Manaus, 28 de março de 2024

Construindo o futuro

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(Discurso de posse na Alcear em sessão solene realizada no Ideal Clube, no dia 29/05/2015). Assumo, de forma pública e solene, a presidência da Academia de Letras e Artes do Amazonas com a esperança de marcar minha gestão ao menos pelo inicio de um debate vertical sobre o futuro deste Estado, procurando buscar, nas ciências, letras e artes amazonenses, um caminho assentado em fortes bases teóricas para configurar nossa utopia possível de um desenvolvimento sustentável. Tenho convicção de que os alicerces do porvir bem tracejado não podem ser deixados na esfera dos partidos políticos nem dos parlamentos, pois nesses fóruns não existe qualificação intelectual adequada nem respeito pelas amazonidades, o que inviabiliza tracejar o rumo da sustentabilidade da economia que é um passo essencial para o desenvolvimento.

AS BASES TEÓRICAS

Só com o conhecimento da nossa natureza e com o entendimento da cultura dos povos da floresta será possível configurar projetos e modelos que evitem uma economia de enclave e de encrave que não fala nossa língua nem entende nossa linguagem.

O futuro sustentável passa, obrigatoriamente, pelas nossas diversidades sociais, étnicas, culturais naturais e, principalmente, pela diversidade biológica e dos ecossistemas. E por isso, o encaminhamento e a solução só podem partir de mentes intelectualizadas, pois o abandono desse caminho levou a região ao fim do ciclo da borracha, com os dirigentes ignorando as advertências de homens de visão. E quando tudo acabou a elite política e rica, vendo os lucros se esvaírem, escafederam-se para outas plagas enquanto paralela e inutilmente, alguns intelectuais travavam uma discussão supérflua para saber se o termo arigó que denominava os seringueiros nordestinos tinha uma forma feminina.

COMPARAÇÃO CURIOSA

Nos dias atuais, acontece a mesma bazófia das priscas eras, com gente intelectualizada discutindo se existe ou não uma forma feminina para nomear a chefe da nação, chamando-a de presidente ou presidenta.

O BAQUE NA ECONOMIA

O fim do ciclo da borracha foi algo desumano para os mais pobres, para o hinterland e até mesmo para os detentores do poder e da riqueza. A avareza foi letal, pois em vez de refletir solidamente sobre o futuro a elite preferiu curtir um ufanismo inculto cujo melhor exemplo é o livro de Genesino Braga – “Fastígio e sensibilidade do Amazonas de ontem” – que supõe um fastígio (apogeu) sem perceber a falta de sensibilidade com o futuro.

Parece-me prudente estabelecer, dentro do cenário científico das várias ciências da sustentabilidade, o melhor caminho para configurar um modelo diferente daquele do ciclo da borracha que se esvaiu, e do modelo Zona Franca que está se esvaindo. Ambos concentraram renda e distribuíram miséria, sem conseguir formatar uma sociedade mais justa, presidida pelas liberdades e igualdades substantivas.

Nosso futuro está ameaçado e sem alternativas imediatas, pela implantação de uma Zona Franca no agreste pernambucano, estado de origem do atual ministro ao qual a Suframa está subordinada. E este novo polo industrial por ser mais promissor tanto do ponto de vista eleitoral como pela visão logística e estratégica, vai jogar nosso Estado em um novo período de penúria similar ao fim do ciclo do ouro negro.

Entendo que nossa redenção – sem sangue – só virá com a utilização de saberes verticais, na formatação de um projeto de Estado que valorize nossas amazonidades, criando polos de bioindústrias distribuídos dentro de critérios sadios de um Zoneamento Ecológico Econômico formatado de acordo com a distribuição endêmica das espécies de nossa biodiversidade, e distante da minúscula política do toma la dá cá.

O uso dos indicadores sociais e econômicos (PIB, IDH e IDEB) revela a injustiça desse modelo atual que muito se assemelha ao do ciclo do látex que fez crescer a capital e deixou o interior em abandono profundo. Desses índices, o que menos representa o anseios de desenvolvimento (que é diferente de crescimento econômico) é o PIB que foi inventado pelos economistas e cuja melhor definição está na corruptela de uma frase de Oscar Wilde em seu livro “O retrato de Dorian Gray”: tem o preço de tudo e o valor de nada.

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