É leviano dizer que a Amazônia é responsável pela escassez de água no Sudeste, sem demonstrar ou publicar estudos em revistas que dão rigor e responsabilidade cientifica para afirmações dessa envergadura. Num relatório apressado, “O Futuro Climático da Amazônia”, encomendado pela Articulação Regional Amazônia, rede composta por várias associações sul-americanas, Antônio Nobre, do INPE, tenta explicar as possíveis causas e efeitos da bagunça climática – um fenômeno global e não regional – e cede a tentação de responsabilizar a Amazônia, o mesmo que os cientistas do mundo desenvolvido fizeram na Rio-92, onde a Conferência da ONU, sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, tentou atribuir a supostas queimadas da Amazônia a cota maior do aquecimento global, para encobrir a responsabilidade das emissões dos países centrais. Não colou.
Vergueiro escolheu seguir no contraponto dessa generalização de saberes, cercando-se de cientistas de primeira grandeza, e de experiências consolidadas por estudos aprofundados para seu projeto. Seus produtos, hoje, de tamanha excelência, não conseguem alcançar o mercado externo pela indisponibilidade de oferta, toda consumida na avidez pela qualidade do mercado interno. A cadeia produtiva, do banco de germoplasma à embalagem padronizada por legislação e certificação internacional, tem a genética da determinação, da pesquisa rigorosa e da mobilização do conhecimento tradicional. A cultura local conserva a liturgia centenária do descasque associada aos padrões tecnológicos mais avançados de secagem, desumidificação e segurança sanitária. O resultado mantem a delícia e o excelso glamour da Bertholletia amazônica. Seus gestores são curumins e cunhatãs formados em Agroecologia, pelas universidades nativas, UEA ou UFAM, que interagem com o que há de mais avançado na inovação para produzir alimentos e saídas coerentes com as novas (?) vocações de negócios da Amazônia, economicamente sustentáveis, socialmente adequadas e ambientalmente inteligentes. Uma contribuição robusta de Vergueiro para a falta de bom senso de seus conterrâneos no zelo pela Mata Atlântica e por outras causas da escassez de água e distúrbios do clima. Voltaremos.