Manaus, 29 de março de 2024

Grito de Carnaval

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Nos tempos mais antigos da Província do Amazonas, pouco depois da Barra do Rio Negro ter mudado o nome para Manáos, o velho e animado Pingarrilho liderava as noites de fevereiro com seus bailes de máscaras durante o carnaval, desde 1869. A eles acorriam as madames em roupas chiques ou fantasias, casadas ou solteiras, e os cavalheiros afamados bem compostos em trajes próprios da época, com máscaras importadas da Europa.

Os primeiros “gritos” de carnaval já davam o tom do que seria o período do “ Rei Momo, primeiro e único”, como era tradição ser chamado o homem baixo e gordo que se vestia à caráter para comandar a folia, rivalizando anos depois com o Zé Pereira e a boneca da Kamélia. Ao entrar na casa de festas do Pingarrilho, qualquer homem era tomado pelas belas damas mascaradas e levado aos borbotões para o canto da sala quando era obrigado a conhecer o lança perfume ou a pagar uma prenda, mas não se conhece bem o que realmente acontecia na ocasião.

Possivelmente foi essa tradição do “grito de carnaval” que chegou a dias mais recentes e até bem perto do nosso tempo, quando os jornais anunciavam em tons solenes os “gritos” de carnaval dos clubes de nossa cidade. E não eram poucos: A Associação Banco do Brasil, Ideal Club, Cheik Club, Barés Clube, Luso Sporting Clube, Fast Clube, Internacional, São Raimundo, União Sportiva Portuguesa, Sul América, Nacional, Rio Negro, Olímpico, cada qual com programação infanto-juvenil e adulto de fazer inveja a outras cidades brasileiras.

E ainda havia os desfiles de grupos e de folguedos de rua, como os brigues, o cordão das lavadeiras e os carros alegóricos que subiam e desciam a Avenida Eduardo Ribeiro, num frenesi sensacional, aproveitando a batalha de confete que o velho Josué Claudio de Souza realizava.

Em alguns clubes o grito era recheado por desfiles de fantasias nas categorias luxo e originalidade, que eram verdadeiros shows à parte, com requinte e elegância, mas, aqui pra nós, ao mesmo tempo cortavam todo o barato da festa que perdia em animação durante bom tempo para que assistíssemos aos desfiles e à premiação.

E haja fôlego para passar em revista a todas essas festas, pular ao som de marchinhas, do samba de enredo e de outros ritmos que foram chegando, e enfrentar a noite toda até o sol raiar. E como se não bastasse, em alguns dias, ainda era de lei sair do clube para a Praça da Polícia, ao amanhecer, tomar mingau no mercado municipal e ir à missa da Catedral, uma forma especial de pedir perdão dos pecados porventura cometidos nas noites de carnaval. Perdendo a máscara no meio da multidão, anos depois tudo foi mudando a razão e os clubes cedendo lugar às bandas de rua, desde a do Mandy´s Bar, lembrando os Terríveis, às mais atuais que dominam a animação como se fossem blocos mais que reúnem verdadeira multidão para festejar a alegria, esquecer as mágoas, pular, cantar e bebericar sem parar.  Aqui e ali uma música de enredo a fazer críticas ácidas ou não em relação a personagens da vida local, especialmente da política.

E quando o carnaval passava e tudo voltava ao normal, o mundo parecia mais bonito e a vida mais leve, mesmo com os bolsos vazios.

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