Manaus, 19 de abril de 2024

Projeto Amazônico

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Aramando Dias Mendes, um notável pensador amazônico escreveu: “Como Projeto Amazônico entendemos o conjunto de procedimentos de natureza econômica, social, política institucional e suas instrumentações, capazes de conduzirem àquela Invenção, isto é, à construção de uma Nova Amazônia”. O insubstituível brasileiro Paulo Freire postulou “O que não é possível é sequer pensar em transformar o mundo sem sonho, sem utopia, ou sem projeto”.

Usando como referência essas duas reflexões vou tentar escrever dois ou três artigos sobre a viabilidade de um Projeto de Estado amazônico/amazonense, que não seja economicamente bipolar e carregue densos objetivos de justeza social e indispensáveis tons ambientais.

Na semana passada fiz uma viagem superficial sobre a história (bipolar) da economia do Amazonas e talvez tenha faltado dizer que a borracha, em seu fastígio, chegou a representar quase 50% das exportações do Brasil, enquanto o atual e festejado PIM tem uma participação pífia na formação do PIB, tem causado prejuízos na balança comercial e não contribui para a melhoria ampla dos indicadores sociais e ambientais.

A RAIZ.

Usando a terminologia biológica lembro que a economia da Amazônia estava enraizada na sua biodiversidade, num tempo em que não havia uma política científica e tecnológica brasileira para construir um futuro sustentável.

Hoje, não sei qual a posição da Amazônia/Amazonas no “ranking” das publicações indexadas e citações internacionais, mas vejo na mídia um alarde sobre o aumento dos programas de doutorado, sem divulgação do nível desses cursos nas universidades públicas muitas das quais criadas com objetivos politico-eleitoreiros. Existem fortes e mesmo incontestáveis evidências de que o Brasil avança muito na tecnologia da informação, mas para a Amazônia, a prioridade absoluta deveria ser a pesquisa genômica e a biotecnologia, visando o aproveitamento sustentável de nossa biodiversidade.

Pelo que vejo, a abordagem das questões amazônicas é muito superficial e muitas vezes equivocada, parecendo claro que o projeto brasileiro não contempla adequadamente a região com a qual não parece ter muita intimidade, limitando seus planos a um elenco de boas intenções, as mesmas que pavimentam a estrada do inferno.

SEM FRUTOS

O poder central, além de destruir o projeto amazônico esboçado no documento “Política Nacional Integrada para a Amazônia Legal” e no estudo “Agenda Amazônia 21: bases para discussão”, ainda atenta constantemente contra a Zona Franca que, mesmo sendo um projeto sem futuro, é o único que o Amazonas dispõe para os próximos 10 ou 20 anos.

UMA SOCIEDADE DE BIOMASSA.

A falta de preparo intelectual da classe dirigente impede a formação de uma adequada estrutura de pesquisa e disseminação de conhecimento, capaz de dar suporte à construção de polos de bioindústria. O Inpa, o Museu Goeldi e algumas universidades amazônicas têm um significativo acervo de informação, porém não é tarefa de cientistas e pesquisadores, fazer a transferência do balcão de pesquisa para o chão da fábrica.

A estrutura mais adequada para essa dificílima atividade foi encontrada na Secretaria de Coordenação da Amazônia (1995-1998) com a assessoria da inteligência nacional e regional – o Centro de Biotecnologia do Amazonas – que uma absoluta idiotice política (no mau sentido) jogou no abandono. Depois de mais de uma década de desprezo o problema se agravou e o Amazonas não tem qualquer projeto de revitalização correta daquele Centro que é o alicerce de nossa redenção sem sangue. Como o conhecimento de nossa flora, fauna e natureza tem residência fixa no conhecimento tradicional, é preciso valorizar e preservar a cultura dos povos dos ecossistemas.

No passado, um perverso Tratado político (Tordesilhas) dividiu a região separando os interesses regionais e hoje um insano marco político (neotordesilhano) causa novo distanciamento entre os objetivos dos Estados. A única solução é elaborar um Programa de Desenvolvimento Estadual (não de crescimento econômico apenas) cientificamente ajustado, com os olhos nas gentes, os pés no solo amazonense e o cérebro na biodiversidade. O Estado não pode agir como ONG.

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