Manaus, 29 de março de 2024

Iate e jet ski para o balatal

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Entre as histórias de minha infância vivida, com enorme dose de sadia inocência, no Principado de Itacoatiara, lembro de uma que falava sobre um barco carregando políticos derrotados para um local chamado balatal que minha imaginação infantil entendia como local de castigo para os perdedores. Penso que isso me condicionou a não entrar na política e a lutar honestamente para vencer na vida.

Anos depois, em Manaus, ouvia meu pai, que era do PSD falar, na nossa casa ali na Leonardo Malcher quase esquina com a Ferreira Pena, sobre a ida de Severiano Nunes (que era da UDN) para o balatal. Até hoje não sei a origem dessa sátira política, mas lembro que na década de 1950 a Rádio Difusora fazia uma transmissão simulada da saída de um barco da ilha de Marapatá, levando os derrotados em direção ao balatal. A sátira é complexa porque a ilha de Marapatá era o local onde, na época da borracha, os viajantes tinham que deixar a vergonha antes de chegar à Manaus, recuperando-a no momento da partida.

A balata

Cientificamente a balata é uma goma elástica, semelhante á borracha, extraída de duas espécies – “Mimusopis amazônica” e “Manikara bidentata” – utilizada, na época de minha infância pela indústria bélica para fabricação de máquinas de extermínio para a Segunda Guerra.

O jornalista Marcio Noronha, em seu blog, conta que ouviu da avó, em sua infância vivida no bairro do Alvorada, essa história de balatal à qual ele acrescenta que era uma viagem sem volta. A vida no balatal  foi contada por Silvino Santos e Agesislau Araújo no filme “O paíz das Amazonas” onde os cineastas revelam a dura luta pela sobrevivência no sofrido extrativismo amazônico e esse é mais um caminho para refletir sobre o destino dos derrotados que teriam que trabalhar duro para sobreviver em vez de ficarem aspirando mamar nas tetas do poder público.

O balatal hoje

Neste domingo dia 07 de outubro de 2012, por volta das 18 horas saiu um enorme iate, completamente lotado de candidatos derrotados, com destino ao balatal e a expectativa é que, se algum dia voltarem, o façam com ideais de trabalho e não de sinecuras. A viagem será em um iate porque alguns candidatos derrotados ficaram ricos na política e não vão viajar em gaiolas ou em redes desconfortáveis sentindo os cheiros e ouvindo os ruídos de seus colegas de jornada, mesmo que sejam do mesmo partido.

A viagem de jet ski

Depois do segundo turno, quem perder a eleição vai ter que ir de Jet Ski, (ou de canoa com motor rabeta), levando na carona seu vice, porque nem um empresário e nem um chefe de governo vai investir pesadas somas para transportar derrotados que não conseguirão dar retorno financeiro e politico (no mau sentido).

O maior saldo final dessa eleição de 2012, no entanto, é um amontoado de bobagens, sandices, bravatas, mentiras, empulhações, etc. E, do meio dessas negatividades ressalto duas que me parecem mais perigosas porque podem fragilizar a construção de uma sociedade moderna e culta: a primeira foi ver que embora as Universidades e Faculdades aqui sediadas tenham enorme dificuldade para compor seus quadros com profissionais academicamente qualificados, a lista de candidatos que se intitulam “doutores” é enorme. Gostaria de vê-los em sala de aula ou em laboratórios de pesquisa.

A segunda coisa que marcou negativamente essa eleição foi a vinda de Lula da Silva (o bilionário), para apoiar candidatura da base aliada esse agrupamento heterogêneo que deve se desmanchar quando terminar o julgamento do mensalão no STF, porque sem mesada safada e corrupta, a base aliada vai deixar de existir. Lula veio aqui contar bravatas e transmitir uma falsa imagem de machão brigador que anteriormente já tinha tentado declarando-se capoeirista, uma jactância que deve ter recebido efusivos aplausos de seus capachos. Os porões do poder lulista estão sendo revelados pelo STF e revelam um macabro cenário de corrupção ativa e passiva envolvendo a “base aliada”. Por isso penso que, além de “cuspe à distância”, o Brasil deveria incluir nas Olimpíadas de 2016, a modalidade saltos orçamentais, como sugeriu o jornalista esportivo Milton Neves.

No meu tempo de estudante em São Paulo, me engajei na luta contra a ditadura e conheci alguns comunistas sérios e bem fundamentados, uma realidade oposta ao cenário onde pulula (pro lula?) a maior parte dos atuais bolchevistas que estão muito mais para Groucho Marx do que para Karl Marx.

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