Manaus, 19 de abril de 2024

Viagem à Itacoatiara

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Nos dias 18 e 19 recentemente passados fui à Itacoatiara para o lançamento do livro “Itacoatiara, 330 anos” escrito pelo historiador e meu amigo Francisco Gomes de Silva e publicado pela Editora Cultural da Amazônia. A solenidade aconteceu em um Auditório lotado do Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal do Amazonas e tive a honra de fazer parte da mesa que contou ainda com a participação de antigos itacoatiarenses, de autoridades locais e representantes da intelectualidade amazonense como membros da Academia Amazonense de Letras, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, da Academia de Letras Ciências e Artes do Amazonas e da Academia Itacoatirense de Letras.

Hoje vou me deter sobre a Velha Serpa deixando para a próxima semana meus comentários sobre o livro que ainda não tive tempo de ler, embora tenha recebido um entusiástico “briefing” feito pelo autor durante sua palestra, para uma plateia composta principalmente por jovens estudantes.

LEMBRANÇAS

Itacoatiara, evidentemente, não é mais a mesma cidade onde passei minha infância. Pessoas que chegam, pessoas que se mudam ou que se vão para sempre, uma árvore cortada ou morta, casa desmoronada, novos muros, ruas abertas, tudo colabora para mudar o cenário gravado na memória.

Com a mente no passado, caminhei pela Velha Serpa, por lugares que marcaram minha vida, como o descaracterizado sobrado histórico onde moramos, a casa transformada que meu pai construiu, o local onde foi o grupo onde fiz o curso primário, a Matriz de Nossa Senhora do Rosário, onde me batizei e fiz a primeira comunhão. Fui ver e fotografar o lindo prédio onde funcionava a farmácia do Francisco Athayde ao lado da Padaria Bijou do Seu Brandão, casado com a professora Olga. Olhei cheio de tristeza o abandonado terreno onde morava a “vovó” Vigica e minha madrinha Mimi Pereira, que era  responsável pela Estação Meteorológica transferida não sei para onde para dar lugar ao auditório da Fecani.

OUTRAS REMINISCÊNCIAS

Com pesar vi a descaracterização de lugares e prédios históricos como o Bosque em frente à antiga Prefeitura, a casa dos Peixoto, dos Auzier, dos Perales, o sumiço da casa de Araújo Costa e, para agradável surpresa a preservação do prédio dos Ramos e o lar dos Menezes, um dos quais, com um defeito no pé, trabalhava nos Telégrafos e Correio que ela ali na rua da frente, bem próximo à firma Ezagui & Irmaos da qual meu pai era o guarda-livros.

O PRINCIPADO DE ITACOATIARA

Meu pai, entre outras atividades, foi prefeito, criou a primeira biblioteca pública municipal, foi suplente de deputado, um dos fundadores da Associação Comercial e presidente do Botafogo, seu clube do coração onde deixou uma biblioteca com mais de 1.500 livros, todos perdidos para sempre.

Minha mãe foi diretora por cerca de 12 anos do “Grupo Escolar Coronel Cruz”, cujo velho prédio de madeira foi derrubado e substituído na estrutura e na essência por uma Escola Estadual “Coronel Cruz”. Ela foi a primeira presidente da Legião Brasileira de Assistência (LBA) e comandou um projeto de distribuição de alimentos para crianças carentes que culminava com a escolha anual do “Bebê Johnson” escolhido entre as participantes do projeto que apresentava as melhores condições de saúde.

Passei minha infância vendo exemplos dignificantes de trabalho em prol da cidade e hoje, refletindo sobre aqueles tempos, conclui que aquela geração de homens e mulheres cujos nomes não cabem todos nesse espaço, e que lutavam heroicamente por Itacoatiara, era constituída de gente muito especial.

Por essa razão sempre me refiro à Velha Serpa como o Principado de Itacoatiara, não por conta de imaginários títulos nobiliárquicos, mas um Principado tipificado pela nobreza de caráter dos velhos políticos e dirigentes daquela época cuja principal marca é o fato de todos terem morrido pobres. Meu Principado tem seus alicerces no passado embora, no lançamento do livro de Francisco Gomes da Silva, eu tenha vislumbrado a possibilidade de um retorno àqueles tempos, ao ver tantos jovens ouvindo a conferência e buscando um exemplar do livro que conta parte da história daquela histórica cidade que meu pai tanto amou e adotou como sua cidade natal, embora tenha nascido em Manaus.

Fiz um “tour” pela minha cidade da infância e fui conhecer um pouco da expansão urbana e, no Núcleo da UFAM tive a enorme alegria de saber que por traz da preservada casa onde morou Moises Israel, doador do terreno, existe um igarapé onde funciona o banho do Osorio, isto é, onde foi a fazenda de meus pais Osorio Alves da Fonseca e Francisca de Menezes Fonseca.

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