Manaus, 25 de abril de 2024

Colonização e massacre

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As práticas brutais contra os povos indígenas não são parte exclusiva do processo de conquista e colonização dos primeiros europeus. No alvorecer do século XX explode na região um dos maiores escândalos envolvendo grandes empresários locais e internacionais. A revelação da natureza dos negócios de Julio Cesar Araña no rio Putumaio, envolveria diversas figuras dos meios financeiros de Londres, inclusive membros da Câmara dos Comuns. Walt Hardenburg, de lllinois, Estados Unidos, estava com 21 anos quando decidiu se aventurar pela selva amazônica, acompanhado de um amigo. Quando descia o rio Putumaio, foi apanhado por um destacamento policial peruano, recebendo o conselho de se afastar daquela área. Hardenburg seguiu o conselho como pôde, atravessando para o Napo, até se ver envolvido na disputa de fronteira entre colombianos e peruanos. Ao ficar alguns dias na localidade de EI Encanto, uma das sedes da Companhia Peruana do Amazonas, o jovem aventureiro teve a oportunidade de conhecer o tratamento desumano dispensado aos índios uitoto que trabalhavam na coleta de seringa, com torturas, fuzilamentos, castigos corporais brutais, privação de alimentos, prostituição infantil e violação de mulheres. Hardenburg sofreu agressões e ameaças de morte, mas teve a sorte de deixar o Putumaio, que ele batizou de “paraíso do demônio”. Em Londres, publica suas denúncias no “Truth”, jornal que se tornara famoso por revelar as mazelas da sociedade eduardiana.O outono de 1909 é ocupado pelo escândalo amazônico. As denúncias de Hardenburg, ainda que contra-atacadas pelo poderio econômico de Julio Cesar Araña, abala os ingleses. A Companhia Peruana do Amazonas tinha muitos empresários ilustres entre seus investidores na Inglaterra e a comprovação de que praticava atrocidades contra indefesos indígenas atingiria reputações em Londres, Lima e Manaus. Deixaria em maus lençóis o ministro britânico do Exterior, Sir Edward Grey, baixaria uma sombra de suspeita sobre a Câmara dos Comuns e provocaria quedas na Bolsa de Londres. A sociedade européia encontraria no escândalo do Putumaio um excelente artigo de consciência, trazendo para a arena a Sociedade Antiescravagista e de Proteção de Aborígenes, ainda sob a direção do legendário reverendo John Harris, que oito anos antes divulgara a monstruosa atuação do rei Leopoldo da Bélgica em seu feudo na África Central. O governo britânico, para acalmar a crescente inquietação do público, nomeia o diplomata Sir Roger Casement, outra figura ligada às revelações da África Central, para investigar o caso do Putumaio. Quando a história completa chegou ao conhecimento público, com todos os pavorosos detalhes colhidos por Casernent, o governo peruano foi obrigado a tomar uma atitude, remetendo um navio de guerra ao Putumaio, com juízes a bordo, levando mais de duzentos mandatos de prisão. A 5 de novembro de 1912, a Câmara dos Comuns deu o golpe final nos negócios de Araria e seus sócios, mandando apreender os arquivos da Companhia Peruana do Amazonas e abrindo um inquérito. Ê importante assinalar, para comparação com outros casos semelhantes, que todas essas medidas serviram para dar celebridade ao duque de Nolfolk, a Roger Casement, ao próprio Hardenburg, mas influiu muito pouco na vida dos índios do Putumaio.

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