Manaus, 28 de março de 2024

Cheia de 2020

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Tempo. Tempo. Tempo. O dia tem 24 horas. O ano 365 dias. No hemisfério norte começou a primavera. No hemisfério sul o outono.  Mas isso (as estações do ano) só é referência para quem mora nas zonas temperadas da terra.

Para nós amazônidas, que vivemos na zona tropical, o que importa é o regime das águas. Na época da cheia, o tempo fica mais chuvoso. Fica “rainy” como se diz em Inglês. Aliás, há duas palavras para tempo no idioma de Shakespeare. “Time” e “weather”.

Quando eu digo que o tempo está passando devagar por causa do corona vírus, é o “time”. Quando eu digo que está chuvoso é o “weather’.

O homem consegue fazer previsão do “Weather” para os próximos dias. Mas o que vai acontecer daqui a três dias, somente a Deus pertence.

Na literatura dos povos que vivem em zona temperada é comum referências às estações do ano. As estações servem para ativar a memória de fatos importantes nas vidas das pessoas. “Vovô faleceu no inverno de 2013.” “Casamos na primavera de 2005”. “Comecei a trabalhar no outono daquele ano.” ”O verão foi divertido.”

Para o nosso caboclo nada disso faz sentido. Mesmo porque durante o ano pouca coisa muda na floresta.  Só nos rios. Na vazante o calor é mais intenso. As praias aparecem e se retira os animais das marombas.

Em Paris a primavera já se apresenta apesar da quarentena. Em Nova Iorque não está mais nevando. Mas o Central Park continua assombrosamente vazio. Em Tóquio há cerejeiras em flor ignorando o vírus.

No interior do Amazonas os ribeirinhos estão estranhando porque não há movimento de barcos de recreio, nem balsas, e muito menos as lanchas expressas. Os barcos a jato que levam e trazem pessoas de Manaus para o interior.

Os barcos que vendem mantimentos trouxeram a triste notícia de que uma gripe forte, um tal de corona vírus, ameaça as populações e pode matar.

Aconselha-se não entrar em contato com o pessoal das cidades e vilas. Melhor ficar só com as coisas da floresta e evitar o pessoal da cidade.

As gripes virais geralmente são mais perigosas para indígenas e ribeirinhos. Espera-se que muitos possam sobreviver para contar o que houve na terrível cheia de 2020.

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