Manaus, 19 de março de 2024

Amazônia, cana, castanha e clima

Compartilhe nas redes:

“Existem no Sul do Amazonas aproximadamente 560 mil hectares de campos de cerrados, distribuídos principalmente, nos municípios de Humaitá, Lábrea e Canutama, localizados sobre a Planície Amazônica entre os rios Purus e Madeira. A região não é coberta por campos contínuos, mas por várias unidades isoladas entremeadas por matas, o relevo é próximo do tipo “tabuleiro”, de pequeno desnível, com os bordos ligeiramente abaulados, Braun e Ramos (1959).” Citação de  Gilvan Martins, em sua tese de mestrado na Universidade de Lavras, MG, em 2001, MATAS E CAMPOS NATURAIS DA REGIÃO DE HUMAITÁ (AM): Atributos diferenciais dos solos e implicações do uso e manejo, sobre a existência de mais de meio milhão de hectares no Sul do Amazonas que, por si só, já atenderia a demanda de área para cultivo de espécies com alto valor comercial e geração de uma economia de países ricos. Este é o caso da cana-de-açúcar ou teríamos outras espécies com maior retorno financeiro e agregação de valor na ótica dos serviços ambientais e atendimento das demandas sociais como diz a Agenda 21?

A saga dos Vergueiro

Em Itacoatiara, a 260 km de Manaus, a Fazenda Agropecuária Aruanã, da família Vergueiro, há 40 anos, removeu 10%m de uma gleba de 40 mil hectares, destinando este percentual à pecuária. E logo percebeu que, na mesma área, haveria mais retorno investindo em plantio de espécies nativas como a castanha-do-Brasil, a pupunha, cumaru, copaíba, entre outras. Aconselhado por técnicos de nível PhD, em pesquisa acadêmica e empreendedorismo regional, como Hans Muller, Charles Clement, Cosme Ferreira, Moysés Israel, e Norman Borlaug, agrônomo americano ganhador do Nobel da Paz, por seus projetos de segurança alimentar para a África. Nem cana-de-açúcar nem pecuária. A Fazenda Agropecuária Aruanã, com mais de 2 milhões de árvores plantadas, hoje, é um parque tecnológico de alternativas potenciais para Bioeconomia.

A fusão do boi com o tambaqui

Em Rondônia, os pecuaristas aproveitaram as terras efetivamente degradadas para promover a piscicultura, multiplicando por 44 a produção de proteínas. Enquanto a pecuária kgs/ano produz 500 kgs de proteína por hectare, a piscicultura, na mesma extensão, produz 22 toneladas/ano de proteína piscosa. Sem vacinas nem defensivos, apenas aproveitando um espaço praticamente estéril. De quebra, os resíduos dos peixes agregam valor ao pasto, tornando mais rica a alimentação do gado. A questão não é cana, castanha ou capim. Falta-nos conhecimento, investimento e um poder público capaz de trocar o proibicionismo por formatos de geração de empregos e oportunidades com sustentabilidade. O resto é crime de lesa-pátria.

Direitos de gestão territorial

Do ponto de vista legal, o Código Florestal autoriza o uso de 20% da floresta para geração de emprego, renda e desenvolvimento. Isso equivale, no Amazonas, a mais de 30 milhões de hectares.   Resta saber se plantar cana-de-açúcar, pinhão manso para biodiesel de aviões de caça da Boeing,  grãos de milho, soja ou feijão, qual é a cultura mais viável e justa do ponto de vista do desenvolvimento socioambiental e econômico? Espécies como a castanheira, seringueira, pau-rosa ou mogno, além de rentabilizar muito mais que a pecuária tem o poder de renovação/ampliação dos serviços ambientais, limpar mais carbono e outros gases do efeito estufa que a civilização joga na atmosfera e devolver o oxigênio que ajuda a produzir água e as nuvens que as correntes aéreas levam pra hidratar todo o Continente.

Especialistas messiânicos

Depois das queimadas, que fabricaram muitos especialistas fakes em Amazônia, os guardiões da intocabilidade florestal se atribuem o status messiânicos de salvadores da pátria, indiferentes aos interesses e sobrevivência de quem aqui vive. Além de muito mato, aqui tem bicho homem querendo virar cidadão.  Derrubar a floresta de forma predatória é, sim,  crime de lesa-pátria, mas não tão grave e violento como negar às novas gerações a oportunidade de conquistar a prosperidade sustentável como sabemos fazer, desde que extraímos, por três décadas, o ouro branco da seringueira que o Brasil não soube transformar em economia perene com inovação e produção local de artefatos a partir do látex. Perdemos o bonde do Ciclo da Borracha e o interesse real do país de compreender esta região. Compete, pois, aos nativos saber o que nos convém fazer, produzir, prosperar e se integrar a essa brasilidade destruída pela demagogia eleitoreira.

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques