Manaus, 18 de abril de 2024

Câmara de Itacoatiara promove Seminário

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Atendendo a convite do presidente da Câmara Municipal de Itacoatiara, vereador Dário Nunes Bezerra Júnior, – “para participar da Sessão Especial em homenagem aos 141 anos da elevação da Vila de Serpa à categoria de Cidade de Itacoatiara (25 de abril de 1874), seguida do Seminário sobre a conclusão e efetivação do Projeto de Lei, em tramitação nesta Casa Legislativa, que oficializa a data de fundação do núcleo urbano que deu origem à Cidade (08 de Setembro de 1683)” – cerimônia cívico-cultural que se estendeu das 16:00 horas às 20:00 horas do dia 24/04/2015 – o historiador Francisco Gomes da Silva, seguindo à ordem cronológica da pauta do evento, fez um importante pronunciamento em homenagem à cidade, pontuando alguns dos mais significativos acontecimentos de sua trajetória, inclusive falou do trabalho levado a efeito pelo ex-vereador e ex-deputado provincial Damaso de Souza Barriga, a cuja atuação devemos a aprovação do projeto que propiciou a graduação da cidade; mas sobretudo discorreu sobre a importância do projeto em pauta, alusivo à oficialização da data de nascimento do núcleo originário de Itacoatiara, fato que, segundo suas próprias palavras, além de atender aos ditames da história e da tradição municipais, levantará a autoestima da população itacoatiarense.

Francisco Gomes da Silva foi aplaudido de pé pelos presentes à aludida sessão. Após sua fala, o evento foi encerrado pelo jovem presidente da Edilidade, vereador Dário Bezerra. Antes, porém, haviam se pronunciado os vereadores Antônio Isper Neto, Cheila Moreira, Raimundo Silva, Marcos Holanda e Arialdo Guimarães, e os intelectuais da terra Valdinei, Claudemilson Santos e Auricélia Fernandes. Foi realmente um acontecimento de cunho político-cultural de alta significação, digno da nobre Cidade da Pedra Pintada.

Vale acrescentar que o historiador e atual presente do IGHA, Antônio Loureiro, também convidado pela Presidência da Câmara Municipal para se expressar na ocasião, não pôde comparecer – mas enviou missiva que foi lida no início da sessão, por um graduado servidor da Câmara. O texto combina com a tese esposada por Francisco Gomes, a respeito da fundação do núcleo originário da cidade de Itacoatiara. Vale a pena lê-lo (conforme abaixo):

Manaus, 21 de abril de 2015.

 

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Itacoatiara

Senhores Vereadores da antiga Vila de Serpa

Meus Senhores e Minhas Senhoras

 

Foi com muita alegria que recebi o amável convite dessa Veneranda Casa, uma das mais antigas do Amazonas, para participar das palestras destinadas a clarear sobre datas relativas aos núcleos de povoamento desse nosso querido Município.

Contudo, quis o destino que a equipe médica, pela qual sou assistido, marcasse para a mesma data um cateterismo, proibindo-me a viagem, por isso escrevi essas poucas linhas, que peço ao meu dileto amigo Francisco Gomes – meu introdutor na Academia Amazonense de Letras, e consócio do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, o qual tenho a honra de presidir – para ser meu porta voz, com a sua leitura, perante essa seleta Assembleia:

Quando Portugal enfeudou a Amazônia às Ordens Religiosas, entregando-lhes terras e índios de encomenda, na acepção espanhola do termo, talvez não tivesse ideia de que isso poderia resultar em um gigantesco Estado Religioso, capaz de enfrentá-lo, no futuro, como aconteceu com as Missões e a Guerra Guaranítica (1750-1756).

A ideia do V Império religioso teria sido do genial padre Antônio Vieira e foi talvez por ele idealizado quando viu a grandeza dessa região, que palmilhou até à ilha do Risco, onde teria fundado a desaparecida missão do Aibi, de 1655, tendo escrito o seu livro profético “O V Império”, em 1654, em Cametá, para descanso de uma de suas visitas aos índios aruãs do Marajó.

Essas ideias frutificaram; pela Carta Régia de 19 de março de 1693 a Amazônia foi dividida entre as diferentes ordens religiosas, e os seus índios a elas encomendados, em um ato simbólico talvez criando o V Império, idealizado por Vieira. À Companhia de Jesus coube a margem direita do rio Amazonas e a esquerda, entre o Negro e o Içá, enquanto os Capuchos de Santo Antônio recebiam as terras do Cabo Norte até o Jari e o Paru, incluindo a aldeia de Urubuquara, ficando os Capuchos da Piedade com Gurupá e as aldeias do rio Urubu ao rio Trombetas. A 29 de novembro de 1694, uma nova Carta Régia, reformulando a anterior, cedia aos Mercedários o rio Urubu e aos Carmelitas, o rio Negro e o Solimões.

Embora a atual localização de Itacoatiara estivesse em área de domínio dos Mercedários, o outro lado do Amazonas pertencia à jurisdição dos Jesuítas, onde estavam localizadas as três missões sucessivas, que transmitiram de forma heriditária e pelo fio da História as origens dessa cidade.

Lá do outro lado, naquele intricado de furos e paranás, resultantes do novo curso do Madeira, quando ele abandonou o Paraná dos Ramos, o antigo rio Tupinambaranas, os jesuítas, como as outras Ordens, já haviam começado a sua ação missionária, criando aldeias autosuficientes e produtivas, graças ao trabalho de semiservidão dos índios, a troco das mercadorias do reino que chegavam às suas magníficas sédes, em Belém, enquanto, no interior, só existiam palhoças e igrejas de taipa e palha. Ali, não se ensinava o português, mas o nhengatu, e não se admitia ingerência do Governo Português, constituindo-se de uma grande equipe internacional de missionários, particularmente do Império Austro-Húngaro e Germânico.

