugueses, para tentar uma poesia de festejos, paroquial, nos limites que o bom tom da época permitia. Diga-se de passagem, ele nunca pretendeu sair desse limite.

No entanto, às vezes, se desnudava em queixas sentidas, resvalava para as suas próprias frustrações, mostrava a sua vida coroada de injustiças e tendia para um lirismo extremamente sofrido. Tenreiro Aranha foi realmente o primeiro artista autenticamente amazonense. Sua obra está muito mais próxima da verdade que os homens experimentavam na região. O poeta era um fruto da terra; portanto, não sendo português, mas vivendo como tal, a dualidade ria marcar a sua existência, Por isso, era um espírito fadado ao martírio e não apenas uma postura cheia de incômodos. É no texto de seus dramas, nas deixas de suas simbólicas personagens teatrais que o poeta se aproximará da realidade e das contradições sociais do tempo.

Tenreiro Aranha, vivendo na região mais imoderada do mundo, fez o teatro da moderação, o drama pastoril da decadência do mercantilismo e da falência do poder português no Brasil. No drama A Felicidade no Brasil, em um ato, levado à cena no Teatro Público do Pará em 1808, o dramaturgo ousa insinuar a necessidade da independência e arrebata-se com a grandiosidade do destino de sua pátria que amanhecia. Em 23 de dezembro de 1793 ele criou e encenou a primeira Ópera da Amazônia.

Esta mesma obra, 230 anos depois, será vista em Manaus no dia 24 de outubro, dia do aniversário da nossa capital.

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