Manaus, 18 de abril de 2024

Domesticação da castanha, trilhas e paradoxos da Bioeconomia

Compartilhe nas redes:


*Wilson Périco

“É imperativo, portanto, debater, aproximar, disseminar a informação, reduzir a burocracia do proibicionismo, pois está provado que o fomento ao empreendedorismo é mais efetivo e producente, tanto para promover a sustentabilidade como a prosperidade.”

 O Brasil só sairá da sua mediocridade se se deixar incorporar à Amazônia.”

Antônio Callado

Nos Diálogos Amazônicos, com coordenação da FGV – de 22 de março – sob o tema EMBRAPA e P&D no Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, fica mais evidente que o caminho para diversificar a economia é promissor e, ao mesmo tempo, desafiador. Não falamos de deixar a indústria do PIM de lado, nada disso, falamos em desenvolver novas atividades para se somarem à atividade industrial. Um desses desafios é a distância institucional entre o Brasil e nossa região. Há um desconhecimento crônico de nossa realidade, tanto pela ausência de investimentos como pelas barreiras pseudo-ambientais. Mas a boa notícia é que tudo isso começa a ser debatido, em âmbito nacional!

Em suas manifestações, o presidente da Embrapa, Celso Moretti, que incluiu a Bioeconomia da Amazônia nos planos e metas 20/30, sinalizando que o objetivo é desenvolver bioativos capazes de projetar a economia de nossa região a um crescimento exponencial como foi feito com o Agronegócio. Proteínas, novos sistemas agroflorestais, alguns já adotados no Amazonas, entre outras iniciativas. Na fala do secretário Jório, C&T&I do Amazonas, ficou claro esse descompasso na partilha de informação não apenas sobre os recursos disponibilizados pela indústria para a interiorização do desenvolvimento, como também sobre a desarticulação entre os ministérios de Agricultura e Ciência e Tecnologia e as ações e demandas do Amazonas. Essa união de propósitos e condutas seria estratégica e infinitamente benéfica para a população.

Há um desconhecimento, por exemplo, do programa de domesticação da castanha do Brasil que há mais de 30 anos se consolidou na Fazenda Agropecuária Aruanã, da família Sérgio Vergueiro, uma verdadeira plataforma de Bioeconomia e outras modelagens de geração de emprego, renda e oportunidades. Ali, onde a pecuária não prosperou, foram reflorestadas 4 mil hectares com espécies florestais amazônicas, entre elas a castanha-do-Pará, da Amazônia ou do Brasil, uma paixão nutricional mundial. 1,4 milhão de árvores. Além da castanha e suas mil e uma utilidades, copaíba, andiroba, pupunha, cumaru, jatobá… com registro de mais de duas dezenas de dissertações e teses de mestrado e doutorado de pesquisas aplicadas. Temos protocolos prontos para adotar sistemas de reflorestamento dessas espécies, pois temos 5% de áreas degradadas e abandonadas pela pecuária tradicional. Ou pelo direito legal de manejar até 20% do bioma de forma racional. Um detalhe, nesta jornada: a Embrapa Amazônia Ocidental e Oriental estiveram assessorando tecnicamente os produtos de inovação tecnológica desde a primeira hora.

Temos outros gargalos. O Brasil desenvolveu protocolos avançados para transformar a tilápia, uma espécie exógena, e procura fazer o mesmo com o tambaqui, como comentou o presidente Celso Moretti. O tambaqui e mais de três mil espécies de peixe que, em cativeiro, muitos deles podem ser domesticados e podem virar nuggets, hambúrguer, ou qualquer outro arranjo bioeconômico de proteína, arrematou Jório Veiga, da SEDECTI. Só precisa resolver com a Embrapa o gargalo da ração. Por que não envolver o INPA, o laboratório nota 10 de aquicultura tropical, Ecofisiologia e Evolução Molecular LEEM/Adapta, sob a batuta do cientista Adalberto Val, autoridade mundial em piscicultura. Falta entender, também, um problema de fácil equação a luz dos benefícios que representa: aqui na região a saca de milho paga quase três vezes mais ICMS do que no Centro-Oeste, o que obriga o Estado a importar a proteína (tambaqui, pirarucu e matrinxã) a mais farta em seu bioma aquático.

foto: Globo Rural

É imperativo, portanto, debater, aproximar, disseminar a informação, reduzir a burocracia do proibicionismo, pois está provado que o fomento ao empreendedorismo é mais efetivo e producente, tanto para promover a sustentabilidade como a prosperidade. Há que se fazer, também, a revisão urgente da gestão dos recursos pagos pelo setor produtivo de acordo com a legislação pertinente. É inaceitável o repasse para a União e Estado de mais de R$2 bi por ano para Ciência, Tecnologia, Inovação, Interiorização do desenvolvimento, micro e pequenas empresas e formação de recursos humanos e constatar que na Amazônia em geral e, particularmente no Amazonas, onde esta receita é gerada e muitas direcionada para outros propósitos, perdurem IDHs em percentuais dos países pobres da África.

*Economista, empresário e presidente do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas.

Visits: 23

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques