Manaus, 29 de março de 2024

ZFM, reversão de expectativas

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O momento político e a conjuntura econômica brasileira, bem o sabemos, é grave e vêm causando expressivos prejuízos em praticamente todas as esferas da vida nacional.  Década e meia está sendo perdida na somatória dos dois governos petistas de Lula da Silva e Dilma Rousseff. O Brasil amarga posições humilhantes internacionalmente desde o nível educacional, ao padrão do saneamento básico, a investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação, à ambiência de negócios, à confiança no futuro.

Segundo a Carta de Conjuntura/IPEA, dezembro de 2015, no terceiro trimestre do ano passado  o PIB sofreu queda de 1,7% em relação ao trimestre anterior, na série dessazonalizada, e de 4,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, sendo esta a taxa mais negativa em toda a série histórica do IBGE, iniciada em 1996. Foi a sexta retração seguida do PIB, o mais longo período recessivo da história recente do país. Desde que a economia entrou em recessão, no segundo trimestre de 2014, a queda acumulada do PIB já se aproxima de 6,0%, também um recorde dos últimos 20 anos. A inflação, por seu turno, mantém-se pressionada, com o IPCA superando a marca de 10% em doze meses, a taxa mais elevada desde 2003, apresentando evidentes sinais de deterioração das expectativas do mercado para a inflação futura; enquanto o desemprego chegou à casa de 9% (perda de 9 milhões de postos de trabalho em 2015).

A formação bruta de capital fixo (FBCF), prosseguem as análises do IPEA, que é tradicionalmente o item mais volátil e sensível às flutuações da atividade, já acumula queda de 19,3% nos últimos seis trimestres, e, em níveis absolutos, já retornou ao mesmo patamar do final de 2009. A queda acumulada das importações de bens e serviços e da indústria de transformação recuaram, respectivamente, 19% e 14%, sob o forte impacto da substancial desvalorização do câmbio. Ainda de acordo com o IPEA, o consumo das famílias acumula queda de 5,3%, situando-se em um ponto intermediário entre a produção de serviços (-3,4%) e a da indústria (-9,5%), enquanto a ascendente inflação superou 10% em 2015.

A Zona Franca de Manaus (ZFM), diante de tal cenário, não tem como prever alguma melhora para o exercício em curso e mesmo para 2017.  Conjuntura que requer, em primeiro lugar, protagonismo político tendo em vista o encontro de soluções viáveis que possam evitar o desastre maior. Necessário se torna a elaboração de planejamento estratégico que, pragmaticamente, possa indicar soluções sem conotação político-partidária, porque o transtorno conjuntural que se instalou sobre a sociedade transcende a partidos. Entretanto, muitas cabeças privilegiadas fogem do assunto como o diabo da cruz. Despertar tardiamente para a gravidade do quadro é correr o risco, nesse momento, de Inês já estar morta.

Recebi de um atento pesquisador que acompanha minha coluna observações preocupantes sobre a economia da ZFM, antes observando dar a impressão de que meus artigos e de outros analistas engajados com a história de nossa região “vêm pregando no deserto verde”. O fato concreto, segundo afirma, “é que as lideranças políticas locais que espera alcançar com seus alertas estão felizes de serem colonizadas, pois assim não precisam pensar e podem reclamar à vontade do abandono da região”.

Afirma ainda: “esperar ações do governo federal, voltadas a transformar a colônia amazônica em parte do centro desenvolvido, é como ficar à espera de Godot’. Ele nunca vem nem virá. As análises conjunturais pouco ecoam junto ao empresariado local e à Academia, afirma meu correspondente. Muito mais inquietante, além do mais, é o descaso em relação a um “projeto de desenvolvimento já”, salienta, processo que requer, para sua eficácia, “políticos, empresários e uma população bem-educada e crítica em relação à conjuntura brasileira e mundial”.  Eis o nó górdio.

Quem poderá desatá-lo? Quem se habilita a retirar o gonzo do gato? Pobre colônia!

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