Assim, na foz do rio Mataurá, afluente do rio Madeira, foi fundada a primeira missão, que fustigada por ataques constantes de silvícolas hostis, e na procura de melhores terras, mudou-se sucessivamente para a ribeira do Canumã e mais tarde para o rio Abacaxis. Na foz do rio Mataurá, afluente do rio Madeira, o jesuíta Jódoco Perez fundou, nos meados do século XVII, o primeiro núcleo de povoamento na região do atual município de Itacoatiara. Todavia, os constantes ataques dos silvícolas e a procura de terras propícias à colonização motivaram a retirada dos habitantes para a ribeira do Canumã e mais tarde para o rio Abacaxis.

Como vimos, a fundação daquela primeira localidade está registrada como sendo obra do padre Jódoco Perez, superior da Província Jesuítica da Amazônia entre 1683 e 1690, – conforme já foi registrado por Francisco Gomes – em uma viagem relativamente rápida de setenta e oito dias, talvez a remo e a vela, saída de Belém a 9 de junho de 1683, chegando à boca do Madeira a 28 de agosto. No dia 7 de setembro chegou a Mataurá e a 8 de sembro de 1683 fundou a missão e a residência – esta a origem mais remota de Itacoatiara,senão quizermos aceitar o seu povoamento precolombiano, como o de Manaus.

Esta é a data mais antiga que se conhece referente à fundação de Itacoatiara. Como prevê o Projeto de Lei em andamento nessa nobre Casa Legislativa, o seu fundador pode ser considerado um herói, assim como o lendário Mamorini, tuxaua dos Iruri, representando a principal etnia formadora da população do município de Itacoatiara.

Mas falta uma terceira personalidade que jamais poderia ser esquecida pelo povo itacoatiarense – Francisco Xavier de Mendonça Furtado, primeiro Capitão General e Governador do Estado do Grão-Pará e Maranhão, de 24.09.1751 a 02.03.1759, instalador da Capitania do Rio Negro, estadista visionário do mesmo nível do seu irmão o Marquês de Pombal, que vislumbrou a necessidade da presença do Estado Português, na Amazônia, dai ocorrendo a necessidade da desocupação das missões, não sendo anticlerical como quizeram transforma-lo, pois a ele coube a substituição das igrejas-palhoças das Missões, pelas  grandes igrejas como a Matriz de Santarém e a de Alter do Chão.

E qual a sua relação com Itacoatiara que jamais lhe poderá ser negada?

Em carta que dirigiu ao ministro Tomé Joaquim Castro Corte Real, de 4 de julho de 1758 , descrevendo a segunda viagem que fazia aos confins ocidentais do Estado do Grão-Pará e as providências que estava tomando ao longo dela, erscreveu:

“A 26 (março de 1758) sahi e navegando pela mesma costa setentrional do Amazonas, atravessei para a austral e entrando pelo rio Tupinambaranas, para passar ao Madeira, cujas barras examinei, feitas pelos Maués, Abacaxis e Canumã, e sai ao rio Madeira, a 14 de abril, cheguei à vila de Borba, a Nova.

Ai, demorei-me dois dias, vindo buscar a aldeia dos Abacaxis que era da administração dos padres da Companhia, com a resolução de erigi-la em vila, com o nome de Serpa; porém os seus moradores me requerem instantemente que se queriam tirar daquele sitio, por que nele não logravam uma hora de saúde, e que se conservaram ali violentados pelos padres que os administraram”.

 “Dai sai, a 19 de abril, e vim buscar este rio onde entrei, no dia 23, e, a 4 de maio, cheguei a esta povoação. No dia 6 de maio erigi esta aldeia, que se chamava Mariuá, em vila com o nome de Barcelos e os seus moradores não estão descontentes”.

Antes de Mendonça Furtado retornar a Portugal, a aldeia de Abacaxis foi transferida para o atual local de Itacoatiara, sendo transformada em vila da Capitania do Rio Negro no dia 1º de janeiro de 1759 – setenta e quatro anos antes de Manaus possuir esse mesmo predicado urbano, com todos os diretos decorrentes, recebendo o nome da cidade homônima portuguesa Serpa, agora iniciando a política de ocupação definitiva da Amazônia, pelo Estado Português, que envolviam a expropriação das Ordens, a substituição da língua geral pelo português, a igualdade racial e outras providências, que só agora começamos a compreender, com o desfechar da contemporânea Guerra Guaranítica.

Ele foi o criador das seis primeiras vilas abaixo relacionadas, em que foi dividida a Capitania do Rio Negro e cumpriu o papel de limitador de suas primeiras fronteiras, por isso merece ser incluído na Lei que está sendo discutida e absolvido de conduta anticlerical que se lhe quis dar em nossa História.

 

Trocano                                  01.01.1756                                  Vila de Borba

Mariuá                                    06.05.1758                                 Vila de Barcelos

Itacoatiara                              01.01.1759                                  Vila de Serpa

Saracá                                     07.03.1759                                  Vila de Silves

Tefé                                              1759                                         Vila de Ega

São Paulo dos Cambebas         1759                                         Vila de S. P. Olivença

 

Finalizo, augurando sucesso na meritória empreitada formulando votos para que o Projeto de Lei ora em discussão seja aprovado, introduzindo-se o nome do estadista colonial Francisco Xavier de Mendonça Furtado no rol dos heróis do bravo povo itacoatiarense.

ANTONIO JOSÉ SOUTO LOUREIRO

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