Plantei uma semente.
Semente de uma fruta bela e suculenta- manga – rosa !
Eu me deliciara e a compartilhara.
E quando fui plantá-la, a semente escutou o que eu ia fazer, se ressentiu.
Não queria sofrer, não queria morrer, mas aceitou, me ouviu:
“Tua transformação trará muito mais vida.
E além disso, será uma mensagem, uma homenagem
a Belém, esta cidade tão querida”!
Plantei-a em lugar muito pleno de História: Cidade Velha de Belém !
Meu anseio, porém, foi reunir
em uma só mensagem e homenagem
os bairros e arredores da cidade imensa
e o povo de Belém em sua lida intensa.
E ao irrigar a semente, certo dia, mas sem imaginar o que aconteceria,
– e como esqueceria? …
eu escutei, com espanto
Vozes, murmúrios e conversação que saíam da planta que brotara…
vi pessoas andando…
Fechei os olhos: é ilusão do meu inconsciente.
Eu vou deixar em paz esta semente.
Mas na tarde seguinte, nosso sol do Equador
Estava irreverente, resplendente, aumentando o calor.
Eu me compadeci da minha planta, e água lhe levei.
Estava tão crescida, toda cheia de vida,
e piscou pra mim, me agradecendo.
Seus olhos verdes tinham tons diversos,
nuances muito belas :
Seriam verde-água, verde-musgo
ou um verde-esmeralda, verde-folha,ou um verde-criança,
verde-bandeira, verde-mar, verde-floresta,
verde-gaio, até um verde-oliva… ah, sim: verde-esperança !
Algum tempo depois, fui contemplar
minha planta ao luar.
A lua, cintilante, vigilante,
das nuvens emergia…
A minha planta, com o luar, vibrando,
Brincava, farfalhando
ao vento benfazejo da baía.
Alguém chegou-se a mim, nessa hora de encanto,
e me indagou : por que te cansas tanto ?
Já há tanta mangueira ! mais uma, menos uma… e sem necessidade !
Esse serviço é da autoridade.
Mas eu lhe respondi : Amigo meu, amiga, ama a tua cidade!
Dá um pouco de ação, da tua atividade
a toda a Criação. Vê as mangas caindo, alimentando os pobres !
Cuidando da cidade também cuidas de ti!
Desconheces o nome de Belém?- : – Cidade das mangueiras ?
Vê que cresce a cidade em forma desmedida,
e precisa de nós, para ter maior vida.
Nesse momento,
para aumentar o meu encantamento,
as pessoas que eu vira e que ouvira falar
vieram perto de mim – eram tantos e tantas… E como enumerar ?
Formavam uma ciranda e, em grande exultação,
me diziam, bem alto, a sua profissão,
seu dever, sua missão :
Cozinheiras, lavradores,
Cientistas, jornalistas,
Motoristas e doutores,
Religiosos e artistas…
Garis e industriários
Poetas e governantes,
Mendigos , comerciários,
Vigias e estudantes,
Arquitetas, enfermeiras,
Professores e parteiras…
E repetiam em coro alegremente:
Saimos da semente !
Nós fizemos Belém
Nós fazemos Belém !
Nós faremos Belém
com trabalho e ardor
pois lhe temos amor !
E abraçavam a planta, e planta os abraçava…
E enquanto escutava, com atenção, e com muita emoção,
eu ouvi um vagido.
Não, não era um gemido!
Era um pranto ou melhor :era um canto de criança
era a voz de um bebê recém-nascido
e um grito de mãe, de alegria, que parecia um brado,
e o júbilo de um pai emocionado !
A dança da ciranda crescera e se estendera,
e eu compreendi o que acontecera:
o Presente me veio, instantâneo, esperado.
Passado redivivo- Futuro entrelaçado.
Todos se deram as mãos, e felizes, dançamos,
e assim nós cantamos :
Foi Belém que nasceu,
Belém que reviveu !
1º lugar no V Concurso “Cidade de Belém” 2018
da Academia Paraense de Letras – Belém, Pará