Em memória de João Paulo II
*Elson Farias
O espírito do pastor é uma estrela
que agora paira sobre as águas
do Rio Negro.
Choram as criaturas da Amazônia
que o receberam na festa
de São Pedro.
São as chuvas intensas de março
que em abril fecundam a planície
o tempo inteiro.
Em julho de 1980
João de Deus abençoou nossas águas
e tudo.
Tudo o que vibra nos ares,
nos pássaros deste mundo
agora mudo.
Os pescadores do Cônego Plácido
na romaria dos remansos
estão de luto.
Na Praça de São Pedro
entre as colunatas de Bernini
chora o povo.
Muitas águas hão de passar
sob as pontes de Veneza
o tempo todo,
até que brilhe no horizonte
um pastor com tanta raça
de novo.
Ele foi forte e humilde
como a voz de São Francisco,
sereno e bom,
avançou com a luz dos Evangelhos
entre os crentes e os descrentes,
com o som
do silêncio das suas noites de vigília
ou nos braços que o Pai lhe conferiu
com o seu dom.
Vai João de Deus sob o sol
da Amazônia coberto de flores,
sempre apoiado
na graça de levar no coração
a palavra que renasce todo dia
no seu cajado
e na sua batina branca,
transformada em bandeira de paz
e pão sagrado.
(Em 2 de abril de 2005)
Este poema foi publicado numa edição especial do jornal “A Crítica”, quando da morte de João de Deus.