Manaus, 19 de abril de 2024

A perda da infância

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*Rosely Sayão

Precisamos pensar em formas de amenizar a situação.

O que será que vem ocorrendo com nossos jovens? Vamos a alguns exemplos que ilustram como a saúde mental deles anda no limite. Conforme dados publicados pela imprensa, só na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) foram 22 tentativas de suicídio de estudantes nos últimos cinco anos. Segundo levantamento da Universidade Federal do ABC, dos alunos que trancaram matrícula no ano passado, 11% o fizeram por problemas emocionais. E, recentemente, um vídeo mostrou um estudante de uma universidade privada quebrando peças do mobiliário da sala de aula, por estar bravo com a provável reprovação, que, segundo ele, ocorreria por falta de comunicação com a direção.

Dias de fúria, de depressão, de ansiedade, de extrema pressão, de stress quase insuportável! Na atualidade, os jovens que pretendem seguir uma profissão que exige formação universitária têm passado por maus momentos. A responsabilidade é só das escolas? Certamente não, apesar de elas contribuírem bastante para a construção desse clima. Mas veja o que ocorre com esses jovens universitários.

Elesjá chegam à faculdade estressados, vindos de um ensino médio em que só se fala em vestibular, em futuro, em êxito e/ou fracasso profissional, em mercado, em empregabilidade, essas coisas todas. Durante todo o ciclo, escola e família unem-se para pôr pilha na moçada. Mais do que aquelas que eles já internalizaram.

Já na faculdade, não há tempo sequer para respirar depois da jornada estressante pela qual passaram; logo chegam mais motivos para que o stress se acumule ainda mais. É que, como o desempenho dos estudantes conta para que as instituições de ensino universitário tenham uma boa nota na avaliação do MEC, o alunado sofre pressão para dominar uma enorme quantidade de conteúdos.

Mesmo considerando que os jovens apresentam muitas diferenças entre si – diferenças regionais, familiares, econômicas e outras -, a pressão para os que cursam uma faculdade é muito semelhante. Os que não precisam se preocupar com a questão financeira no presente preocupam-se demasiadamente com ela no futuro; e os que trabalham arduamente no presente para poder arcar com os custos de seu curso não têm outra opção a não ser dar conta de seus estudos – como se o seus dias tivessem mais horas -, tantas são as demandas escolares que recebem.

Pressão da sociedade, da família, da escola, das mídias …a pressão vem de todos os lados. Alguns aguentam o tranco; outros, não. Mesmo para os que aguentam, não sabemos ao certo os custos dessa jornada no futuro deles.

Precisamos pensar em formas de amenizar a situação. Muitas universidades já contam com serviço de apoio psicológico aos estudantes, mas podemos fazer mais. Podemos, por exemplo, fomentar a vida universitária com artes e cultura. Não é só dentro das salas de aula que os estudantes aprendem!

Podemos, em família, acolher mais e melhor os filhos que passam por isso e ouvi-los com atenção e real interesse. E, sempre que se fizer necessário, encaminhá-los para um atendimento especializado antes que a situação se agrave.

*Psicóloga. Artigo na Revista Veja nº 2558, de29/11/2017.

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