Manaus, 29 de março de 2024

Vergueiro: a castanha e o clima Parte II

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O cultivo extensivo de castanheiras, no lastro dos pioneiros e empreendedores da Amazônia, sinaliza um projeto com rigor econômico – qual é a outra forma de preservar um bem natural? -,  com responsabilidade social, sustentabilidade ambiental e respeito à diversidade cultural. Sobre essas pilastras Sérgio Vergueiro conseguiu mobilizar seus colaboradores  com sinergia prodigiosa. Isto aparece nos gestos de quem exibe com orgulho a façanha do plantio, o cuidado com a floresta, a tecnologia da colheita e do beneficiamento do produto. A construção da riqueza é prazerosa quando atrelada à concretização do sonho, na conjugação plural desta ação. Sonhar, estudar e fazer, com perseverança e disciplina, valorização das pessoas, é uma fórmula antiga, e sempre nova, para assegurar o desafio e a beleza de empreender.

Como o forasteiro que se fez nativo, a exemplo de Cosme Ferreira, mestre e visionário, Vergueiro reprisa a fórmula cearense de viver  empreender no Amazonas, que não se esgotou na especialização e sofisticação da  cultura da castanheira.   Espécies como a pupunha, suas variedades e utilizações, entre outras palmeiras, e 0leaginosas, fazem da Agropecuária Aruanã um laboratório experimental das oportunidades de que fala Cosme Ferreira em  “Amazônia em Novas Dimensões” (1961), escrito enquanto operava a Companhia Nacional de Borracha, Companhia Brasileira de Plantações e a Companhia Brasileira de Guaraná, escolas de empreendedorismo associada à pesquisa e inovação que  influenciaram outros pioneiros como Petronio Pinheiro e Antônio Simões. No prefácio do livro, o amazonólogo  Arthur Reis consegue resumir o sentido das novas dimensões do pioneirismo:  “Não se criou ainda, no Brasil, uma consciência, fora do emotivismo ou do sensacionalismo de romance e de jornal, elaborada com serenidade e com realismo acerca da Amazônia. Temos preferido conhecê-la, quando não nos deixamos dominar pela frase macia, as sentenças euclidianas, pelas mãos dos homens de ciência do estrangeiro, que não se cansam de frequentá-la e de investigá-la com os propósitos de bem servir ao conhecimento humano, mas, também, aos interesses políticos de suas pátrias”. O cultivo extensivo de espécies reacende a questão amazônica, seus desafios de conhecimento e aproveitamento racional, os equívocos de sua ocupação, os mitos criados pelo distanciamento e descompromisso da União com este bioma, que sataniza o manejo inteligente, producente e criativo do bem florestal.

Finda mais uma Conferência da ONU, dessa vez na Amazônia Peruana, um “Chamamento de Lima para a Ação sobre o Clima”, apelando para o altruísmo ambiental dos poluidores, onde os países desenvolvidos terão de apresentar planos para redução de suas emissões de gases-estufa, sem qualquer compensação ambiental para os serviços em favor do clima exercidos pela floresta, ou pela profusão de 2 milhões de castanheiras entre plantadas ou em viveiro para fixar o carbono emitido pelo modelo predatório desta civilização.  A compensação global passa a ser irrelevante na medida em que os acertos do reflorestamento  de espécies tão emblemáticas da flora amazônica passam  a ser entendidos e reconhecidos, localmente, portanto, transformados em paradigmas. É alvissareiro constatar que o projeto do plantio intensivo, que os ingleses adotaram com sucesso em seus domínios tropicais asiáticos com a seringueira, chamou a atenção das entidades da indústria e da agricultura, além da Fucapi, instituição consolidada há mais de três décadas pela novação tecnológica, cujo Departamento de Design Tropical já se debruça no aproveitamento das unidades destinadas a manejo, para produção de movelaria certificada com madeira nobre, confirmando as dimensões grandiosas e promissoras do pioneirismo criativo, climaticamente benfazejo e economicamente sustentável na floresta.

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