Manaus, 28 de março de 2024

Amazônia, o papel do extrativismo vegetal

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A Amazônia é uma das fontes de inovação para a indústria farmacêutica global. A Rhône-Poulenc Rorer – braço farmacêutico americano da francesa Rhône-Poulenc, que, no Brasil,  controla a Rhodia – acredita nisso e já está pesquisando na região há anos. Em entrevista ao o site Amazônia Legal, de sua sede em Collegeville, na Pensilvânia, o presidente do conselho e principal executivo da companhia, Michel de Rosen, afirmou que experiências com plantas amazônicas estão entre as prioridades de pesquisa da companhia, junto com terapias genéticas”. A companhia está entusiasmada com o sucesso do “p53, o modelo de terapia genética que pode chegar ao mercado ainda este ano para combater vários tipos de câncer, usando a substituição da célula do organismo humano que supervisiona e controla a subdivisão das outras células – e que está inoperante ou desaparecida em mais da metade dos casos de câncer.

Se, de um lado a informação é de alta relevância, suscita, todavia, fortes desconfianças a respeito de que tipo de controle o Brasil exerce ou exercerá a respeito da intensa atividade de pesquisa que certamente vem se processando na Amazônia (eterna fonte de temores dos habitantes desta região) envolvendo produtos da fauna, flora e subsolo sobre os quais o governo brasileiro sequer desconfia, ou, no máximo mantém parcas informações sobre suas funções intrínsecas.

Explorar a Amazônia é tarefa de alta complexidade. Conforme analisamos na coluna da semana passada, a obtenção de taxas mínimas de sucesso requer altos investimentos em ciência, tecnologia e inovação (C,T,&I). O pesquisador Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental, em artigo publicado na revista Opiniões, em 2013, induz à necessidade de manutenção de atitudes cautelosas. Alguns exemplos: “a descoberta da anilina, em 1856, retirou do mercado os corantes naturais, entre os quais o do pau-brasil, já no caminho do seu esgotamento. A invenção do DDT afetou o mercado de inseticidas naturais. Em época recente, a descoberta do Viagra, Cialis e Levitra deve ter afetado o uso de maripuama, catuaba, guaraná e de outras plantas ou de chifres de rinocerontes utilizadas pela medicina popular para corrigir disfunção erétil, dentre outras”.

Para Alfredo Homma, “o extrativismo vegetal consegue se manter quando o mercado é reduzido ou quando inexistem alternativas econômicas para as populações rurais. Mas, à medida que o mercado for ampliando, a oferta extrativa não consegue atender à demanda e, gradativamente, ocorre o colapso dessa atividade”. A humanidade, nesses últimos dez mil anos, salienta, “domesticou mais de três mil plantas e centenas de animais que constituem a base da agricultura mundial, que consegue alimentar mais de 7,4 bilhões de habitantes, o que não seria possível com o extrativismo. A insistência nesse modelo tende a prejudicar os produtores na busca de alternativas econômicas e os consumidores na obtenção de um produto de melhor qualidade a um preço mais reduzido. Esse culto tem sido causa e razão do atraso secular da Amazônia, na crença da sua inesgotabilidade, e apoiado no desenvolvimento baseado na extração dos recursos disponíveis da natureza. Essa tem sido a razão da domesticação ocorrer fora da área de domínio do extrativismo”.

Qual seria, então, a solução para a Amazônia?, argui o pesquisador Alfredo Homma. O mais importante, ao que sustenta, é sairmos “do discurso abstrato da biodiversidade (plantas imaginárias que vão curar câncer, AIDS, etc.) para uma opção concreta, aproveitando a biodiversidade do presente e do passado, onde realmente estão as grandes possibilidades (seringueira, cacau, pau-rosa, castanha-do-pará, bacuri, cupuaçu, etc.) e fazer plantios promovendo uma nova agricultura tropical na Amazônia. Há centenas de plantas medicinais, aromáticas, inseticidas, frutíferas, entre outras, para as quais precisamos estabelecer metas concretas, visando ao seu plantio e à sua verticalização”.

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