Manaus, 28 de março de 2024

Praça do Congresso (da Saúde)

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Reformada pelo governo do Estado, a Praça do Congresso foi reaberta com Papai Noel, árvore de Natal, presépio, foguetório e muita gente. Resolvi escrever este texto porque minha vida pessoal está fortemente ligada a esta Praça, não só por hoje morar em frente à ela, mas principalmente por ter passado parte de minha adolescência como membro da turma da Praça da Saúde, também conhecida como Praça do Congresso e Praça do IEA. Vivi cada pedacinho daquele lugar privilegiado no alto da Eduardo Ribeiro que, na época, era emoldurado pela mansão dos Miranda Correa, pelo prédio da Saúde, pelo Ideal Clube pelo Instituto Benjamim Constant (lindíssima e escondida construção) e, claro, pelo Instituto de Educação do Amazonas. Naquele tempo, ao final da tarde, nos reuníamos para ver a saída dos alunos e professores que iam andando para suas casas que não eram distantes como hoje, nessa Manaus que inchou sem desenvolver e que tem muito mais gente, embora tenha ficado menos humana.

As duas turmas
Naquele pedaço de Manaus havia duas turmas que se destacavam na cidade: a turma do Ideal Clube e a turma da Praça da Saúde. Embora com status sociais diferentes, nunca houve rivalidade entre os dois grupos e alguns membros até frequentavam os dois grupos.

A turma do ideal
As pessoas que faziam parte do grupo idealino pertenciam ao high society. Entre os homens lembro bem do Arnaldo Paredes, Carlito Rocha, Chiquinho Reis, Fernando Andrade, Maurilio Vale, Rubens Benzecry e, entre as mulheres, as “musas” Marisa Arnaud (linda), as irmãs Messody, Mary e Nora Sabbá (a última foi Miss Amazonas), Rosa Montenegro (comandava a parte social do clube), Ruth Costa Novo (craque do vôlei do Rio Negro e muito bonita), entre outros e outras.

O Ideal fazia festas glamorosas nos salões de cima ou na boate Moranguinho, no térreo, ao som de orquestras locais ou do piano de Mozart Tavares e cantores “barés” também acompanhados pelo violão competente do Domingos. O som, claro, se espalhava pela Praça para deleite do “sereno”.

A turma da Praça
A maioria dos membros da turma da Praça não tinha nível econômico para frequentar o Ideal, embora do grupo fizessem parte filhos de famílias tradicionais, algumas abastadas.

Registro, com muita saudade, o nome dos amigos de muitos anos: os irmãos Aderbal e Rochinha (moravam onde hoje é uma funerária na Monsenhor Coutinho) Aloisio Oseas Pinto (entrou para o Exército), Antônio Bentes Barroso (Tonico o único canhoto da turma), o Armando Frota (parente do político Vivaldo Frota), Carlos Loureiro (família rica), Cirilo e José Alberto Neves (parentes do ex-governador Pudico), Djalma Melo (hoje na Sudam), Gustavo Barbosa (hoje empresário), Hamilton (parente do poeta Aníbal Beça), Hylace Miranda Braga (médico), os irmãos Ivan (Vanzito) e Ilter Oliveira (Tereco), Jander e Gilson Cabral dos Anjos, Jorge Andrade (entrou para o Exército), José Augusto Roque da Cunha (sobrinho do Djalma Batista), Leone Carvalho (entrou para a Marinha e era filho do ex-governador Júlio de Carvalho Filho), Mario Antônio (foi ser desenhista da Editora Globo), Mirandinha (“La Miranda” um gay bom de porrada), Ozorio Fonseca (ex-Diretor do Inpa), os irmãos Sinval e Sidney Gadelha (o pai era militar e professor de Educação Física), o Waldemar (gerente das lojas Irapuã) e alguns agregados eventuais como o Rodolfo, o Russo, o Simon Sabbá e o Stanley (ruivo e sardento). O grande xodó da turma era o Guarani (camisas azuis), nosso “time” de futebol que mantinha enorme rivalidade com o Tamandaré de Orsine (treinou no Botafogo do Rio), Marcus (goleiro do Nacional), Dadá, os irmãos Clemente e Lídio, o Eduardo (um centro avante negro alto e de um braço só), o Lacinha (jogou no Nacional), craques que nos impuseram derrotas humilhantes. Nossos treinos eram em um campo minúsculo entre o IEA e o Benjamim Constant e os jogos no Estádio General Osório.

Na semana passada a Praça do Congresso, da Saúde ou do IEA foi reaberta ao público e, apesar das festas, do foguetório, do discurso, da imprensa, da enorme quantidade de dinheiro gasto, ela nunca mais será a mesma. Faltam na paisagem alguns elementos físicos (palacete dos Miranda Correa e o prédio da Saúde) e elementos humanos, esses últimos substituídos por uma “galera” que se destrói nas drogas e que, depois da retirada da árvore de Natal, do presépio e dos guardas, vai destruir o local, pois seu presente e seu futuro nunca serão sequer similares ao dos antigos membros da turma da Praça da Saúde.

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