Manaus, 28 de março de 2024

Antes que surja um pai (2)

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Na semana passada registrei a questão da pós-graduação stricto sensu no Brasil e contei a história da luta de um parlamentar amazonense pela aprovação do texto original da lei Darci Ribeiro que garantiu a permanência dessa etapa essencial para a formação de uma elite científica e acadêmica no Brasil.

Hoje vou contar a história de um marco científico-cultural importante da história do Amazonas que foi a criação, em 1853, do Museu Botânico de Manaus, idealizado pelo naturalista João Barbosa Rodrigues, um naturalista que se especializou no estudo das palmeiras e que foi o único diretor do órgão, instalado na Chácara Cachangá situada na rua Ramos Ferreira, imóvel que foi adquirido do Barão de São Leonardo.

Uma vida curta

O Museu teve vida efêmera desaparecendo em 1890 quando o governador do Estado do Amazonas, capitão Augusto Ximeno Valleroy demitiu Barbosa Rodrigues e extinguiu o Museu. Apesar da curta existência João Barbosa Rodrigues conseguiu publicar uma revista científica – Vellosia – cujo quarto e último volume foi utilizado para fazer um relato histórico da vida do primeiro Instituto de Pesquisa em toda a Amazônia, destruído por um político sem sensibilidade e sem conhecimento suficiente para perceber que aquele era um patrimônio inigualável da Amazônia.

O acervo

Entre as preciosidades existentes no Museu figurava um Herbário com mais de 10.000 peças botânicas e mais de 1.200 objetos indígenas amazônicos, um patrimônio valioso cujo destino é desconhecido. De todo o acervo só se salvou parte da biblioteca onde existiam obras raras que foram transferidas para o Gymnásio Amazonense, e resgatadas em 1955, por Olympio da Fonseca, primeiro Diretor do Inpa que as incluiu na Biblioteca do Instituto onde estão até hoje  guardadas junto com outras raridades bibliográficas na Coleção “Amazoniana”.

O Jardim Botânico de Manaus

Cerca de 100 anos depois da destruição do Museu Botânico, em 1996, como Diretor do Inpa tive que enfrentar uma situação muito difícil configurada pela ocupação irregular da porção sul da Reserva Florestal Adolpho Ducke decorrente da expansão de Manaus. Para tentar resolver  ou pelo menos minimizar o problema, já que a vigilância policial e civil não era suficiente, pensei em estender para aquele local o programa de educação ambiental que o Inpa desenvolvia no Bosque da Ciência, inaugurado por mim em 30/03/1995, com a presença do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Para realizar esse projeto contei com o apoio do então prefeito Alfredo Nascimento que designou, para tratar do assunto, o Dr. Wilson Wolter Filho, pesquisador do Inpa cedido para a prefeitura. Foi um processo complicado, pois além da oposição interna praticada por sindicalistas sem muitos neurônios funcionais, também era preciso convencer o governo da República a fazer um comodato com o poder municipal de Manaus. Do lado da Prefeitura o problema era conseguir verbas para implantar o projeto, mas tudo foi superado e em 1998 (ou 1989) foi realizado o lançamento da pedra fundamental com a placa instalada bem na entrada do Jardim. Finalmente, no ano 2000, foi inaugurado o maior Jardim Botânico do mundo instalado em uma área de floresta Amazônia primária de cinco quilômetros quadrados localizados na face sul da Reserva Ducke.

Hoje, além de ter a função de manter plantas vivas para estudo, o Jardim Botânico de Manaus e suas trilhas na floresta, ainda contem um acervo antropológico-cultural importante, recebe turistas e grupos de estudantes, e vai cumprindo sua missão científica e de extensão, guardando um incalculável patrimônio da biodiversidade, incentivando o interesse pela preservação da natureza e despertando vocações científicas nos jovens.

E, antes que surja uma apropriação indevida de paternidade dessa importante ideia, registro aqui e no cartório da honestidade intelectual que a ideia foi minha e que os coautores do projeto são, em ordem alfabética: Alfredo Nascimento (Prefeito de Manaus na época) José Israel Vargas (então Ministro da Ciência e Tecnologia) e Dr. Wilson Wolter Filho (pesquisador do Inpa cedido para a Prefeitura de Manaus). O desenvolvimento do projeto é outra história que quem quiser pode e deve contar.

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