Manaus, 18 de abril de 2024

Festa de reis

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“Andei pensando como seria bom ver as festas de Reis tomando contada cidade, ainda pequena, em que as famílias se conheciam pelo nome e sobrenome, mantinham o hábito de conversar comas cadeiras nas calçadas. 

Quando era menino pequeno ainda ouvi falar muitas vezes das festas de Santos Reis, comemoradas no dia õ-de janeiro, com as quais era realizado o encerramento dos eventos natalinos. Lembro que era a data certa em que meus pais e irmãos mais velhos costumavam desarmar a decoração de Natal que havia enfeitado nossa casa, especialmente a sala de visitas. Coisas simples, é verdade, mas feitas com muito amor e carinho, e que davam um toque especial aqueles dias que também eram muito esperados.

Os Reisados já não existiam. Antes eles iam passando pelas ruas e batendo de porta em porta das pessoas com suas cantorias, bailados brincadeiras, com a entrega de doces, apresentando as músicas bem características tocadas por instrumentos simples e populares, a simbolizar a chegada dos Reis Magos ao local no qual Jesus havia nascido.

Era tradição que vinha lá do povo egípcio antigo, passando depois pela Espanha e Portugal até chegar ao Brasil, mas sempre ouvi falar desse momento mágico e encantador, e depois li aprendi com Mário Ypiranga Monteiro – o velho e querido mestre -, como se passavam as cenas e a historieta que era contada em verso e em harmonia, nesses festejos. E ainda ouvi meu querido pai Lourenço Braga cantarolando as músicas tradicionais tal qual fazia com as modinhas do Brigue Independência que ele criou desde o Janauacá.

Para nós, em família, havia ainda um marco a maior que era o aniversário de uma tia, irmã de minha mãe, a tia Gasparina dos Santos Pereira, mulher de temperamento nordestino, elegante, direta nas suas conversas, e cujo evento muitasvezes fomos festejar em sua casa simples, seja a do centro histórico da cidade ou do bairro do Parque 10 de Novembro.

Para os mais antigos que conheceram e brincaram nas festas de Reis, deve restar uma imensa saudade e a tristeza sem fim de não puder mais rever as indumentárias coloridas, a alegria dos grupos de Reis passeando pelas ruas e batendo de porta em porta para fazer a louvação, contando a história inteira em modinhas variadas quase sempre ao som de violão, tambor, zabumba, sanfona e triângulo, e encantando o povo ao seu redor que ficava à espera desse importante acontecimento de cultura popular e tradição católica.

Nos dias que correm fico a imaginar que poucos ainda podem se lembrar dessa festa, ou ainda brincam nas folias de Reis, porque as mudanças porque passou a cidade de Manaus já não permitem essa convivência de vizinhança, e nem esses valores tradicionais restaram observados nas escolas como deveriam. Tudo mudou e está centrado nas redes. sociais e na internet, que também é um mundo de fantasias e ilusão, mas que consome a saúde da boa convivência entre as pessoas.

Andei pensando como seria bom ver as festas de Reis tomando conta da cidade, ainda pequena, em que as famílias se conheciam pelo nome e sobrenome, mantinham o hábito de conversar com as cadeiras nas calçadas, era honroso estudar em escola pública e as vagas eram por demais disputadas, e tudo se passava no terreiro da casa, na calçada de frente, na casa do vizinho, e, quando muito distante, se passava no campinho da esquina que também servia para o futebol dos meninos, a fogueira de São João, a brincadeira de manja ou 31 alerta e a dança de quadrilha, servindo para o congraçamento de todos os moradores, sem diferença de qualquer natureza.

Passado mais um Dia de Reis, sem os folguedos mais tradicionais, desejei recompor na memória de alguns esses momentos mágicos e retemperar a crença de que o Ano Novo será muito bom, com alegria e em paz, tal qual cantavam nessa bela brincadeira que se incorporou ao folclore brasileiro.

*Amazonense de Manaus. Historiador. Bacharel em Direito, especializado em Direito Agrário, pós-graduado em Administração de Política Cultural e Mestre em Direito Ambiental. Professor da Escola Superior da Magistratura do Amazonas e da Universidade do Estado do Amazonas. Ex-presidente da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Secretário de Estado de Cultura, desde 1997 até esta data.

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