Manaus, 19 de abril de 2024

ZFM x Ciclo da borracha

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As transformações sociais e culturais da Zona Franca em Manaus são bastante distintas daquelas que aconteceram durante o ciclo da borracha. 

Enquanto a cidade era a capital mundial da borracha, Manaus rapidamente se consolidou como centro urbano, e desenvolveu os primeiros sistemas de serviços públicos, como eletricidade, distribuição de água e esgotos. Naquele período a cidade teve suas ruas pavimentadas, o seu crescimento planejado, viu crescer o número de hospitais e abriu-se para as influências culturais cosmopolitas.

Criou uma Universidade e construiu uma casa de óperas. É claro que todas aquelas vantagens eram direcionadas aos ricos, àqueles que lucravam com o comércio do látex. No entanto, o desenvolvimento de Manaus durante o ciclo acompanhou o crescimento populacional, sem degradação dos serviços. O oposto ocorreu com a Zona Franca de Manaus. O aceno de 50.000 empregos atraiu uma população de migrantes que nunca mais cessou de aportar em Manaus. A rápida instalação de empresas comerciais, as lojas de artigos importados que pululavam pelo centro histórico da cidade, a chegada de empresas multinacionais no distrito industrial, as firmas de consultoria, os institutos de pesquisas, as novas sucursais de instituições públicas, a horda de turistas em busca de aparelhos eletrônicos baratos e a vaga de migrantes em busca de novas oportunidades, transformou a cidade num inferno. Especialmente porque tal demanda chegava num momento em que a estrutura da cidade estava decadente. Em 1960 a cidade de Manaus ainda conseguia acomodar seus 200 mil habitantes, embora tudo estivesse à beira do colapso. A telecomunicação era impraticáveis, a distribuição de luz e água precária e os prédios públicos estavam quase em ruínas. Em 1984, a cidade continuava com a mesma infraestrutura apodrecida e Manaus começava a inchar, com inúmeras favelas surgindo por todos os lados. O fenômeno do crescimento desordenado de Manaus faz parte dos problemas gerados pelos programas de desenvolvimento postos em práticas pelo governo federal, desde 1964. Um dos problemas óbvios é o aumento da população urbana na Amazônia, configurando uma das maiores fronteiras urbanas do mundo. O censo de 1980 mostrava que metade da população amazônica vivia em cidades. Dez anos depois 58% da população estava urbanizada. Capitais como Manaus, Belém e Porto Velho sofreram declínios de importância regional, na medida que certos aglomerados urbanos espalhados pelo interior se organizaram e estabeleceram ligações diretas com os centros econômicos nacionais e internacionais. Mas as capitais tradicionais da região continuam a desempenhar seu papel local, por sediarem as sucursais das agências federais, controlarem os orçamentos públicos estaduais e manterem as máquinas administrativas e burocráticas. No entanto, enfrentam novos desafios, como as massivas imigrações, criação de favelas e crescimento do setor informal na periferia urbana. A partir dos anos 90 a região assistiu a uma mudança urbana bastante dramática, que foi o declínio da cidade de Belém em relação à Manaus. A cidade de Belém, que representava 43.9% da população regional em 1950, caiu para 23.0% em 1990, enquanto Manaus experimentava uma verdadeira explosão demográfica. A vitória da capital amazonense na velha competição entre as duas cidades foi apenas aparente. Mesmo com todo o capital nacional e internacional chegando em Manaus, a capital do Amazonas saiu perdendo como centro urbano.

 

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