*Francisco de Abreu Cavalcante
Quanta alegria da vida
Dada por Deus a gozar
Pelas asas da liberdade
Que me trouxeram pra cá.
II
Queria descansar e não posso,
Levando o tempo a pensar
Que dentro de poucos dias
A viagem vai terminar.
III
Uma janela há tempo fechada
Jamais se deveria abrir
Para não formar feridas
Que não possa resistir,
IV
Mas essa luz é tão forte
Ao adentrar pela janela,
Que nem importaria a morte
Estando junto com ela.
V
Por que sofrer na procela,
Tudo que quero é tão pouco,
Ficar sonhando com ela
Acabo ficando louco
VI
Tempo, ó tempo implacável,
Favor, dizei-me o que fazer
Se continuo assim sonhando
Ou se curto para esquecer?
VII
São tantas lamúrias contidas
Que para casa vou levar,
Abertas saudosas feridas
Que é muito difícil sarar.
VIII
Ó Super-Homem dos ares,
Parai o mundo a girar,
Quietai as águas dos mares
Não deixe as horas passar.
IX
Girar pra trás é o que queria
Com tua força e poder
Até alcançar o primeiro dia
Que a ela fui conhecer,
X
Mas tudo tem seu princípio:
Começo, meio e fim,
Espero com paciência
Um dia voltar pra mim. Abreu.
Aí está mais uma angústia de um Professor “poeta fingidor” como se diz em Portugal (isso é coisa de Fernando Pessoa).
“O poeta é um fingidor,
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente”.